Welcome to the jungle
Pergunta: Cadê a Rosa?
Resposta: Tá na 25 do 19.
Praia de Camburi, Vitória, ES. Lá pelos idos de 1990.
Tradução de na 25 do 19: a barraca 25 do Chico, o 19. O apelido vem dos 19 dedos no corpo, não tinha um dedo do pé.
E quem fez a pergunta? Ana Júlia.
A praia de Camburi a noite, nesta época, era bem diferente de hoje.
Hoje é um cemitério.
Quem viveu, viu. Era festa, feira, folia e território livre. E as vezes um rabo de arraia entre bêbados ou bêbadas.
Nesse ambiente conviviam todas as classes sociais. Pedreiro, médico, advogado, bancário, vendedor, traficante, estudante, professor e as minas da pista. Tudo misturado, juntos, curtindo a noite com cerveja, conhaque Dreher, caipirinha, peixe frito, camarão, peroá, frango a passarinho, aipim frito etc.
O Dezenove era o cara que sabia de tudo o que se passava. Contava algumas, outras não. E ele sabia porque não. Sobre a Rosa sabia... e me contou.
Rosa
Rosa, uma mulher da pista que era linda de morrer. Meio esquentada, mas sedutora. Seletiva em relação a clientes. Não ficava com qualquer um. Tinha requisitos. Conversava bastante, gostava de conhaque e às vezes cheirava uma coca da boa. Mas tudo sob controle já que tinha dois filhos ainda crianças e trabalhava durante o dia como auxiliar de limpeza num supermercado. Requisito 1: no geral saia da pista no máximo às três da madrugada porque tinha trampo às 8 da matina. Requisito 2: no fim de semana ficava por conta da família e dos filhos. Quando na pista os meninos ficavam com a irmã. Rosa era separada do pai dos filhos.
Na pista, Rosa, ganhava um extra e curtia a vida. Tinha um custo: sono curto de segunda a sexta, mas repunha nos finais de semana.
Dias normais até Rosa encontrar Claudio. Conheceram-se e rolou um quê entre os dois. Requisito 3: não se envolver com alguém.
Mas, no caso a razão e o controle foram para o espaço.
Antes uma vez por semana, depois duas e logo, exclusividade. Rosa ficava apenas com Claudio a noite toda e ele a deixava em casa. Aí a mistura fatal. Claudio conheceu os filhos de Rosa e saiam juntos alguns fim de semana.
Após seis meses desta mistura o ponto final.
Porque está falando isto, amor? Temos a maior tesão entre nós. Tenho prazer contigo na cama e fora dela. Meus filhos adoram você, disse Rosa depois que Claudio disparou a declaração final.
A carne não é fraca, Rosa, a carne é triste, infelizmente, disse Claudio.
Claudio era casado, com filhos e a situação ficara insuportável para ele.
Rosa nunca mais viu Claudio.
Ana Julia
Ana Julia, uma mulher da pista linda de viver. Juntas Rosa e Ana tinham perfis parecidos. Separadas dos pais dos filhos e eram mães. Ana tinha duas filhas, uma criança e outra adolescente. Mães que trabalhavam durante o dia e a noite caiam na pista.
Eram amigas e confidentes. Ana ajudou muito Rosa durante sua rebordosa pós separação. Fizeram loucuras na praia de Camburi. Beberam, cheiraram, participaram de brigas, fizeram programas juntas e muito mais. Eram carne e osso, tampa e balaio.
O inevitável
Um acontecimento clareou o que estava embaçado. Ana Julia foi divinamente cantada por outra mulher. Saíram para um motel e na volta encontraram uma Rosa possessa de raiva. Deu BO. Sim, com delegacia e tudo a que se tem direito. Tudo por conta de um ciúme ancestral que Rosa tinha de Ana.
O clarear: estavam apaixonadas e aí quando acontece dá-se um chute bem dado na razão.
Depois de um tempo
Percebi que Rosa e Ana não estavam na praia. Perguntei ao 19 onde estavam. Saíram da pista casadas e viviam com filhos e filhas em Carapina, Serra, ES. Tinham um armazém / bar movimentado o suficiente para bem sobrevirem. Às vezes apareciam na 25, mas só para curtirem a madrugada.
Puta que pariu, como sou apaixonada por Ana Julia.
Foi a declaração final que o 19 ouviu de Rosa na última visita à ainda viva praia de Camburi.
NB: o título destas mal traçadas linhas é uma homenagem à Rogéria
https://blogdobarcinski.blogosfera.uol.com.br/2017/09/04/adeus-rogeria/
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