Meu problema são os homens. Digo que não cairei, mas então ouço violões suaves sob as estrelas. Tento a sorte outra vez.
Ofélia disse essa pérola para Oscar numa praça de Roda D’Água, bairro de Cariacica.
Mas a danada estava representando.
E o texto não era dela. Deve ter visto várias vezes o filme Madrugada da traição (The naked dawn) de Edgar G. Ulmer, 1955. É de lá que tirou que seu problema eram os homens até ouvir violões suaves. No filme o texto é de uma música cantada por Charlita, atriz e cantora.
E não sabemos o quanto de verdade existe nos violões suaves. Mas pergunte para Ofélia o que é verdade. Vai responder assim: não sei!
Orson Welles já disse que somos todos atores neste mundo. Conversar é representar. O homem como animal social é um ator. Tudo o que fazemos envolve uma espécie de representação. Já li declarações de diretores, atores e atrizes de cinema em que se surpreendem com a atuação de atores e atrizes não profissionais. Confirmam Orson.
Ofélia é professora profissional do ensino médio. Uma atividade que representamos. Sala de aula seria um palco? Para Ofélia, sim.
Da confissão de Ofélia à nossa estória.
Ela estava, no momento, recém-saída do terceiro casamento de quatro anos.
Às vezes acordo do longo sono e volto-me com docilidade para o delicado abismo da desordem.
Oscar pensou com ele mesmo: representando de novo Ofélia? Além de cinéfilo ele conhecia tudo de Clarice Lispector e o abismo da desordem está na crônica Legião estrangeira. Ele é professor de literatura.
Pelo visto os dois são contaminados pelo cinema e Clarice.
Essa contaminação foi o suficiente para rolar um clima de sedução entre Ofélia e Oscar. Sai violões suaves entre as estrelas e no lugar entra cinema e Clarice.
Depois de um tempo resolveram juntar os cacos. Vejam o que Oscar disse a Ofélia uma semana antes de decidirem pelos cacos comuns.
Se você quisesse a lua eu tentaria pegá-la, mas prefiro que aceite o meu coração.
Oscar não é de muito representar, mas esta declaração de amor é do filme Ao mestre com carinho (To Sir with love) de James Clavell, 1967. Da música com o mesmo título do filme interpretada por Lulu, cantora e atriz.
Ofélia e Oscar moram numa casa que fica no sopé de um morro em Roda D’Agua.
Ofélia continua representando, mas há algum tempo não ouve violões suaves.
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