“Tem nome de rio esta cidade/ onde brincam os rios de esconder/ cidade feita de montanha/ em casamento indissolúvel com o mar.” (Carlos Drummond de Andrade)
O rio Carioca da cidade do Rio de Janeiro tem uma bela e triste história. Este rio foi o primeiro provedor de água potável da cidade (a bela história), mas em 1905 se deu o início de sua canalização (a triste história). Foi na gestão de Francisco Pereira Passos (1902- 1906) que a cidade mudou de cara. Foi o período da reformulação urbana da capital, incluindo o alargamento de ruas, construção de grandes avenidas, canalizações de rios entre outras medidas urbanas e sanitárias. Um período do bota-abaixo ambiental. Os rios começaram, de maneira forçada, a se esconderem. O rio Carioca da águas cristalinas, nas nascentes da Floresta da Tijuca, se tornou num rio quasi-morto em sua foz, na praia do Flamengo.
Sobre o rio
Rio Carioca 1 - Carioca era um rio, de Simplicio Neto: excelente documentário disponível aqui.
Rio Carioca 2 - Uma revisão
Sobre o pequeno Rio Carioca que deu nome aos nativos do Rio de Janeiro, e que por muitos anos foi a principal fonte de água potável para os primeiros navegantes que aqui chegaram assim como principal fonte de abastecimento da cidade.
O Rio Carioca foi a mais antiga e primeira fonte de água potável para o Rio de Janeiro
Nos dias de hoje, em 2011, talvez poucas pessoas se lembrem ou saibam algo sobre o Rio Carioca, e talvez nem saibam que o termo "Carioca" que distingue orgulhosamente os nativos da cidade do Rio de Janeiro, tem suas origens nas águas de um Rio.
Alguns livros citam que o nome Carioca dado ao Rio vem de uma casa construída em pedra, na foz deste Rio, junto ao mar. Os índios Tamoios, habitantes do local que futuramente seria a cidade do Rio de Janeiro, chamavam a casa de pedra de "casa homem do branco" que em língua dos Tamoios seria "Carioca" (kari’oka).
Mas nem sempre foi assim. O Rio Carioca já foi o Rio mais conhecido e talvez o mais importante do Rio de Janeiro, pois foi o primeiro provedor de água potável para quem chegou ao Rio, e também porque durante anos abastecia os mais importantes chafarizes da cidade, desde os tempos coloniais.
A controversa origem do nome dado ao Rio Carioca
Em contrapartida, existem outras traduções, onde "Carioca" significaria "casa da corrente do mato" ou "casa do acari" entre outras hipóteses. O termo tido por estudiosos e autores como controverso, alguns consideram um verdadeiro enigma etimológico. E difícilmente chega-se à uma conclusão deifinitva ou única.
Em contrapartida, existem outras traduções, onde "Carioca" significaria "casa da corrente do mato" ou "casa do acari" entre outras hipóteses. O termo tido por estudiosos e autores como controverso, alguns consideram um verdadeiro enigma etimológico. E difícilmente chega-se à uma conclusão deifinitva ou única.
Águas Puras e Cristalinas
Deixando de lado as incertezas que cercam o nome, vamos passar às certezas que o Rio dava à quem desfrutava de suas águas. As águas do Rio eram límpidas, cristalinas e o mais importante, potável. Estas certezes, constatadas ao olhos e paladar dos que viam o Rio, certamente fizeram com que o local da foz do Rio fosse escollhido para a construção da casa, misto de lenda, e misto de certeza, um dia foi importante até para demarcação de terras doadas, quando da fundação da cidade.
O local onde existiu a Casa de Pedra que ficava perto da foz do Rio, era chamado de "aguada dos marinheiros", pois era naquele local que os homens do mar, vindos de terra distante, abasteciam seus navios. Posteriormente a água foi canalizada para os moradores do Morro do Castelo e áreas adjascentes, quando então a cidade nascia e crecia. O Morro do Castelo situava-se na atual esplanada do Castelo, uma ampla área tornada plana, onde um dia existiu o morro, e muitas construções que vinham dos tempos da fundação da cidade. No local, nos dias de hoje existem os edifícios do MEC, o edifício do Ministério da Fazenda e do Trabalho e muitos outros construídos após o arrasamento daquele morro.
Nascentes, Caminhos, Vertentes e Delta do Rio Carioca
O Rio Carioca possui várias nascentes na Serra do Carioca, onde vários pequenos riachos convergem para formar um outro pequeno rio, que desce pelo antigo Vale das Laranjeiras, descendo a atual Rua Cosme Velho e Rua das Laranjeiras.
Em tempos remotos, um dos ramos do Rio chegava pelo "Catete" que significa "Mato denso e fechado", passava e formava uma lagoa onde hoje existe o Largo do Machado, e depois circundava o Morro da Glória, até lançar-se na ao mar.
Outro ramo do Rio seguia pelas ruas Conde de Baependi e Barão do Flamengo. Anexa à junção das duas ruas, exite a atual Praça José de Alencar. Estes dois ramos do Rio formavam a Ilha da Carioca, ou seja, o delta do Rio Carioca.
Antiga Ponte e Pedágio
Sobre o ramal que descia e atravessava a atual Praça José de Alencar, um dia existiu uma ponte chamada Ponte do Salema, que dava continuação ao caminho que levava à Botafogo e à Cidade Velha (antiga parte da Urca, vide Morro Cara de Cão).
O nome da ponte vem de seu construtor, o então Governador António Salema. Para atravessar a ponte, era cobrado pedágio. Portanto, fica aqui anotado que esta prática não é nova, e vem de tempos muito remotos.
A Ilha da Carioca
Não se deve confundir o Delta do Rio Carioca que existia onde hoje é a Praça José de Alencar, com outro local chamado de Ilha da Carioca. A Cidade Velha, onde Estácio de Sá fez os primeiros assentamentos no Morro Cara de Cão, na Urca, era também chamada de Ilha da Carioca.
O nome Ilha decorre do fato de que, em tempos remotos, o mar entrava pela Praia Vermelha e se comunicava com Botafogo, provavelmente em maré alta ou talvez banhando um raso canal entre as montanhas.
Ou seja, na prática existia uma faixa de mar ou canal entre o Morro da Urca e o Morro da Babilônia.
Dados sobre o Rio Carioca e seu trajeto
O Rio Carioca tem sua grande importância nos primórdios e até no final do século 20 por ter sido o principal provedor de água para os marinheiros e návios, assim como para os primeiros assentamentos e também fornecimento de água para os principais chafarizes da cidade, como o antigo Chafariz do Largo da Carioca.
Portanto fica aqui registrado que, sua importância estratégica e histórica, transcende em muito sua extensão física, já que não é um Rio de grandes proporções, tendo um comprimento entre 4300 e 4500 metros, sendo formado apenas por pequenos riachos afluentes.
O volume de água do Rio também não é grande em situações normais, mas era o suficiente a então crescente Cidade do Rio de Janeiro.
O rio nasce acima das Paineiras, onde ficava o antigo Hotel das Paineiras, na Serra da Carioca. Suas águas são captadas através de um reservatório da Rua do Aqueduto, perto do Silvestre, e a seguir descem pelo antigo "vale da laranjeiras", ou seja, pelo Cosme Velho, e continua a descer hoje, canalizado pela Rua das Laranjeiras e outras, até à praia do Flamengo.
Segundo um morador de Laranjeiras, quando chove muito e o volume de águas aumenta, o Rio estoura algum bueiro ou até o asfalto e suas águas jorram rua afora. Quem sabe não é "alma" do Rio que revoltada por ter sido desprezado e jogado por baixo da terra, se revolta e volta e meia lembra aos moradores daquele local que suas águas continuam a correr resistindo heroicamente pela cidade.
Na altura do Cosme Velho, o Rio Carioca recebe dois pequenos afluentes, pelo lado direito o riacho Lagoínha e pela lado esquerdo o Silvestre, na altura de uma rua chamada ladeira do Ascurra.
Rio Carioca 3 - A vida e a morte do Rio Carioca
(...) Hoje em dia as nascentes do rio Carioca ainda estão preservadas, no Parque Nacional da Floresta da Tijuca. Mas logo depois do parque, o rio atravessa diversas áreas ainda hoje sem saneamento, com muitos assentamentos irregulares até o Cosme Velho. Depois percorre submerso em galerias, escondendo sua poluição e morte dos cariocas na maior parte do curso. Já não deságua na Baía da Guanabara, correndo morto por um desvio numa galeria a céu aberto até a praia do Flamengo.
Matéria Globo Ecologia sobre Rio Carioca com Leila do Flamengo - vídeo
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