sábado, 2 de março de 2024

Hiroshima: Vinícius não perdoou

Sobrevivente da bomba de Hiroshima comemora centenário em escola de São Paulo

Takashi Morita foi homenageado por alunos de unidade batizada com seu nome na zona sul da cidade

Francisco Lima Neto, FSP, 1º de março de 2024

Takashi Morita, sobrevivente da bomba atômica de Hiroshima, jogada sobre a cidade japonesa em 6 de agosto de 1945, completa cem anos neste sábado (2) e foi homenageado, nesta sexta-feira (1º), em evento na Etec Santo Amaro, que em 2019 foi batizada com seu nome.

A professora Ana Lúcia Calaça, diretora da unidade de ensino técnico, diz que desde 2019 o sobrevivente faz questão de comemorar seu aniversário com os alunos. "Este ano, por completar o centenário, nós ficamos ainda mais motivados a fazer essa comemoração", diz.

Morador em São Paulo desde 1956, Takashi Morita foi homenageado nesta sexta-feira por estudantes da Etec Santo Amaro, batizada em sua homenagem - Divulgação/Assessoria Centro Paula Souza

Os estudantes prepararam uma programação com apresentação teatral, musical, e com dança em homenagem ao centenário. Ele, que vive em São Paulo desde 1956, estava acompanhado de familiares e outros dois sobreviventes da bomba nuclear. Ele recebeu flores, bolo e outros presentes dos alunos.

Por meio da filha, segundo a diretora, o sobrevivente afirmou que estava muito feliz e emocionado por estar mais um ano com os alunos e os professores pelos quais tem tanto carinho.

Takashi Morita, sobrevivente de Hiroshima, completa cem anos no sábado (2) - Divulgação/Assessoria Centro Paula Souza

A diretora afirmou que o contato direto dos alunos com uma pessoa como Takashi é fundamental para a formação. "Na figura do sr. Takashi, os alunos têm a representação de uma pessoa que luta pela paz, uma pessoa perseverante, que sempre acredita e que sempre vai procurar trabalhar pelo que ele acredita. Nada melhor para o corpo discente. Eles precisam de pessoas que mostram um legado tão lindo como o do sr. Takashi, de lutar pela paz, não alimentar o ódio, são pontos importantes no desenvolvimento do nosso corpo discente", afirma Calaça.

Em depoimento à Folha, em 2020, Takashi Morita afirmou que para derrotar a guerra "é preciso o perdão, além do amor" [1] . Contudo, afirmou ser importante não esquecer o passado.

"Não posso esquecer esses acontecimentos. Esquecer é também enterrar a história da primeira vez que a bomba de destruição em massa foi utilizada contra a humanidade. É permitir que, um dia, alguém com supostas boas intenções — como os norte-americanos, que tomaram essa atitude drástica para pôr fim à guerra — possam repetir esse feito", afirmou à ocasião.

No Brasil, Takashi fundou, em 1984, a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que inclui também as vítimas da segunda bomba atômica, lançada em Nagasaki, em 9 de agosto. O grupo chegou a reunir 270 vítimas no Brasil.

O centro de convenções em Hiroshima, com seu famoso domo, após a explosão da primeira bomba atômica - Toshio Kawamoto/Yoshio Kawamoto/Reuters

Secos & Molhados - Rosa de Hiroshima (Letra Oficial) 

[1] Vinícius não perdoou

Rosa de Hiroshima, Vinicius de Moraes

Pensem nas crianças

Mudas, telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas


Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas


Mas, oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida


A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa, sem nada

A Rosa de Hiroshima é um poema escrito pelo cantor e compositor Vinicius de Moraes. Recebeu esse nome como um protesto sobre as explosões de bombas atômicas ocorridas na cidade de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial. Criada em 1946, a composição foi primeiro publicada no livro Antologia Poética. Mais tarde, em 1973, os versos foram musicados e ganharam corpo na voz do grupo Secos e Molhados. Rebeca Fuks 



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