sábado, 19 de abril de 2025

Bezerra da Silva, os compositores, os morros e favelas

Como o morro não tem direito a defesa, só tem direito a ouvir, como ele vai fazer? Então o que fazem os compositores do morro? Eles dizem cantando aquilo que querem dizer falando. E eu sou o porta-voz. (Bezerra da Silva)

Este texto tem como fonte primária o filme/documentário Bezerra da Silva - Onde a Coruja Dorme (2012) de Simplício Neto e Márcia Derraik disponível aqui
Num contexto geral, como escrevi sobre o Rio Carioca aqui o Rio de Janeiro, no século XX sofreu um bota-abaixo ambiental. Não existe capitalismo sem bota-abaixo ambiental. Já a trajetória de Bezerra da Silva foi contaminada pela luta de classes.

Veja esta trajetória pelas suas músicas. Uma boa discografia delas pode ser encontrada aqui 

Outra fonte sobre Bezerra está no livro Bezerra da Silva, Produto do Morro, Letícia C.R. Vianna, Zahar, 1998.

1. Bezerra da Silva 

José Bezerra da Silva (Recife, 23 de fevereiro de 1927 — Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2005), foi um cantor, compositor e músico brasileiro dos gêneros musicais coco e samba, em especial de partido-alto.
No princípio, dedicava-se principalmente ao coco até se transformar em um dos principais expoentes do samba nos anos seguintes. Através do samba, cantou os problemas sociais das favelas e da população marginalizada, atuando ente marginalidade e indústria musical. Estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da Rede Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.
Gravou seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro disco em 1975, de um total de 28 álbuns lançados em toda a carreira que, somados, venderam mais de 3 milhões de cópias. Ganhou 11 discos de ouro, 3 de platina e 1 de platina duplo. Apesar de ter sido um dos artistas mais populares do Brasil, foi bastante ignorado pelo mainstream.
Uma prova disso é que ele só tocou no Canecão, uma das mais tradicionais casa de espetáculos do país, em 1996, depois de duas décadas de uma carreira de consecutivos sucessos.

Primeiros anos

Filho de família pobre, Bezerra da Silva nasceu no Recife em 23 de fevereiro de 1927. Sua mãe, Hercília Pereira da Silva, foi abandonada pelo marido, Alexandrino Bezerra da Silva, quando estava grávida do filho. Aos 15 anos de idade, depois de ser expulso da Marinha Mercante, Bezerra da Silva viajou para o Rio de Janeiro, para procurar o pai e fugir da pobreza. Fez a viagem em um navio que carregava açúcar e estava apenas com a roupa do corpo. Encontrou o pai, mas com mais atritos, acabou ficando sozinho.
Passou a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra na zona central da cidade, onde exercia sua profissão. Pelos idos de 1949, começou a se enamorar de uma "dona" e foi morar com ela no Morro do Cantagalo, na Zona Sul.

Boemia, detenções e queda

Começou a desenvolver a verve musical, a partir do coco de Jackson do Pandeiro, e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo, tocando tamborim. Em 1950, conheceu Doca, também morador do Morro do Cantagalo, que o convidou para participar do "Programa da Rádio Clube do Brasil" como ritmista — além do tamborim, tocava surdo e instrumentos de percussão em geral. Boêmio e malandro, foi detido dezenas de vezes pela polícia e acabou desempregado em 1954. Durante muitos anos viveu como morador de rua em Copacabana, quando chegou a tentar o suicídio, mas foi salvo e acolhido em um terreiro de umbanda. Lá, descobriu sua mediunidade e soube, através de uma mãe-de-santo, que o seu destino era a música.

Renascimento com a música

Convencido de que não deveria mais procurar trabalho no ramo da construção civil, reinventou sua vida como músico profissional e compositor.
Sob o nome artístico José Bezerra, teve as composições "Acorrentado" e "Leva teu gereré", em parceria com Jackson do Pandeiro, lançadas no primeiro álbum da carreira do paraibano, em 1959. Na primeira metade da década de 1960, ingressou na orquestra da gravadora Copacabana Discos, que acompanhava vários artistas de renome, e também teve novas composições, assinadas com outros músicos, gravadas por Jackson do Pandeiro, como "Meu veneno" (com Jackson do Pandeiro e Mergulhão), "Urubu molhado" (com Rosil Cavalcanti), "Babá" (com Mamão e Ricardo Valente), "Criando cobra" (com Big Ben e Odelandes Rodrigues) e "Preguiçoso" (com Jackson do Pandeiro). Em 1965, a cantora Marlene gravou "Nunca mais", uma parceria de Bezerra com Norival Reis.
Em 1967, compôs seu primeiro samba, chamado "Verdadeiro amor", que foi gravado por Jackson do Pandeiro naquele ano.

Primeiros discos

No final daquela década, mudou o nome artístico para Bezerra da Silva e, em 1969, gravou um compacto simples pela Copacabana Discos, com as músicas "Mana, cadê meu boi?" e "Viola testemunha".
Seu primeiro LP,"Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 1", seria apenas lançado em 1975, pela gravadora Tapecar, e teve como destaque a canção "O rei do coco". No ano seguinte, pela mesma gravadora, lançou "Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 2", cujo maior destaque foi "Cara de boi".

Fama

A partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar o público. O repertório dos discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra. Antes do Hip Hop brasileiro, ele passou a mostrar a sua realidade em músicas como: "Malandragem Dá um Tempo", "Sequestraram Minha Sogra", "Defunto Caguete", "Bicho Feroz", "Overdose de Cocada", "Malandro Não Vacila", "Meu Pirão Primeiro", "Lugar Macabro", "Piranha", "Pai Véio 171", "Candidato Caô Caô". Em 1995 gravou pela gravadora CID "Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró: Os Três Malandros In Concert", uma paródia ao show dos três tenores, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.

Anos finais

Em 2001 tornou-se evangélico neopentecostal da Igreja Universal do Reino de Deus. Em 2005, perto da morte, mas ainda demonstrando plena atividade, participou de composições com Planet Hemp, O Rappa e outros nomes de prestígio da Música Popular Brasileira.
Em setembro de 2004, foi internado em uma clínica privada do Rio de Janeiro com pneumonia e enfisema pulmonar e chegou a ficar por quase uma semana em coma. Um mês depois, o sambista passou mal novamente. Foi levado ao Hospital dos Servidores do Estado, onde foi internado com problemas pulmonares e faleceu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos.
Ainda naquele ano, teve lançado postumamente seu disco evangélico Caminho de Luz.

A injustiçada carreira de Bezerra da Silva!

 2. Compositores

Tão Miranda 

Pedro Butina 

Pinga aqui aqui2

1000Tinho 

Baez 

Dunga da Coroa

Adelzonilton aqui aqui2 aqui3 aqui4 

Walmir da Purificação 

Roxinho 

Dario Augusto aqui aqui2 aqui3 

Luiz Grande 

Nilson Reza Forte 

Nilo Dias 

Moacyr Bombeiro aqui aqui2 aqui3 aqui4

Darci do pandeiro 

Gil de Carvalho

Moacyr Bombeiro aqui aqui2 aqui3 aqui4

Darci do pandeiro

Simões PQD 

Barbeirinho do Jacarezinho 

Claudinho Inspiração aqui aqui2 aqui3

Ouros compositores

Popular P

Edson Show 

Dunga da Coroa 

Walter Meninão 

Jô Poeta 

Tito da Silva 

Celsinho da Barra Funda 

Naval 

Beto Pernada 

Nei Alberto 

Romildo 

Franco Teixeira 

Juarez Boca do Mato 

Felipão 

Carlinhos Russo 

Zezinho do Valle

Compositores: cantando aquilo que querem dizer falando

O compositor era Policial 

A Partida de Adezonilton 

Bezerra da Silva chegando na Baixada 

Lembrança dos Bambas do Bezerra da Silva 

Favela do Bezerra e o compositor Nilo Dias 

Choro do compositor de Bezerra da Silva 

Pinga e o primeiro samba para Bezerra 

Bezerra da Silva e o duplo sentido no Samba 

A semente do Bezerra era do Pepino? 

Lembrando Beto Sem Braço 

Partido Alto para o Mosquito 

O quintal da coruja aonde tudo começou 

Admirando o Partideiro Indigesto 

Quando surge o verdadeiro canalha 

Acabou a miséria do compositor 

Encontro de compositores 

Censuraram o samba do Bezerra da Silva 

Bezerra da Silva no Centro Espirita 

Bezerra da Silva era respeitado 

Meu bom Juiz para o Escadinha 

Os compositores que partiram 

No terreiro da casa de Moacyr Bombeiro 

Roxinho, parcerias e novidades no samba 

A história de Moacyr Bombeiro 

A história de se não fosse o samba 

A história do Bezerra da Silva 

Malandro Coisé 

A semente e a Sogra de Bezerra da Silva 

Autorização para o Meu Bom Juiz 

Nilo Dias, Pinga e Pedro Botina 

Nilo Dias sobe o morro 

Luiz Grande - Samba para Bezerra da Silva 

Bezerra da Silva não teve coragem de gravar? 

Rochinhoe Claudinho Inspiração 

Veneno do galo falado em samba de bezerra da silva em 1991. Nilo Dias
 

Músicas do filme Onde a coruja dorme (2012)

Se não fosse o samba, Carlinhos Russo e Zezinho do Valle 

É o bicho é o bicho, Simões PQD e Adezonilton

Malandro demais vira bicho, Nilo Dias e Bezerra da Silva 

A semente, Roxinho, Felipão, Walmir da Purificação e Tião Miranda 

Desabafo do Juarez da Boca do Mato, Juarez da Boca do Mato 

Partideiro sem nó na garganta, Adelzonilton, Franco Teixeira e Nilo Dias

Vida de operário, Edson Show, Nei Alberto e Romildo 

Na hora da dura, Beto Pernada e Simões PQD

Minha sogra parece sapatão, Tião Miranda, 1000Tinho e Roxinho 

Compositores de verdade, Edson Show, Naval e Romildo 

Povo da Colina, Roxinho, Tião Miranda e Valmir da Purificação 

Terreiro de safado, Gil de Carvalho, Tito da Silva e Jô Poeta 

Cambono Vacilão (Vovó pediu Moscatel) Nilson Reza Forte

Candidato Caô Caô, Walter Meninão e Pedro Butina 

Vovô cantou pra subir, Adelino da Chatuba e Edson Show

Quem usa antena é televisão, Celsinho da Barra Funda e Pingo 

Passa o rodo nele, Nilson Reza Forte 

Bicho feroz, Claudio Inspiração e Tonho Magrinho 

Vai pagar caro Informante, Baez, Dunga do Coroa e Pinga 

Malandragem dá um tempo Adelzonilton, Popular P. e Moacyr Bombeiro


3. Morros e favelas

Aqueles Morros (Pedro Butina e Bezerra Da Silva) 

Antes aqueles morros não tinham nomes
Foi pra lá o elemento homem
Fazendo barraco, batuque e festinha
Nasceu Mangueira, Salgueiro, São Carlos e Cachoeirinha

Andaraí, Caixa d'água, Congonha, Alemão e Borel
O Morro do Macaco, em Vila Isabel
Matriz, Tuití e Cruzeiro, Querosene, Urubu
Jacarezinho, Turano, Sossego e o Morro Azul

É, mas no mesmo embalo
Nasceu Cantagalo, Pavão-Pavãozinho
O Morro da Guarda e Macedo Sobrinho
Tabajara, Providência, Santa Marta e Serrinha
Morro do Pinto, Sampaio, Dendê e a querida Rocinha

Ainda tem o Morro do Castro
E o Buraco do Boi, como tem boa gente
Atalaia, Martins, Morro do Oriente
Holofote e Papagaio, todos do outro lado
Areia Grossa, Cavalão, São Lourenço e o Morro do Estado

É, veja bem que nasceu também
Sacopã, Catacumba e o Vidigal
Morro da Favela, por trás da Central
Eu sou muito bem chegado neles, não posso negar
Gosto de todos, mas o Cantagalo é que é meu lugar

Mas antes
Antes aqueles morros não tinham nomes
Foi pra lá o elemento homem
Fazendo barraco, batuque e festinha
Nasceu Mangueira, Salgueiro, São Carlos e Cachoeirinha

Andaraí, Caixa d'água, Congonha, Alemão e Borel
O Morro do Macaco, em Vila Isabel
Matriz, Tuití e Cruzeiro, Querosene, Urubu
Jacarezinho, Turano, Sossego e o Morro Azul

É, mas no mesmo embalo
Nasceu Cantagalo, Pavão-Pavãozinho
O Morro da Guarda e Macedo Sobrinho
Tabajara, Providência, Santa Marta e Serrinha
Morro do Pinto, Sampaio, Dendê e a querida Rocinha

Saudação às favelas, Pedro Butina e Sérgio Fernandes 

Voltei pra falar das favelas que eu não falei
Hoje provo e comprovo que não esqueci de vocês
Voltei pra falar das favelas que eu não falei (falei)
Hoje provo e comprovo que não esqueci de vocês (certo)

Morro do juramento, Jorge turco, Babilônia e Adeus
Cabrito, Fuba, Morro Agudo e Cidade de Deus
Lagartixa, Coroa, Formiga e Laboriaux
Favela do Acari, Timotio da Costa e o Morro do Amor

A querida cruzada São Sebastião
Antiga Praia do Pinto que deu o Adílio um grande campeão
Diz de novo pra mim
A querida cruzada São sebastião
Antiga Praia do Pinto que deu o Adílio um grande campeão
E daí eu voltei

Voltei pra falar das favelas que eu não falei (falei)
Hoje provo e comprovo que não esqueci de vocês

Morro do Cajueiro, Boca do Mato e Serra Coral
Nova Holanda, Engenho da Rainha e o famoso Curral
Favela da Guarda, Manguinhos, Varginha e Rato Molhado
Vila Aliança e Bangú, representando o Pasmado

A Cidade Alta que é pra lá de Bom
Parque Proletário da Gávea e o saudoso Parque do Leblon
Diz outra vez assim
A Cidade Alta que é pra lá de Bom
Parque Proletário da Gávea e o saudoso Parque do Leblon
E por isso eu voltei

Voltei pra falar das favelas que eu não falei (falei)
Hoje provo e comprovo que não esqueci de vocês

Morro da Maravilha, Abacaxi, Alvoroço e Sabão
Na Garganta nasceu Viradouro, o pentacampeão
Brasilia, Torre, Urubu e Coréia na famosa Engenhoca
Ordem e Progresso em São Paulo e a Saudosa Maloca

Sei que sou considerado em qualquer bocada
Peço descupa a vocês, mas não troco meu Morro do Galo por nada
Diz de novo pra mim
Sei que sou considerado em qualquer bocada
Peço descupa a vocês, mas não troco meu Morro do Galo por nada

Eu sei que sou considerado em qualquer bocada
Peço descupa a vocês, mas não troco meu Morro do Galo por nada
Pode dizer assim
Sei que sou considerado em qualquer bocada
Peço descupa a vocês, mas não troco meu Morro do Galo por nada
Vou dizer outra vez

Olha que eu sei que sou considerado em qualquer bocada
Peço desculpa a vocês, mas não troco meu Morro do Galo por nada
 

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