Barbosa; Augusto e
Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Este
foi o time da seleção brasileira de futebol vice-campeã em 1950. Na final
realizada no Maracanã, em 16 de julho de 1950, perdemos para o Uruguai por 2x1.
O Uruguai de Máspoli; Matías Gonzalez e Tejera; Gambetta, Obdulio Varela e
Rodríguez Andrade; Ghiggia, Julio Perez, Miguez, Schiaffino e Morán. Ghiggia
(falecido, aos 88 anos, em 17 de julho de 2015) marcou o gol de desempate aos
34 minutos de segundo tempo e sacramentou a derrota. Uma tragédia presenciada
por 173.850 presentes ao Maracanã. Uma decepção nacional apenas superada pelo
vergonhoso 7x1 para a Alemanha em 2014.
Boca do lixo
A Boca do Lixo foi um
polo cinematográfico importante no centro da cidade de São Paulo. O cinema
independente nacional teve seu auge nas décadas de 1960, 70 e 80. Nesta época a
região das ruas Triunfo, Aurora e Vitória respirava cinema. No início, as
chanchadas; no auge, pornochanchadas, faroestes e cinema marginal e na
decadência, pornô-eróticos. Além da chanchada e pornochanchada são da época na
Boca, dentre outros os filmes: O bandido
da luz vermelha – 1968 de Rogério Sganzerla, A margem – 1967 de Ozualdo Candeias e Lilian M: relatório confidencial - 1975 de Carlos Reichenbach. Os
filmes famosos do Zé do Caixão (José Mojica Marins) foram produzidos por lá.
Para o crítico e diretor de
cinema Alfredo Sternheim “a Boca foi muito estigmatizada e eu,
pessoalmente, levei muita pedrada ao longo dos anos. Para mim, no entanto, o
saldo é positivo. A Boca mostrou que é possível fazer cinema no Brasil com
diversidade de temas e autofinanciamento, sem leis de renúncia fiscal. Sabíamos
economizar tudo e fazer os recursos renderem o máximo. Vale lembrar que saiu da
Boca O pagador de promessas (1962)
de Anselmo Duarte, único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em
Cannes. Também são de lá outros filmes brasileiros importantes, como Independência
ou morte (1972) de Carlos Coimbra e A moreninha (1970) de Glauco Mirko Laurelli”.
[1]
Magnífica 70
A série da HBO exibida
atualmente tem como pano de fundo a Boca do Lixo. A personagem central é um
censor de filmes na época da ditadura militar. Vicente (Marcos Winter), o
censor, de tanto ver filmes se torna um cinéfilo e se mete a dar palpite nos
filmes em que lhe é designado. No primeiro episodio ele ameaça a proibição
total do filme “A devassa da estudante” que tem como personagem central a atriz
Dora (Simone Spoladore). Atraído pela atriz, Vicente propõe ao produtor Manolo
(Adriano Garib) uma alternativa ao veto total do filme: rodar um novo final
para o filme. Nela a personagem tem que se arrepender de seus pecados. Fica mais ou menos assim:
Quando
viva, pequei. Me deitei com homens e mulheres. Usei meu corpo para sobreviver.
Tive orgulho disso. Errei, admito e aprendi. Todos erram um dia por descuido,
inocência ou maldade. Assumo os meus erros e passarei a eternidade vivendo com
eles. E ao fazer isto observo algo que me faz lembrar de ti.
Vicente dirigiu a cena final
modificada e o filme foi liberado pela censura.
Esta Noite Encarnarei
no Teu Cadáver
A parte final do 1º episódio de Magnífica 70 foi claramente
baseada no que ocorreu com a liberação pela censura do filme Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver –
1967 de José Mojica Marins - https://www.youtube.com/watch?v=xKE3lfwMb1Y.
O chefe da censura em Brasília proibiu o filme. O produtor implorou pela liberação. O censor impôs uma condição: o Zé do Caixão deveria no final falar como se estivesse arrependido pelas maldades feitas durante a estória. O censor escreveu o que deveria ser dito:
Deus, Deus... Sim, Deus é a verdade...
Eu creio em tua força... Salvai-me!
A cruz, a cruz, padre...
A cruz, o símbolo do filho!
Eu creio em tua força... Salvai-me!
A cruz, a cruz, padre...
A cruz, o símbolo do filho!
E
assim ficou e até hoje o filme tem este final [2]. Desconheço uma versão do
diretor.
E
quem era este censor que adulterou o filme Esta Noite Encarnarei
no Teu Cadáver? Augusto
da Costa (1920-2004), o Augusto, zagueiro e capitão da seleção brasileira no
final da Copa de 1950.
Coisas do Brasil, brasileiro.
Referências
1. http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2015/05/24/internas_viver,577974/o-ambiente-da-boca-do-lixo-era-familia.shtml 20/07/2015.
2. Maldito: a vida e o cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, André Barcinski, Ivan Finotti, Editora 34, 1998
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