quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Terra inacabada 4: a agonia do rio Madeira
Cayahuari Yacu, the jungle Indians call this country, the land where God did not finish creation. They believe only after man has disappeared will He return to finish His work. (do filme Fitzcarraldo)
A questão do complexo hidrelétrico do rio Madeira continua dando muito pano para manga. Com a cheia de março de 2014 veio à tona os problemas de um planejamento incompetente para não dizer irresponsável.
A modesta contribuição sobre o tema neste blog está em
http://librinas.blogspot.com.br/2011/11/terra-inacabada.html. (Terra inacabada 1)
http://librinas.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html (Terra inacabada 2)
http://librinas.blogspot.com.br/2014_03_01_archive.html (Terra inacabada 3)
Neste último texto, já pós-enchente de 2014, é apresentado uma análise de Telma Monteiro, ativista ambiental, pesquisadora independente, especializada em análises de processos de licenciamento ambiental de hidrelétricas na Amazônia. Nele a autora finaliza: "No Brasil, para conceber e construir projetos como os do Rio Madeira ou Belo Monte, não é preciso ter conhecimento técnico apenas, tem que saber enganar bem, fornecer dados inconsistentes. Saber manipular informações, números, valores, desconstruir laudos de especialistas internacionais, estatísticas, convencer autoridades e, principalmente, bancar muitas campanhas eleitorais. Se fosse possível conceder um prêmio de manipulação ele seria dividido entre os idealizadores do projeto Madeira e o governo Lula".
Recentemente foram apresentadas novas análises dos efeitos da cheia de 2014 no rio Madeira. Vejam o documentário: Entre a cheia e o vazio: A cheia histórica do Rio Madeira em 2014 e seus nexos com as UHEs Santo Antônio e Jirau
http://www.youtube.com/watch?v=IFEputOFFqQ&feature=youtu.be 13/11/2014
Direção: Lou-Ann Kleppa
Realização: Mapeamento Social como Instrumento de Gestão Territorial contra o Desmatamento e a Devastação – Núcleo Rondônia e Universidade Federal de Rondônia – UNIR.
Apoio: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – UEA. Roteiro: Luis Fernando Novoa Garzon.
Segundo Garzon "O documentário Entre a Cheia e o Vazio é um recorte de uma batalha de sentidos em torno dos efeitos de larga escala produzidos pelas Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, o afluente mais caudaloso do Amazonas. Batalha que se intensificou com a chamada "cheia histórica" de 2014, ampliada pela retenção de água nos dois reservatórios, e que prossegue nesse exato momento em que estudos preliminares indicam que os elevados níveis de assoreamento do rio podem resultar, em 2015, numa cheia de proporções similares, ainda que com menor volume de precipitações. As consequências do duplo barramento (e que pretende ser triplo com o aproveitamento da Cachoeira de Ribeirão - Guajará Mirim) de um rio com tamanha descarga sólida, em períodos muito concentrados de tempo, só estão sendo avaliadas a posteriori e muito limitadamente. Além de expropriarem o rio e seus usos sociais, procuram expropriar a capacidade de percepção e inteligibilidade do território recriado". [1]
O rio modificado pelas barragens é mostrado na figura abaixo [2].
A região do Médio e Alto Madeira e seus tributários vai se convertendo em um corredor de exportação (inter-regional a princípio) de energia enquanto commodity; a gerar lotes de energia pré-negociados, cotados no "mercado livre" de energia que norteia, ponta-cabeça, o "mercado regulado" que deveria servir à nação. Nesse quadro de privatização crescente de todos os setores de infraestrutura, as concessões elétricas trazem embutidas cessões territoriais, para as quais concorrem outros setores com uso intensivo de recursos naturais, como a mineração e o agronegócio. Nesse reembaralhamento das posses e das jurisdições, os desastres técnico-ambientais sempre serão apresentados como "naturais" e "inevitáveis".[1]
E a responsabilização dos estragos feitos pela cheia? O governo do estado de Rondônia e representantes das UHE falam em desastre natural. Claro que não dizem do desconhecimento da bacia e dos efeitos da cadeia de lagos em que se tornou o rio. E não se cogita na existência de falhas.
Pode-se notar, nas falas cruzadas dos gerentes das duas usinas, o desconcerto deles elidindo ou transferindo "erros" de uma para outra. A acoplagem dos depoimentos desses dirigentes que tiveram a vazão do rio sob seu controle durante a cheia foi equivalente a uma acareação recheada de atos falhos.[1]
E agora? Será que agora vão conhecer o rio e providenciar estudos de impactos ambientais depois do que já está feito?
E a quem serve a energia elétrica produzida no Brasil? Segundo Célio Bermann (USP) a grande demanda por energia elétrica no país são definidas por seis setores industriais: cimento, siderúrgia (aço), metais não ferrosos (alumínio), ferro-ligas, papel celulose e petroquímica. É para isto que a energia produzida pelo rio Madeira já está chegando ao sudeste do país.
E aos milhares de desabrigados? E a devastação ambiental? Uma banana para eles.
Referências
[1] http://www.altinomachado.com.br/2014/11/documentario-mostra-danos-causados-no.html 11/11 2014
[2] http://resistir.info/brasil/rebeliao_amazonia.html 13/11/2014
[3] http://cptrondonia.blogspot.com.br/2013/02/insistem-na-usina-de-ribeirao-em.html 10/11/2014
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
A ditadura não acabou
Deu no Terra http://www.terra.com.br/ 05 de novembro de 2014
Débora Melo, direto de São Paulo
Mães de Maio:
negro e pobre já vivem sob intervenção militar
"Nós temos que mostrar que a ditadura não acabou. Ela só vai acabar quando a gente desmilitarizar a polícia. Esse nome ‘militar’ está presente 24 horas na nossa periferia", disse Débora Maria da Silva, 54 anos, coordenadora do movimento Mães de Maio, durante debate sobre a ditadura militar (1964-1985) no Brasil, nesta quarta-feira, em São Paulo.
Aos manifestantes que no último sábado pediram "intervenção militar" em um ato pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Débora dirigiu poucas palavras. "Esse pessoal precisa reconhecer que os pobres e os negros são vítimas da ditadura continuada. A ditadura não acabou. Esse passado está muito presente para nós", afirmou à reportagem.
O Mães de Maio é um movimento formado por 17 mães de mortos e desaparecidos nos confrontos que ficaram conhecidos como "crimes de maio", ocorridos em 2006. De acordo com entidades de direitos humanos como o Tortura Nunca Mais, os crimes foram uma resposta de grupos de extermínio - com a participação de PMs - aos ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que resultaram na morte de 43 agentes públicos. Em represália, ao menos 493 pessoas foram assassinadas, sendo que a grande maioria das vítimas era de jovens negros, moradores das periferias.
"Nós não aceitamos que tenhamos um País dividido, onde os negros e os nordestinos têm de ser separados da elite, de uma minoria da classe racista que temos em nosso País. Nós não temos um País igualitário", disse Débora. O depoimento da ativista foi dado em painel do Congresso Internacional Memória: Alicerce da Justiça de Transição e dos Direitos Humanos, realizado desde domingo no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca) para debater a importância da memória no processo de transição da ditadura para a democracia.
Falsa democracia
Para Débora, o que temos hoje no Brasil é uma "falsa democracia". "Precisamos exigir de nossos políticos verdadeiras políticas sociais. Não à redução da maioridade penal, não ao encarceramento em massa, que são respostas quando não podem tratar do problema. Eles jogam o problema para nós, mas o problema não somos nós: o problema é o sistema corrupto que existe no nosso País. A corrupção é a mazela que mata e que encarcera. Nós temos que lutar", afirmou a ativista.
Os "crimes de maio" foram arquivados sem que muitos casos fossem esclarecidos. Além disso, a primeira condenação de policial militar envolvido nos episódios ocorreu somente em julho de 2014: o PM Alexandre André Pereira Silva foi condenado a 36 anos de prisão em regime fechado pela morte de três homens em um lava-rápido na zona norte de São Paulo.
"Nós exigimos, e o País tem que dar uma resposta. Foi um massacre (...). Os crimes de maio foram arquivados. É falta de eficiência por parte da Segurança Pública, mas nós também temos a certeza de que é difícil polícia investigar polícia", afirmou Débora. "É difícil. Eu posso sair e ser executada. Mas eu não tenho medo da bala. As Mães de Maio não têm medo, porque se tivessem não estariam na luta. Nosso medo era perder nossos filhos, e nós perdemos", continuou a ativista.
Débora Melo, direto de São Paulo
Mães de Maio:
negro e pobre já vivem sob intervenção militar
A ativista Débora Maria da Silva, coordenadora do
movimento Mães de Maio durante evento na PUC-SP
Foto: Débora Melo / Terra
Aos manifestantes que no último sábado pediram "intervenção militar" em um ato pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Débora dirigiu poucas palavras. "Esse pessoal precisa reconhecer que os pobres e os negros são vítimas da ditadura continuada. A ditadura não acabou. Esse passado está muito presente para nós", afirmou à reportagem.
O Mães de Maio é um movimento formado por 17 mães de mortos e desaparecidos nos confrontos que ficaram conhecidos como "crimes de maio", ocorridos em 2006. De acordo com entidades de direitos humanos como o Tortura Nunca Mais, os crimes foram uma resposta de grupos de extermínio - com a participação de PMs - aos ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que resultaram na morte de 43 agentes públicos. Em represália, ao menos 493 pessoas foram assassinadas, sendo que a grande maioria das vítimas era de jovens negros, moradores das periferias.
"Nós não aceitamos que tenhamos um País dividido, onde os negros e os nordestinos têm de ser separados da elite, de uma minoria da classe racista que temos em nosso País. Nós não temos um País igualitário", disse Débora. O depoimento da ativista foi dado em painel do Congresso Internacional Memória: Alicerce da Justiça de Transição e dos Direitos Humanos, realizado desde domingo no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca) para debater a importância da memória no processo de transição da ditadura para a democracia.
Falsa democracia
Para Débora, o que temos hoje no Brasil é uma "falsa democracia". "Precisamos exigir de nossos políticos verdadeiras políticas sociais. Não à redução da maioridade penal, não ao encarceramento em massa, que são respostas quando não podem tratar do problema. Eles jogam o problema para nós, mas o problema não somos nós: o problema é o sistema corrupto que existe no nosso País. A corrupção é a mazela que mata e que encarcera. Nós temos que lutar", afirmou a ativista.
Os "crimes de maio" foram arquivados sem que muitos casos fossem esclarecidos. Além disso, a primeira condenação de policial militar envolvido nos episódios ocorreu somente em julho de 2014: o PM Alexandre André Pereira Silva foi condenado a 36 anos de prisão em regime fechado pela morte de três homens em um lava-rápido na zona norte de São Paulo.
"Nós exigimos, e o País tem que dar uma resposta. Foi um massacre (...). Os crimes de maio foram arquivados. É falta de eficiência por parte da Segurança Pública, mas nós também temos a certeza de que é difícil polícia investigar polícia", afirmou Débora. "É difícil. Eu posso sair e ser executada. Mas eu não tenho medo da bala. As Mães de Maio não têm medo, porque se tivessem não estariam na luta. Nosso medo era perder nossos filhos, e nós perdemos", continuou a ativista.
domingo, 2 de novembro de 2014
Lobo Solitário
Vítima de uma conspiração do clã Yagyu o samurai Itto Ogami, executor oficial do Xogum, tem a esposa assassinada e cai em desgraça, acusado de traição. A o lado do filho Daigoro Ogami sai em busca da vingança tornando o mercenário Lobo Solitário. Itto Ogami (com o seu conhecimento de esgrima suio), agora como ronin, segue a trilha do assassino na estrada do inferno.
Ogami: Daigoro, você deve escolher uma trilha para si mesmo. Se escolher o temari (bola) você irá se unir à sua mãe que nos aguarda em Yomi, a terra dos espíritos. Se escolher a espada juntos nós percorreremos a trilha do assassino.Daigoro, ainda engatinhando, escolhe a espada.
Ogami: você seria mais feliz ao lado da sua mãe. Um assassino com um bebê. Pois que assim seja, Daigoro. Este é o nosso destino.
Lobo solitário, samurais e ronins no cinema
Itto Ogami e Daigoro [1]
Lobo solitário:
A espada da vingança, Kozure Ôkami - Ko Wo Kashi Ude, 1972, direção: Kenji Misumi
O andarilho do rio Sanzu, Kozure Ôkami - Ko Wo Kashi Ude, 1972 direção: Kenji Misumi Contra os ventos da morte, Kozure Ôkami: Shinikazeni mukau ubaguruma, 1972, direção: Kenji Misumi
Coração de pai, coração de filho, Kozure Ôkami: Oya no kokoro ko no kokoro, 1972, direção: Takechi Saitô
Na terra dos demônios, Kozure Ôkami: Meifumadô, 1973, direção: Kenji Misumi
Paraíso branco no inferno, Kozure ôkami: Jigoku e ikuzo! Daigorô, 1974, Direção: Yoshiyuki Huroda
Estes filmes estão disponíveis na Versátil Home Vídeo (2013) [2]. Em inglês são identificados como Lone wolf and cub de 1 a 6.
As personagens principais nestes filmes foram interpretados por Tomisaburô Wakayama (Itto Ogami) e Akihiro Tomikawa (Ogami Daigoro).
Tomisaburô Wakayama (1929 – 1992) nasceu e faleceu em Tokyo. De 1955 a 1992 participou de 158 filmes (e trabalhos em TV) (http://www.imdb.com/name/nm0423663/ ). Esteve no filme Chuva negra (Black rain), 1989, de Ridley Scott, disponível em DVD pela Paramount - AMZ. Neste filme interpreta Sugai, um chefão da Yakuza (máfia japonesa).
Tomisaburô Wakayama como Sugai em Chuva negra, 1989.
Akihiro Tomikawa nasceu em 1968 e sua participação no cinema ficou restrita ao papel de Daigoro.
O samurai no cinema tem como referências clássicas, dentre várias, os filmes sobre os 47 ronins. A Versátil Home Vídeo distribui três versões desta estória baseada em fatos históricos (nos idos de 1700) que se tornou lenda no Japão. São eles: A vingança dos 47 ronins (Genroku chushingura), 1941, com direção de Kenji Mizogushi; Os 47 ronins (Chushingura), 1958, de Kunio Watanabe e Os vingadores(Chushingura: hana no maki), 1962 de Hiroshi Inagaki.
Sinopse de 47 ronins: Lorde Asano resiste a uma tentativa de suborno por um membro da corte do Shogun (Lorde Kira). Sua honestidade, no entanto, é inútil contra a corrupção da administração, e ele é forçado a cometer haraquiri (seppuku). Sua comitiva de samurais é então dispersa, como ronins sem mestre. O líder dos samurais, Oichi, trama com um bando de ronin leais em busca de vingança pela desonra de seu mestre. A vingança é realizada, mas todos os 47 ronins são condenados a cometer o haraquiri. São as regras do Xogun e a honra samurai.
Samurai quer dizer ficar ao lado, servir, guardar. Designa um guarda profissional da casta militar dos Bushi vinculada ao serviço de um senhor Daimiô, dono do feudo. Um samurai que foi destituído por qualquer motivo é chamado ronin que quer dizer "homem que flutua no vento" ou "homem da onda". Em outras palavras um guerreiro sem vínculo, um samurai errante (De L’histoire de 47 Ronins à Mizoguchi, Charles Tesson e Christophe Gans, DVD 2 da Versátil).
47 Ronins distribuído pela Versátil [2]
A estória de Itto Ogami (Lobo solitário) é diferente de 47 Ronnins. Ogami era samurai e depois, como ronin, se propôs à vingança solitariamente. Já em 47 ronnins a vingança foi de um grupo organizado de ronins que como samurais serviam a Asano.
O que é comum nestas duas estórias? A MORTE.
A ideia de morte que nos é passada geralmente está vinculada à escuridão, à tristeza e acabamos por associá-la sempre a imagens negativas, ruins e ao fim de tudo. Na visão budista a morte é considerada como um dos aspectos da vida. A vida é eterna e ela não acaba com a morte. É o conceito de impermanência (Hi eizoku-sei). Nada é permanente mesmo quando se retira o conceito de tempo [3] e [4].
O que é comum nestas duas estórias? A MORTE.
A ideia de morte que nos é passada geralmente está vinculada à escuridão, à tristeza e acabamos por associá-la sempre a imagens negativas, ruins e ao fim de tudo. Na visão budista a morte é considerada como um dos aspectos da vida. A vida é eterna e ela não acaba com a morte. É o conceito de impermanência (Hi eizoku-sei). Nada é permanente mesmo quando se retira o conceito de tempo [3] e [4].
Os samurais e os ronins eram budistas.
Referências
[1] http://cinemasmorra.com.br/lobo-solitario-e-filhote-do-manga-para-o-cinema/ 20/10/2014
[2] http://www.dvdversatil.com.br/ 30/10/2014
[3] http://www.budanaweb.com/2009/06/visao-budista-sobre-morte.html 31/10/2014
[4] http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-diversos/309-o 31/10/2014
Referências
[1] http://cinemasmorra.com.br/lobo-solitario-e-filhote-do-manga-para-o-cinema/ 20/10/2014
[2] http://www.dvdversatil.com.br/ 30/10/2014
[3] http://www.budanaweb.com/2009/06/visao-budista-sobre-morte.html 31/10/2014
[4] http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textos-diversos/309-o 31/10/2014
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