Olho pro meu corpo / Sinto a lava escorrer / Vejo o próprio fogo / Não a força para deter
Me derreto tonta / Toda pele vai arder / O meu peito em chamas / Solta a fera pra correr
Unhas cravadas / Em transe latejo / Roupas jogadas no chão / Pernas abertas / Te prendo num beijo / Sufoco a sofreguidão
Meu temporal me transforma em loba / Presa, você vai gemer / Feito um cordeiro entregue pra morte / Seu sussurrar a pedir
Pra fuder! Pra fuder! Pra fuder!
Esta é a letra da música Pra fuder de Kiko Dinucci, do último CD de Elza Soares "A mulher do fim do mundo", Natura Musical, 2015.
Elza não sossega.
Caminha para além do samba e bossa nova. Namora o modernismo paulistano e, não à toa, o disco inicia, a capela, com Coração do mar poema de Oswald de Andrade musicado por José Miguel Wisnik. E tome samba, afro-beat, rock, rap, punk-samba, eletrônico, distorções e dissonâncias. Tem sexo, morte, drogas, negritude e violência doméstica dentre outros temas.
Elza bota pra fuder.
A ficha do disco:
01. Coração do Mar (Poema de Oswald de Andrade musicado por José Miguel Wisnik)
02. Mulher do Fim do Mundo (Romulo Fróes / Alice Coutinho)
03. Maria da Vila Matilde (Douglas Germano)
04. Luz Vermelha (Kiko Dinucci / Clima)
05. Pra Fuder (Kiko Dinucci)
06. Benedita (Celso Sim / Pepê Mata Machado / Joana Barossi / Fernanda Diamant) Part. Celso Sim
07. Firmeza?! (Rodrigo Campos) Part. Rodrigo Campos
08. Dança (Cacá Machado / Romulo Fróes) Part. Romulo Fróes
09. O Canal (Rodrigo Campos)
10. Solto (Marcel Cabral / Clima)
11. Comigo (Romulo Fróes / Alberto Tassinari)
Ficha Técnica: Produção Musical: Guilherme Kastrup
Fotos: Alexandre Eça
Um Projeto Natura Musical
Elza é de 1937 para algumas fontes. Para outras, 1930. Casou, obrigada pelo pai, aos 12 anos e ficou viúva aos 21. Com quatro filhos e uma filha.
Nos seus 78 (ou 85) anos Elza comeu o pão que o diabo amassou.
Em 2007 assisti a um show de Elza num galpão portuário em Vitória (ES). Galpão lotado e agitação total durante 2 horas de espetáculo. Quase o fim do mundo!
A Mulher do Fim do Mundo é uma corda esticada sobre um precipício por onde caminha tensa e decidida. Aos declarados 78 anos de idade, com a dor das costas operadas limitando seus passos e o desespero da recente perda de um filho ainda tomando o peito, Elza, mais do que cantar, precisa do grito. (1)
Eu sou, eu vou / até o fim / cantar.
(1) http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,elza-soares-lanca-seu-primeiro-album-de-ineditas-desafiada-por-um-novo-conceito,1772047 em 07/12/2015