quinta-feira, 17 de abril de 2025

Carioca era um rio - parte 2

 

Lavadeiras do Rio das Laranjeiras 1826 - Debret Acervo Museu do Açude

Um dia vi numa foto da internet que fizeram uma pracinha na beira de um rio no Japão onde o passatempo das pessoas era sentar num banquinho e botar o pé no rio. (Felipe Varanda)

Seguindo o que já publiquei aqui neste blog, vamos a mais considerações e análises sobre o Rio Carioca. A referência é o seminal documentário Carioca era um rio de Simplício Neto (2013).

Participaram deste documentário as seguintes pessoas:

André Urani
Gilmar Machado de Almeida
Nireu Cavalcanti
Ana Lucia Brito
Lucia Maria Costa
Paulo Canedo
Mário Moscatelli
Regina Tângari
Felipe Varanda 

As principais cidades brasileiras, historicamente, são um bota-abaixo ambiental. Rio de Janeiro não é diferente. Até o fim do século dezenove o Rio Carioca era o principal provedor de água potável da cidade. Pereira Passos, na primeira década do século vinte, deu início ao bota-abaixo ambiental. 

Fonte: doc Carioca era um rio

O Rio Carioca segue o caminho: Floresta de Tijuca (nascente) - Santa Teresa - Guararapes - Cosme Velho - Laranjeiras - Flamengo (foz) - Baia da Guanabara.

Em 1750 surge o Aqueduto da Carioca (Arcos da Lapa). Até então o aqueduto servia como distribuidor de água potável. A partir de 1905 o Rio Carioca foi entubado do Cosme Velho até a foz. Rio Carioca subterrâneo. Aos poucos se escondendo embaixo das ruas e se transformando em escoadouro para esgoto se tornando fétido e poluído. Hoje o rio desagua no mar como uma latrina. O Rio Carioca é a metáfora da ocupação desenfreada, da especulação imobiliária. Não existe capitalismo sem bota-abaixo ambiental.

Devido a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, fizeram uma maquiagem na foz do Rio Carioca. Desviaram o desague e construiram uma estação de tratamento. Vamos tratar a água antes dela ir para o mar. Resolveu? Nada. Foi como tratar o efeito sem corrigir a causa.

O que fazer?

Renaturalização do rio

De fato vamos encontrar exemplos na Coreia do Sul e na China de rios que eram cobertos e foram abertos e os que eram pavimentados foram renaturalizados. No Brasil, infelizmente, mesmo com uma legislação ambiental sofisticada a mentalidade não mudou. Quando falamos em tratar o rio não é que por que achamos o rio lindo. Não tenho uma visão romântica sobre a paisagem. Não acho que o rio tem que ser renaturalizado para ficar bonito. Não é beleza que me atrai. Mas sei que se aquele rio for renaturalizado ou tratado terá menos doença na população. Todo mundo gosta do verde. Eu quero o verde como consciência. Infelizmente, o comum é: ao fundo quero ver o morro, mas aqui na minha casa quero tudo pavimentado, de preferência com cerâmica, sem árvores para não cair folhas. (Regina Tangari)

Consideração final

Eu não sou responsável diz um. Eu não sou responsável diz outro. E quem é responsável pela trágica estação de tratamento na foz do Rio Carioca no Flamengo? Um coro de anacrônicos feito de siglas SERLA, CEDAE, FEEMA, INEA, RIO DAS ÁGUAS dirá: é você cidadão ou cidadã. Você é covarde. (do documentário "Carioca era um rio", de Simplício Neto (2013))

Tem saída? Sim. Mas não passa por prefeito, governador ou presidente. Que estão nem aí para desastre do Rio Carioca. Passa pela organização social e mobilização em defesa de um SOS RIO CARIOCA.

 




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