Treze (confirma)
Repetir assunto é um tema constante na minha vida
Tati Bernardi, FSP, 14/07/2022
Na maior parte dos lugares em que eu trabalho, é educado não declarar voto. Por isso selecionei aqui 13 assuntos que nada têm a ver com política.
O pedido (para que eu não declare meu voto no Lula) vem em forma de um email simpaticão ou até durante uma conversa informal, almoçando com alguém que poderia me demitir ou me dar um aumento. (Não gosto de chamar essa pessoa de chefe, porque trabalho de casa e a única pessoa que entra aqui o dia todo pra me dar broncas é a minha filha.)
Meu analista pessoal, que vai votar no Lula, minha antiga analista de casal, que vai votar no Lula, e a analista da minha filha, que vai votar no Lula, deixam sempre muito claro que é nocivo para o desenvolvimento de uma criança que ela mande na progenitora (e que essa mãe não vote no Lula). O máximo que eu consigo fazer com essa informação é dizer a esse serzinho (gigantesco, que tanto venero), cheia de medo, talvez ajoelhada, com seis presentes em cada braço: "Quer um abraço?".
Mas vamos ao terceiro assunto: fazendo uma tomografia pós-Covid, descobri um tumor no esterno. O médico pareceu preocupado e pediu pra investigarmos se era "agressivo". As pessoas não falam "câncer", e eu entendo. Resolvi então chamar a pior hipótese de "Bolsonaro", e foram cinco dias numa expectativa terrível, com medo de que a ressonância desse Bolsonaro no primeiro turno. Mas ontem descobri que era Lula na cabeça.
Vocês sabiam que, no mundo inteiro, existem canais de internet e programas de TV só sobre espinhas sendo espremidas? Que tesão bizarro é esse? Seria a espinha um pequenino pênis que ejacula após a manipulação? Não acredito que a predileção por pus diga se alguém é sociopata, mas votar no Bolsonaro, sim.
Meu namorado quer que eu fique seis horas dentro de um carro. Eu pergunto se não tem um lugar mais perto. Ele responde que está procurando um lugar mais longe, que o ideal mesmo seria ficarmos 15 horas dentro de um carro. Ele ama viajar —sobretudo quando demora pra chegar. Eu sou do tipo que escolhe apartamento pela distância em relação a uma boa farmácia, de preferência uma que entregue remédios pra enxaqueca em casa. Mas combinamos de ir escutando o podcast "Mano a Mano", e eu topei. Aliás, as entrevistas do Mano Brown com a Sueli Carneiro, o Sidarta, o Henrique Vieira, a Djamila Ribeiro e o Lula são as melhores coisas do ano todinho. E aqui já foram seis assuntos em um parágrafo só. E todos votam em Lula no primeiro turno.
Há mais de dez anos, meu pai foi demitido do trabalho, sem justa causa, e jamais recebeu a rescisão. Ele procurou um advogado que o defendesse. O advogado ofereceu R$ 15 mil para que ele "assinasse um documento passando todo o valor a ser recebido para o advogado, uma vez que esse dinheiro demoraria demais pra sair e meu pai já tinha idade". O "doutor" quis comprar do meu pai os direitos por 20 anos de trabalho. E isso é crime? Aparentemente, não. Tem cada coisa neste país, meu amigo. Adivinha em quem o advogado vota?
Recentemente uma pessoa me xingou no Twitter porque fiz uma crônica dizendo que simpatizo com o ayurveda. Sou obrigada a dizer, com todo o respeito, que essa pessoa deveria desconfiar é da quantidade de toxina botulínica que sua dermatologista prescreve. Com gente preferindo arma a livro, podiam me deixar em paz se quero pingar cúrcuma no nariz.
E agora minha filha entrou aqui querendo minha atenção. Só me resta obedecer —até porque ela está usando um boné vermelho com estrela. Repetir assunto é um tema constante na minha vida. Por exemplo: voto no mesmo partido há quase 30 anos.
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