sábado, 19 de julho de 2025

Inventário & Discos cd

Continuando o que vimos em Inventário & Vinil - Completo (ver aqui), agora em discos no formato CD.

Adoniran Barbosa, Série 2 em 1
, EMI-Odeon, 2003 

Almir Sater ao vivo, Columbia, 1992 

Aquela canção, 2005, Bicoito Fino. (Detalhes e análise aqui)

Batucajé: Robertinho Silva, Simone Soul, Alfredo Bello, Jadna Zirmmermann, Mundo Melhor, 2004 

Bob Dylan – Shadows in the night, Columbia, 2015 

Bossa Negra: Diogo Nogueira + Hamilton De Holanda, EMI, 2014 

Cachorro Grande, Produção Independente, 2003 (Cachorro Grande wiki) 

Carminho: Canto, Warner Music Portugal, 2014

Carole King & James Taylor– Live At The Troubadour, Hear Music, 2010 (2 discos) 

Cauby canta Baden, Independente, 2006 

CD dos Hinos de Pacar, Santa Música/Revista Placar, 2004 

Casa de samba vol. 04, Polygram, 2000 

Chico Science & Nação Zumbi, Da lama ao caos, Chaos, 1994

Elomar – Na quadrada das águas perdidas, Discos Marcus Pereira, 1979 

Elza Soares, A mulher do fim do mundo, Produção Independente, 2015 

Helena Meirelles, Eldorado, 1994

Heraldo do Monte: Só você, para ouvir e dançar, 1997, Biscoito Fino

Heraldo do Monte, Biscoito Fino, 2016

Lordose pra leão, Os pássaros não calçam rua, Vâniuus 1996

Maria Rita, Warner, 2003 

Mariene de Castro: ser de luz, Universal Music, 2013 (João Nogueira - "Um ser de luz" (1992) 

O grande encontro: Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, BMG, 1996 

O Grande Encontro 2: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Ariola, 1997 

O grande encontro vol. 3: Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, BMG Brasil, 2000 

Ornette Coleman, New York is now! Blue Note, 1968 

Sepultura – Under a pale grey sky, Disc 1, Roadrunner Records, 2002 (2 discos)

Talking Heads: The best of , 2004, Warner Bros 

Tião Carreiro e Pardinho – No som da viola, Warner Music Brasil, 2000 

T/S Monk on monk, Abril Music, 1999 
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Coleção Clássicos do Jazz, Folha de São Paulo 

Nat King Cole

Herbie Hancock

Louis Armstrong

Art Blakey

Chet Baker

Theolonious Monk

Benny Goodman

Mile Davis
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Coleção Folha - Grandes Óperas, Folha de São Paulo (2 discos em cada ópera) 

Fidédlio, Beethoven

La Bohème, Puccini

A Valquíria, Wagner

Norma, Beiini

La Gionda, Ponchielli

Orfeo, Monteverde

Salomé, Strauss

Manon, Massenet
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Jazz,  Ediciones Del Prado, 1995

Bilie Holiday

Benny Goodman

Louis Armstrong

New Orleans 1918-29
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Nelson Freire, The complet album collection, Sony Classical - 7 CD 

CD1: Pyotr Ilyich Tchaikovsky e Franz Liszt

CD2: Edvard Grieg e Robert Schumann

CD3: Robert Schumann e Franz Schubert

CD4: Johannes Brahms

CD5: Frédéric Chopin

CD6: Frédéric Chopin

CD7: Frédéric Chopin
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Série Pixinguinha - três discos

Pixinguinha no cinema, 2008, Crioula Records/Rob Digital, Produtor: Lu Araújo/Caio Cezar/Marcelo Vianna

1º volume de três CDs da Série Pixinguinha, com direção musical do violonista e compositor Caio Cezar. Neste CD, a trilha sonora do filme "Sol Sobre A Lama", dirigido por Alex Viany e realizado entre os anos de 1962 e 1963. Nesta gravação foram utilizados os arranjos originais escritos pelo próprio Pixinguinha.

Pixinguinha sinfônico popular, 2009, Crioula Records/Rob Digital, Produtor: Lu Araújo/Caio Cezar/Marcelo Vianna 

2º volume de três CDs da Série Pixinguinha, com direção musical do violonista e compositor Caio Cezar. Gravado no Teatro Santa Isabel, em Recife (PE), em junho de 2008. Para esta gravação, a Orquestra Sinfônica de Recife convidou os músicos Carlos Malta, Edson Rodrigues, Roberto Silva, Liudinho Souza, Mourinha, Itamar Assiere e Oscar Bolão. 

Pixinguinha sinfônico, 2009, Crioula Records/Rob Digital Produtor: Lu Araújo/Caio Cezar/Marcelo Vianna 

3º volume de três CDs da Série Pixinguinha, com direção musical do violonista e compositor Caio Cezar. Para esta gravação, a Orquestra Petrobras Sinfônica convidou os músicos Itamar Assiere, David Ganc, Dirceu Leite, Humberto Araújo, Elias Borges, Moisés Santos, Adriano Souza e Carlos Negreiros, além das participações especiais de Hamilton de Holanda, Paulo Sérgio Santos, José Staneck, Carlos Malata, Toninho Ferragutti e Vittor Santos como solistas. 

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The jazz masters, 100 anos de swing, Folio colection, 1996 

Dizzy-Gillespie-The-Jazz-Masters-100-A%C3%B1os-De-Swing

Ella Fitzgerald

Herbie Hancock

Miles Davis

Pat Metheny&B.B.King&Dave Brubeck




terça-feira, 15 de julho de 2025

Cinemateca pessoal

Um levantamento dos filmes que tenho em dvd. 262 filmes. Detalhes, imdb, de cada um está no link oculto junto ao título.
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A arte de John Cassavevetes (Versátil, dois discos)


Disco 1: A canção da esperança, 1961  e Assim falou o amor, 1971 


Disco 2: Amantes, 1984  e Cassavetes: o homem e sua obra, 1984 
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A arte de Sergio Corbucci (Versátil, 2 discos)

Disco 1: O vingador silencioso, 1968 


Disco 2: Os cruéis, 1967  e O especialista: o vingador de Tombstone, 1969 

Documentário sobre faroeste spaghetti (38 min.), Deoimento sobre o dirtor (15 min.), Finais alternativos de O vingsdor silencioso (6 min.) e Análise de O especialista (44 min.)
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Charles Chaplin Fase de ouro vol. 2

O Marquês, Cruel, Cruel Love, George Nichols&Mack Sennett, 1914 

Carlitos e a patroa, The star boarder, George Nichols, 1914 

Vinte minutos de amor, Twenty minutes of love, Joseph Maddern&Charles Chaplin, 1914 

Boate em apuros, Caught in a cabaret, Mabel Normand, 1914, 

Um dia cheio, A busy day, Mack Sennett, 1914 

A ameça fatal, The fatal mallet, Mack Sennett, 1914 

Dois herois, The knockout, Mack Sennett, 1914 
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Bruce Lee

O dragão chinês, Wei Lo&Chia-Hsiang Wu, 1971 

A fúria do dragão, Wei Lo, 1972 

Conspiração Bruce Lee (Punhos de aço), Matthew Mallinson, 1980 

Jogo da Morte 2, See-Yuen Ng&Sammo Kam-Bo Hung&Corey Yuen, 1980 
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Douglas Sirk, o mestre do melodrama (5 discos)

Chamas não se apagam, 1956

 Desejo atroz, 1953 

Sublime obsessão, 1954  (2 discos)

Disco 1: Sublime obsessão,  1954, Douglas Sirk - Disco 2: Sublime Obsessão, / 1935, John M. Stahl

Tudo que o céu permite, 1955 
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Grandes diretores no cinema - Coleção Folha, 2018

1. Igmar Bergman, Monika e o desejo, 1952 


2. Orson Welles, Soberba, 1942 


3. François Truffaut, O último metrô, 1980 


4. Akira Kurosawa, O anjo embriagado, 1948 /


5. Frederico Felline, Noites de Cambíria, 1957 


6. Glauber Rocha, O leão de sete cabeças, 1970 


7. Luis Buñuel, Um cão andaluz, 1929  e A idade do ouro, 1930 


8. Vittorio de Sica, Ladrões de bicicleta, 1948 


9. Alfred Hitchcck, Interlúdio, 1946 


10. Jean-Luc Godard, O demônio das onze horas, 1965 


11. Luchino Visconti, A terra treme, 1948 


12. Ida Lupino, O mundo odeia-me, 1953 


13. Billy Wilder, Farrapo humano,1945 


14. R. W. Fassbinder, O casamento de Maria Braun, 1979 


15. Rogério Sganzerla, O bandido da luz vermelha, 1968 


16. Fritz Lang, Vive-se uma só vez, 1937 


17. Sergei Eisenstein, Alexander Nevsky, 1938 


18. Jean Renoir, A grande ilusão, 1937 


19. David Lean, Oliver twist, 1948 


20. Nicholas Ray, Amarga esperança, 1948 


21. F. W. Murnau, Tabu, 1931 


22. Ernest Lubitsch, Ser ou não ser, 1942 


23. John Ford, O delator, 1935 


24. Kenji Mizoguchi, Mulheres da noite, 1948 


25. Andrei Tarkovski, Andrei Rublev, 1966 


26. Carl Dreyer, Dias de ira, 1943 


27. Howard Hawks, Rio Vermelho, 1948 


28. Powel & Pressburger, Os sapatinhos vermelhos, 1948 


29. Max Ophuls, Carta de uma desconhecida, 1948 


30. D. W. Griffith, Intolerância, 1916 h
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Notícias da antiguidade ideológica: Marx, Eisenstein, O Capital, Nachrichten aus der ideologischen Antike - Marx/Eisenstein/Das Kapital, Alexander Kluge, 2008 (três discos)
Parte I: Projeto revoluções, Parte II: Extras, Parte IV: Amor cego
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O cinema de Ozu, Yasujirô (3 discos)

Disco 1: Era uma vez em Tóquio, 1953 e Conversando com Ozu, 1993 (curta) 

Disco 2: Também fomos felizes, 1951  e Era uma vez um pai, 1942 

Disco 3: Crepúsculo em Tóquio, 1957 
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Os 47 ronins (três discos)

A vingança dos 47 Ronins, Kenji Mizoguchi, 1941 

Os 47 ronins, Chûshingura, Kunio Watanabe, 1958 

Os vingadores, Chûshingura, Hiroshi Inagaki, 1962 
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Zé do Caixão

O ritual dos sádicos, José Mojica Marins, 1970

Esta noite encarnarei no teu cadáver, José Mojica Marins, 1967 

À meia noite levarei sua alma, José Mojica Marins, 1964 

O estranho mundo de Zé do Caixão, José Mojica Marins, 1968 
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The Rifleman

Torneio de tiro, The sharpshooter, Arnold Laven (rot. Sam Peckinpah), 1958 

A fazenda, Home ranch, Arnold Laven (rot. Sam Peckinpah), 1958 

A colina perogosa, End of a young gun, Jerry Hopper, 1958 
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1910 a 1929


Os Vampiros, Les vampires, Louis Feuillade, 1915  (3 discos): Disco 1 (Capítulos de 1 a 5), Disco 2 (Capítulos de 6 a 8), Disco 3 (Capítulos de 9 e 10)

Ouro e maldição, Greed, 1924, Erich von Stroheim 


1930 a 1949

Amarga esperança, Nicholas Ray, 1948 

A volta de Frank James, Fritz Lang, 1940 

Crisântemos tardios, Kenji Mizoguchi, 1939 

Farrapo humano, Billy Wilder, 1945 

Ivan, o Terrível, Sergei Eisenstein, 1944  (Parte 1)

Mulher de verdade, Preston Sturges, 1942 

O grande ditador, Charles Chaplin, 1940 

Olympia, parte 1: Ídolos do estádio, Leni Riefenstahl, 1938 

Olympia, parte 2: Vencedores olímpicos, Leni Riefenstahl, 1938 

Triunfo da vontade, Leni Riefenstahl, Leni Riefenstahl&Walter Ruttmann&Eberhard Taubert, 1935 

O último refúgio, Raoul Walsh, 1941 

O testamento do Dr. Mabuse, Fritz Lang, 1933 

Uma aventura na Martinica, Howard Hawks, 1944 

Pacto de sangue, Billy Wilder, 1944 

Vive-se uma só vez, Fritz Lang, 1937 


1950 a 1969


2001: uma odisséia no espaço (restaurado e remasterizado),  Stanley Kubrick, 1968 

Acossado, Jean-Luc Godard, 1960 

A face oculta, Marlon Brando, 1961 

Alguém morreu em meu lugar, Paul Henreid, 1963 

A longa noite das loucuras, Mauro Bolognini, 1959 

Amar e morrer, Douglas Sirk, 1958 

Amores de apache (Casque d'or), Jacques Becker, 1952 

A noite do iguana, John Huston, 1964 

Bande à part, Jean-Luc Godard, 1964 

Billy Lear, John Schlesinger, 1963 

Capacete de aço, Samuel Fuller, 1951 

Cantando na chuva, Stanley Donen&Gene Kelly, 1952 

Cleópatra, Joseph L. Mankiewicz&Rouben Mamoulian 1963  (dois discos)

Corre, homem, corre, Sergio Sollima, 1968 

Crepúsculo dos Deuses, Billy Wilder, 1950 

Crônicas de Anna Magdalena Bach, Danièle Huillet&Jean-Marie Straub, 1968  No iutubi aqui 

Dillinger é morto, Marco Ferreri, 1969 

Duas pátrias para um bandido, (Blue), Silvio Narizzano, 1968 

Duelo de Titãs, John Sturges, 1959 

E o sangue semeou a terra, Anthony Mann, 1952 

Era uma vez no oeste, Sergio Leone, 1968  (dois discos)

Eros + Massacre, Yoshishige Yoshida, 1969 

Fome, Henning Carlsen, 1966 

Gertrud, Carl Th. Dreyer, 1964  (2 discos)

Herança sagrada, Douglas Sirk, 1954 

Johnny Guitar, Nicholas Ray, 1954 

Júlio César, Joseph L. Mankiewicz, 1953 

Meu ódio será sua herança, Sam Peckinpah, 1969 

Mortos que caminham (Batalha de Burma), Samuel Fuller, 1962 

Nevada Smith, Henry Hathaway, 1966 

A noviça rebelde, Robert Wise, 1965 

Noite e Neblina, Alain Resnais, 1956 

O demônio das onze horas, Pierrot le fou, Jean-Luc Godard, 1965 

O silêncio, Tystnaden, Ingmar Bergman, 1963 

O evangelho segundo São Mateus, Pier Paolo Pasolini, 1964 

O homem que eu devia odiar, Sam Peckinpah, 1961  (no dvd com o nome de Vingança de pistoleiro)

O homem que matou o facínora, John Ford, 1962 

Os incompreendidos, François Truffaut, 1959 

O sobrado, Walter George Durst&Cassiano Gabus Mendes, 1956 

Os pecados de todos nós, John Huston, 1967 

Palavras ao vento, Douglas Sirk 1956 

Quando os brutos se defrontam, Sergio Sollima, 1967 

Quando irmãos se defrontam, George Englund, 1963 

Queimada, Gillo Pontecorvo, 1969 

Rio Grande, John Ford, 1950 

Robinson Crusoe, Luis Buñuel, 1954 

Rômulo & Remo, Sergio Corbucci, 1961 

Repulsa ao sexo, Roman Polanski, 1965 

Sangue em Sonora, The Appaloosa, Sidney J. Furie, 1966 

Spartacus, 1960, Stanley Kubrick & Anthony Mann (dois discos)

Um homem, um cavalo, uma pistola, Luigi Vanzi, 1967 

Uma rua chamada pecado, (A streetcar named desire), Elia Kazan, 1951 

Uma mulher é uma mulher, Jean-Luc Godard 1961 

Uma sombra passou por aqui (The Illustrated man), 1969 

Vidas amargas, Elia Kazan, 1955 

Viver, Ikiru, Akira Kurosawa, 1952 


1970 a 1989


A imagem, Radley Metzger, 1975 

A missão, Roland Joffé, 1986  (dvd 10 de duas faces)

A morte não manda recado, The ballad of Cable Hogue, Sam Peckinpah, 1970 

Ana e os lobos, Carlos Saura, 1973 

Anno Uno - O nascimento da democracia italiana, Roberto Rossellini, 1974 

Apocalypse now  redux, Francis Ford Coppola, 1979 

A vontade de um general, Francesco Rosi, 1970 

Blade Runner: O caçador de andróides, Ridley Scott, 1982  [três discos]

Disco 1: versão final, Disco 2: versões arquivadas e Disco 3: dias perigosos realizando Blade Runner

Caça ao terrorista, Christian Duguay, 1997

Casanova e a revolução, Etore Scola, 1982 

Cinzas no paraíso, (Dias de paraiso), Terrence Malick, 1978 


Comboio, Sam Peckinpah, 1978 

Companheiros, Sergio Corbucci, 1970 

Entrevista, Federico Fellini, 1987 

Ginger e Fred, Federico Fellini, 1986 

Gosto de Sangue, Joel Coen&Ethan Coen, 1984 

Invasores de corpos, Philip Kaufman, 1978 

Je vous salue, Marie, Jean-Luc Godard, 1985 

Keoma, Enzo G. Castellari, 1976 /

Lady Snowblood : Vingança na neve, Toshiya Fujita, 1973  e Uma canção de amor e vingança, Toshiya Fujita, 1974 (dois discos)

Noites de lua cheia, Éric Rohmer, 1984 

O Casal Osterman, Sam Peckinpah, 1983 

O desertor, The deserter, Burt Kennedy&Niksa Fulgosi, 1970 

O traidor, The hit, Stephen Frears, 1984

Papillon, Franklin J. Schaffner, 1973

Salò, ou os 120 dias de Sodoma, Pier Paolo Pasolini, 1975

Selvagens cães de guerra, Andrew V. McLaglen, 1978    

Sorgo vermelho, Yimou Zhang, 1988 

Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, Sam Peckinpah, 1974  

Um lance no escuro, Arthur Penn, 1975 

Viver e morrer em Los Angeles, William Friedkin 1985 


1990 a 2005


Adaptação, Spike Jonze, 2002 

Alexandre, Oliver Stone, 2004  (dois discos)

A lula e a baleia, 2005 Noah Baumbach 

Amaggedon, Michael Bay, 1998 

A promessa, Kaige Chen, 2005 

A Queda! As últimas horas de Hitler, Oliver Hirschbiegel 2004 

Bala na cabeça, John Woo, 1990 

Black Jack, John Woo, 1998 

Blast, Albert Pyun, 1997 

Breaking News - Uma cidade em alerta, Johnnie To, 2004 

Brincando nos campos do Senhor, Hector Babenco, 1991 

Brother - A máfia Japonesa Yakuza em Los Angeles

Buena Vista Social Club, Wim Wenders, 1999 

Cães de aluguel, Quentin Tarantino, 1992 

Capote, Bennett Miller, 2005 

Céus vermelhos, Larry Carroll&Robert Lieberman 2002 

Closer: perto demais, Mike Nichols, 2004

Conflitos Internos,  Wai Keung Lau&Alan Mak, 2002 

Contra todos, Roberto Moreira, 2004 

Coração selvagem, David Lynch, 1990 

Culpado por suspeita, Irwin Winkler, 1991 

Desafio radical, Christian Duguay, 2002 

Eclipse mortal, Anthony Hickox, 1993 

Espelho, Sung-ho Kim, 2003 

E estrelando Pancho Villa, Bruce Beresford, 2003 

Gangues do gueto, Abel Ferrara, 2001 

Henry & June, Philip Kaufman, 1990 

Herói, Yimou Zhang, 2002

Hipotermia, Patrick Leung,1996 

Jogo da Vingança, Am zin, Johnnie To, 1999 

Kill Bill: Volume 1, Quentin Tarantino, 2003 

Kill Bill: Volume 2, Quentin Tarantino, 2004

King Kong, Peter Jackson, 2005 

Longe do paraíso, Todd Haynes, 2002

Marcado pela Máfia, Anthony Hickox, 2002, 

Marcas da violência, David Cronenberg, 2005 

Máscara Negra 2, Hark Tsui, 2002 

Medo, Kim Jee-woon, 2003

Meu tio matou um cara, Jorge Furtado, 2004  

Minority report: A nova lei, Steven Spielberg, 2002 

Missão impossível 2, John Woo, 2000 

Mistérios e paixões, David Cronenberg, 1991  

Natureza quase humana, Michel Gondry, 2001 

Nelson Freire, João Moreira Salles, 2003 

No diredtion home Bob Dylan, Martin Scorsese, 2005 

O clã das adagas voadoras, Yimou Zhang, 2004 

O detonador, Garrett Clancy, 1996 

O filho da noiva, Juan José Campanella, 2001 

O Libertino, Laurence Dunmore, 2004, 

O pagamento, John Woo, 2003 

O retorno de Sweetback, Mario Van Peebles, 2003  

O invasor, Beto Brant, 2001 

Os imperdoáveis, Clint Eastwood, 1992 

Pelé eterno, Anibal Massaini Neto, 2004 

Profissionais do crime, Johnnie To &Ka-Fai Wai 2001 

Rajadas de fogo, John Woo, 1991 

Rajada de sangue, Jing Wong, 1990 

Scanners II: A força do poder, Christian Duguay, 1991 

Scanners III: O duelo final, Christian Duguay, 1991 

Titanic, James Cameron, 1997  

Uma história real, David Lynch, 1999 

União do mal, Corey Yuen, 2002 

Vingador do futuro, Paul Verhoeven, 1990  

Zatoichi, Takeshi Kitano, 2003 


2006 a 2015


Adam: Memórias de uma guerra, Paul Schrader, 2008 

A Lenda de Beowulf, Robert Zemeckis, 2007 

À procura de Eric, Ken Loach, 2009 

Baixio das bestas, Cláudio Assis, 2006 https://www.imdb.com/pt/title/tt0982849/

Bernard e Doris: o mordomo e a milionária, Bob Balaban, 2006 

Cartas de Iwo Jima, Clint Eastwood, 2006 

Coco Chanel, Christian Duguay, 2008 

Katyn, Andrzej Wajda, 2007

Mais estranho que a ficção, Marc Forster, 2006 

Meu nome não é Johnny, Mauro Lima, 2008 

Michael Jackson: This is it, Kenny Ortega, 2009 

Minha super ex-namorada, Ivan Reitman, 2006 

Notas sobre um escándalo, Richard Eyre, 2006

Obrigado por fumar, Jason Reitman, 2005, 

O jogo da vingança, One last dance, Max Makowski, 2006 

Os Indomáveis, James Mangold, 2007 

Obsessão, Lee Daniels, 2012 /

O Sal da Terra, Juliano Ribeiro Salgado&Wim Wenders, 2014 [Uma viagem com Sebastião Salgado]

Quando me apaixono, Helen Hunt, 2007 

Pequena Miss Sunshine, Jonathan Dayton&Valerie Faris, 2006 

Piratas do Caribe: O baú da morte, Gore Verbinski, 2006 /

Serpentes a bordo, David R. Ellis, 2006 


Extras

Família Soprano, The Sopranos, Série de TV, David Chase, 1999–2007 (1ª temporada - 4 discos)

Breaking Bad, Série de TV, Vince Gilligan, 2008–2013  (1ª temporada - 3 discos)






sexta-feira, 11 de julho de 2025

Apresentação de Ivan Lessa no livro "A sangue frio" de Truman Capote

Sangue quente no chicote

Está no lendário das colunas sociais: Truman Capote, Gore Vidal e Norman Mailer, em sarau literário, discutiam livros. Cada qual, evidentemente, falando de seus próprios livros. Capote, o mais baixinho e fisicamente frágil dos três, assim como de longe o mais venenoso, virou-se e disse (Capote era uma das poucas pessoas no mundo capazes de “virar-se” e dizer uma coisa): “Tudo isso que vocês estão dizendo pode ser muito interessante, mas a verdade é que eu escrevi uma obra-prima, e vocês não”.

Não é que o baixinho estava com toda a razão? O danado escreveu mesmo uma obra-prima. Sim, claro, estamos falando, como Capote, de A sangue frio.

Nascido em Nova Orleans em 1924, falecido na Califórnia em 1984, Truman Streckfus Persons adotou por conta própria, aos onze anos, em 1935, o sobrenome do padrasto, Joseph Garcia Capote, descendente de portugueses, para quem essas coisas são importantes. De 1941 a 1944, trabalhou como office-boy na editoria de arte da The New Yorker, berço esplêndido de tantos astros e estrelas do futebol literário norte-americano. Acabou irritando o irritadiço poeta Robert Frost, o que lhe valeu a demissão.

Em 1945, Capote publicou dois contos: um na revista Mademoiselle, outro na Harper’s Bazaar. Conto em revista, na época, era o equivalente a vender direito de filmagem para Hollywood. Além do dinheiro, dava cartaz. Em 1948, Capote publica Other voices, other rooms, romance gótico ambientado no sul dos Estados Unidos em que o texto perdia de longe, em matéria de escândalo, para a contracapa do livro: lá estava ele, lânguido como Claudette Colbert em Cleópatra (1934), estendido sobre o que só podia ser uma liteira. 

 

Com 24 anos, baixinho, voz escorrida como melado, decadente de estirpe, Truman Capote estava pronto para enfrentar e domesticar o mundo. Publicou a coletânea de seus contos, também góticos, A tree of night, em 1949, e um romance mais ligeiro, A harpa de erva, em 1951, que acabou virando primeiro peça e, já no século XXI, um infelizmente telefilme.

1958 é o ano que mais deve irritar Vidal e Mailer. Capote publica uma noveleta, Breakfast at Tiffany’s, que, três anos mais tarde, viraria filme-veículo para Audrey Hepburn e que, no Brasil, passou com o estonteante título de Bonequinha de luxo, como se fosse gravação dos Anjos do Inferno ou filme de Gilda de Abreu. O livrinho vendeu mais que os lendários e inexplicáveis “pãezinhos quentes”. Capote é festejado. Festejadíssimo. E gosta, gosta muito das festas, festinhas e festivais em sua homenagem. 
Vira astro de coluna social, figura indispensável em reuniões de aquilo que já foi chamado, por nós, de “café-society”: alta sociedade e até mesmo grã-finos, para se ter uma idéia de como o mundo é engraçado. Capote não percebeu, escondido nas mãos que o afagavam, cobertas por longas luvas de veludo, o punhal escondido, nem pressentiu o gesto à procura do chicote.

1959. Possivelmente meio de ressaca, depois da festa na noite anterior, Capote folheia o — claro — The New York Times. Sabe-se lá que musas (mais sobre elas daqui a pouco) fizeram com que seus olhos se detivessem sobre uma pequena nota de dois parágrafos sobre como o sr. e a sra. Herbert W. Clutter, mais filho e filha, todos da cidade de Holcomb, no estado de Kansas, o mesmo de Dorothy, Toto e do Mágico de Oz, haviam sido brutalmente assassinados. Capote, segundo seu próprio relato, bolou que isso poderia dar num bom livro sobre crime e sobre um estado que desconhecia, o Kansas. Fez as malas e partiu para Holcomb na companhia de sua amiga, a também escritora (e boa) Harper Lee, aquela daquele filme com o Gregory Peck, To kill a mockingbird (1962), e o romance de título idêntico, ganhador do prêmio Pulitzer, nenhum dos quais, insista-se, recebeu o título de O sol é para todos — isso é desses massacres que só acontecem no Brasil. Frise-se: quando Capote e Harper Lee partiram para o Kansas, os assassinos ainda eram desconhecidos e não haviam sido capturados.

Ah, sim. As musas. The muses are heard. 1958. Reportagem, por assim dizer. Capote acompanhou a excursão à União Soviética de uma montagem de Porgy and Bess (a produção passou pelo Municipal do Rio), sob o patrocínio do Departamento de Estado, como parte de intercâmbio cultural entre Estados Unidos e o então Reino do Mal. Foi publicado na The New Yorker, para variar, talvez a única revista no mundo, mesmo até os dias de hoje, que banque e encoraje a prática de alguma forma, mesmo e inclusive, nova ou inovadora de expressão artística. Nela, Capote afiara seus pequenos dentes de piranha de jornalista, conforme atestam seus inúmeros perfis para a revista. As maldades dele com Marlon Brando, durante as filmagens de Sayonara (1957), são, como  tanta coisa do homenzinho, antológicas.

Em Holcomb, no Kansas, a figura dramaticamente urbana de Truman é quase tanto motivo de choque quanto o brutal crime múltiplo. Harper Lee lhe foi utilíssima para angariar a confiança e abrir as comportas do papo entre as pessoas entrevistadas. Capote sabia ouvir. Isso lhe foi útil na pequena cidade e em meio à sociedade, que tanto admirava e cultivava, de Manhattan. Capote, um conquistador nato, acabou hipnotizando (é o único verbo possível) os habitantes chave de Holcomb. Presos os dois assassinos, conseguiu ter acesso a eles e — seria identificação? — aos trejeitos psicológicos que aproximam dois homossexuais, se um quê homossexual tivesse Perry Smith. Há teses a respeito — acabou íntimo de Perry, ele também pouco mais que um anão, como Capote.

Capote passou ao todo um ano e meio no Kansas examinando aspectos da “história” e conversando com quem podia, principalmente os “dois meninos”, como os chamava. Depois foram quase cinco anos de quebrar pedreira, ou geleira, em Verbier, nos Alpes suíços, onde possuía um pequeno chalé. O tom jet-set, tão ao gosto do pobre Capote, foi dado pelo resto do trabalho, efetuado em Brooklyn Heights, onde era dono de um apartamento.

Consta que Capote passou um desses seis anos apenas trabalhando nas notas, burilando-as, antes de escrever uma única linha do livro (que ainda não fora batizado como “non-fiction novel” ou “romance sem ficção”). Sempre segundo Capote, ele já delineara o livro inteiro em sua mente, exceto pela última parte, aquela que ele chamava de “a dispensação” do caso. 

Ainda no departamento do “consta” (Capote, infelizmente, mentia furiosamente. Dele também a invenção, pode-se dizer, da “vida-com-ficção”.): ele garantia, em todos os seus depoimentos e entrevistas, ser capaz de memorizar horas de conversa, tendo treinado para isso com um amigo, que lia trechos de um livro e ele, Capote, depois, acertava lá por volta dos 95% do texto. Era sua maneira de dispensar o uso do odioso gravador, talvez o maior inimigo do bom jornalismo.
Consta (sempre e novamente) que Capote não lançou mão de 80% de suas pesquisas. Consta que se tivesse publicado 20% do material acumulado naqueles anos de entrevista acabaria com um livro de mais de 2 mil páginas. 

Há uma infinidade de “consta” na vida de Capote. Na obra, para felicidade geral, nada consta, a não ser talvez o melhor texto da literatura e da reportagem americana do século xx. Truman Capote batizou seu livro de “romance sem ficção”. Para ele, jornalismo era apenas fotografia literária. Ele ambicionava algo mais. Um gênero só para ele. Não achava que Hiroshima, de John Hersey, pudesse ser comparado com A sangue frio. Para ele, o livro de Hersey era, claro, criativo, no sentido de que não coletara gente falando para um gravador, sofrendo depois um processo editorial. Hiroshima era jornalismo clássico, assim como Children of Sanchez, de Oscar Lewis, era um documentário extraído de fitas gravadas e, por mais engenhosas e comoventes, não constituía um livro criativo. 

Seu modelo, beirando o ideal, era Lillian Ross e o que ela fizera com Picture, extraordinária reportagem literária em que ela acompanhara John Huston e a filmagem de uma adaptação do romance The red badge of courage, de Stephen Crane. Claro que fora primeiro publicada em — é evidente — The New Yorker. Outros que chamaram a atenção estética de Capote: Joseph Mitchell, o texto escarrado (“emblemático” é a mãe) da New Yorker e, isso é curioso, a inglesa Rebecca West.
(Curioso Capote não morder nenhum dos citados. É definitivo e antológico seu julgamento sobre as sandices perpetuadas pelo pobre do Jack Kerouac. Quando confrontado com o terrível On the road, Capote foi ao âmago da questão: “Isso não é escrever. Isso é bater à máquina”.)

A sangue frio foi lançado em início de 1966, virou estrondoso sucesso de crítica e vendas, desfrutou das vantagens de ser o livro do mês e para comemorar o sucesso e a recém-adquirida fortuna, o bom e leviano Truman Streckfus Persons deu o que até hoje é considerado o baile do século passado: o Black and White Ball, no Hotel Plaza de Nova York. Baile e autor foram considerados clássicos instantâneos.

Assim como nas últimas páginas de A sangue frio, encerremos em ritmo de fuga, citando o não muito digno de confiança Capote (ele não disse nada sobre a tradução ou o uso de citações):

“Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentara por toda vida a um senhor nobre porém implacável. Quando Deus lhe dá um dom, ele também lhe dá um chicote; e o chicote se destina apenas à auto-flagelação… Estou aqui sozinho na escuridão de minha loucura, sozinho com meu baralho — e, é claro, o chicote que Deus me deu”.

Hum. Capaz

Ivan Lessa wiki 


 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Biblioteca pessoal

Inventário parcial dos livros (148) que estão na companhia deste que vos fala 
 

Ana Miranda, Boca do inferno, 5ª edição, Companhia das Letras, 1990

Ana Miranda, O peso da luz: Einstein no Ceará, Armazém da Cultura, 2013

Ana Miranda, Dias e dias, Companhia das Letras, 2010

Ana Miranda, Semiramis, Companhia das Letras, 2014

André Bazin, O que é cinema?, tradução de Eloisa Araujo Ribeiro, apresentação e apêndice de Ismail Xavier, Cosacnaify, 2014

André Iki Siqueira, João Saldanha: uma vida em jogo, Companhia Editora Nacional, 2007

Anthony Peak, A vida de Pilip K. Dick: o homem que lembrava o futuro, tradução de Ludimila Hashimoto, Seoman, 2015

Breno Altman, Contra o sionismo: um retrato de uma doutrina colonial e racista, Alameda, 2023

Brigitte Koyama-Richard, Mil anos de mangá, tradução de Nícia Adan Bnatti, formato: 22x26,5 cm Estação Liberdade, 2022

Caio Prado Júnior, História econômica do Brasil, 30ª edição, Editora Brasiliense, 1984

Carlo Collodi, Pinóquio, tradução de Monteiro Lobato, ilustração de Walter Lara, Pelicano, 2021

Cascudo, Luis da Câmara, História da alimentação no Brasil, 4ª edição, 971 p., Global, 2011

Cesar Camargo Mariano, Solo: Cesar Camargo Mariano - memórias, Leya, 2011 

Chico Buarque, Bambino a Roma, Companhia da Letras, 2024

Cixin Liu, O problema dos três corpos, tradução de Leonardo Alves, 1ª edição, Suma, 2016

Cixin Liu, A floresta sombria, tradução de Leonardo Alves, 1ª edição, Suma, 2017

Cixin Liu, O fim da morte, tradução de Leonardo Alves, 1ª edição, Suma, 2019

Clarice Lispector, Água viva, Rocco, 1998

Clarice Lispector, Perto do coração selvagem, Rocco, 1998

Clóvis Moura, Sociologia do negro brasileiro, 2ª edição, Perspeciva, 2019
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Coleção Folha, Os pensadores

1. Platão: A República, tradução, introdução e notas de Eleazar Magalhães Teixeira, 472 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

2. Augusto Comte: Discurso sobre o espírito positivo, tradução de Walter Solon, 120 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

3. Bell Hook: Ensinando a transgredir - a educação como prática da liberdade, tradução de Marcelo Brandão Cipolla, 208 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

4. René Descartes: Regras para orientação do espírito, tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão, 136 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

5. Max Weber: Ciência e política - duas vocações, tradução de Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota,  128 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

6. Voltaire: O preço da justiça, tradução de Ivone Castilho Benedetti, 96 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

7. Claude Lévi-Strauss: Antropologia estrutural, tradução e notas de Beatriz Perrone-Moisés, 400 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

8. Santo Agostinho: Sobre a mentira, tradução e notas de Alessandro Jocelito Beccari, 64 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

9. Michel Foucault: A sociedade punitiva, tradução de Ivone Castilho Benedetti, 336 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

10. Mary Wollstonecraft: Reivindicação dos direitos da mulher - o primeiro grito feminista, tradução e notas de Andreia Reis do Carmo, 264 p. MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

11. Jean-Jacques Rousseau: Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, tradução e notas de Paulo Neves, 136 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

12. Nicolau Maquiavel: A arte da guerra, tradução e notas de Eugênio Vinci de Moraes, 168 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

13. Adam Smith: Teoria dos sentimentos morais, tradução e notas de Lya Luft, 392 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

14. Karl Marx: Manuscritos econômico-filosóficos, tradução e notas de Jesus Ranieri, 176 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

15. Frédéric Bastiat: A lei, tradução e notas de Pedro Sette-Câmara, 96 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

16. Carter G. Woodson, A [des]educação do negro, tradução e notas de Naia Veneranda, 152 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

17. Aristóteles: Sobre a alma, tradução, introdução e notas de Ana Maria Ana Maria Lóio, 144 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

18. Ludwig von Mises: As seis lições: Capitalismo, socialismo, intervencionismo, inflação, investimento, estrangeiro, política e ideias, tradução de Maria Luiza X. de A. Borges, 128 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

19. Immanuel Kant: Crítica da razão pura, tradução e notas de Fernando Costa Mattos, p. 640, MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

20. Luiz Gama: Humor e crítica: armas do pioneiro abolicionista, seleção de textos: Cássio Starling Carlos, 80 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

21. Étiene de la Boétie: Discurso sobre a servidão voluntária, tradução de Evelyn Tesch e introdução e notas de Paul Bonnefon, 64 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

22. Ruth Benedict: Padrões de cultura, tradução de Ricardo A. Rosenbusch, 222 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2021

23. Émile Durkhein: As regras do método sociológico, tradução e notas de Maria Ferreira, MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

24. John Stuart Mil: Sobre a liberdade, tradução e notas de Denise Bottmann, 144 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

25. Arthur Schopenhauer: A arte de ter razão, tradução e notas de Érica Gonçalves de Castro e Guilherme Ignácio da Silva, 64 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

26. Friedrich Hayek: O caminho da servidão, tradução e notas de Anna Maria Capovilla, José Ítalo Stelle e Liane de Morais Ribeiro, 256 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

27. Edison Carneiro: Ladinos e criolos, seleção de textos, introdução e notas de Raul Lody, 256 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

28. Ludwig Feuerbach: A essência do cristianismo, tradução e notas de José de Silva Brandão, 440 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

29. Thomas Hobbes: Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, tradução e notas de Daniel Moreira Miranda, 624p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

30. Leo Strauss: Direito natural e história, tradução de Bruno Costa Simões, 320 p., MEDIAfashion: Folha de São Paulo, 2022

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Gabriel García Márquez, Cem anos de solidão, 132ª edição, tradução de Eric Nepomuceno, Editora Record, 2024

Dermeval Saviani, Histórias das ideias pedagógicas no Brasil, 5ª edição, Autores Associados, 2019

Denise Alvarez, Cimento não é concreto, tamborim não é pandeiro, pensamento não é dinheiro! Para onde vai a produção acadêmica? Myrrha, 2004

Drauzio Varella, O sentido das águas: Histórias do Rio Negro, Companhia das Letras, 2025

Edgar Allan Poe, O gato preto e outros contos extraordinários, Camelot, 2021

Edgardo Martlio, Glória roubada: o outro lado das copas, Figurati, 2014

Edmund Wilson, Rumo à estação Finlândia, tradução Paulo Henrique Britto, Companhia das Letras, 1986

Eric Hobsbawn, Tempos interessantes: uma vida no século XX, tradução de S. Duarte, Compnhia das Letras, 2002

Eric Hobsbawn, Bandidos, tradução de Donaldson M. Garschagen, Paz e Terra, 2010

Euclides da Cunha, Os sertões: a companha de Canudos, Martin Claret, 2012

Ferreira Gullar, Toda poesia, Civilização Brasileira, 1980

Fiódor Dostoiévki, Crime e castigo, tradução de Paulo Bezerra, 590 p., 8ª edição, Edtora 34, 2019

Fiódor Dostoiévki, Os demônios, tradução de Paulo Bezerra, 699 p., 6ª edição, Edtora 34, 2018

François Alberta, Eisenstein e o construtivismo russo - a dramaturgia da forma em "Stuttgart", tradução de Eloisa Araújo Ribeiro, Cosac&Naify, 2002

George Orwell, Revolução dos bichos, tradução de Heitor Ferreira, Biblioteca O Globo, 2003

Geoges Sadoul, Dicionário de filmes, L&PM, 1993

Goethe, Fausto I, tradução de Jenny Klabin Segall, apresentação, comentários e notas de Marcus Vinícius Mazzari, 3ª edição, 416 p., 2017, Editora 34 (Edição de bolso com texto integral)

Goethe, Fausto II, tradução de Jenny Klabin Segall, apresentação, comentários e notas de Marcus Vinícius Mazzari, 672 p., 2011, Editora 34 (Edição de bolso com texto integral)

Goethe, Os sofrimentos do jovem Werther, tradução de Marcelo Backes, L&PM, 2001

Gonçalo Silva Junior, O deus da sacanagem: a vida e o tempo de Carlos Zéfiro, Editora Noir, 2018

Graciliano Ramos, Angústia, 73ª edição, Record, 2019

Graciliano Ramos, Memórias do cárcere, primeiro volume, 4ª edição, 358 p., Martins, 1960

Graciliano Ramos, Memórias do cárcere, segundo volume, 4ª edição, 306 p.,  Martins, 1960

Graciliano Ramos, Os filhos da coruja, pinturas de Gustavo Magalhães, literatura juvenil, Baião, 2024

Graciliano Ramos, Alexandre e outros heróis, Record, 1991

Graciliano Ramos, Cartas, Record, 1981

Gramsci, Odeio os indiferentes: escritos de 1917, Boitempo, 2020

Héctor G. Oesterheld & Francisco Solano López, O Eternauta, formato 28 x 19 cm, 372 p., Pipoca&Nanquim (HQ)

Hellmuth Karasek, Billy Wilder: e o reto é loucura, tradução de Flávia Buchwaldt, DBA, 1998

Hiroshi Hirata, Satsuma Gishiden: Crônicas dos leais guerreiros de Satsuma, tradução de Drik Sada, Vol. 1, Capítulo 13, 452 p., Pipoca & Nanquim, 2020 (HQ)

Hiroshi Hirata, Satsuma Gishiden: Crônicas dos leais guerreiros de Satsuma, tradução de Drik Sada, Vol. 2, Capítulo 24, 452 p., Pipoca & Nanquim, 2020 (HQ)

Hiroshi Hirata, Satsuma Gishiden: Crônicas dos leais guerreiros de Satsuma, tradução de Drik Sada, Vol. 3, Capítulo 34, 436 p., Pipoca & Nanquim, 2020 (HQ)

Ivantir Antonio Borgo, UFES 40 anos de história, 2ª edição, EDUFES, 2014

Javier Moro, O império é você, tradução Clene Salles, Planeta, 2012

João Moreira Salles, Arrabalde: Em busca da Amazônia, Companhia das Letras, 2022

João Saldanha, Vida que segue: Saldanha e as copas de 1966 e 1970, organização de Raul Milliet, Nova Fronteira, 2006

John Huston, Um livro aberto, tradução de Milton Person, L&PM, 1980

Kafka, Franz, O processo, tradução de Modesto Carone, Companhia das Letras (Companhia de Bolso), 2005

Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Vol. 1: O processo de produção do capital, (Tomo 1 - Cap. de I a XII), apresentação de Jacob Gorender, coordenação e revisão de Paul Singuer e tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, Abril Cultural, 1983

Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Vol. 1: O processo de produção do capital, (Tomo 2 - Cap. de XIII a XXV), apresentação de Jacob Gorender, coordenação e revisão de Paul Singuer e tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, Abril Cultural, 1984

Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Vol. 2: O processo circulação do capital, editado por Friedrich Engels, apresentação de Jacob Gorender, coordenação e revisão de Paul Singuer e tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, Abril Cultural, 1983

Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Vol. 3: O processo global da produção capitalista, (Tomo 1 - 1ª parte), editado por Friedrich Engels, apresentação de Jacob Gorender, coordenação e revisão de Paul Singuer e tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, Abril Cultural, 1983

Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Vol. 3: O processo global da produção capitalista, (Tomo 2 - 2ª parte), apresentação de Jacob Gorender, coordenação e revisão de Paul Singuer e tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe, Abril Cultural, 1985

Karl Marx, Grundrisse: manuscritos ecônomicos de 1857-1858: esboços da economia política, tradução de Mário Duayer e Nélio Schneider, 788 p., Boitempo, 2011

Labatut, Benjamiín, MANIAC, tradução de Paloma Vidal, Todavia, 2023

Laura Carvalho, Valsa brasileira: do boom ao caos econômico, Todavia, 2018

Leonardo Pandura, Água por todos os lados, tradução de Mônica Stahel, Boitempo, 2020

Leticia Tandeta Tartorotti, Tirem meu nome de mim, 7Letras, 2014

Levi-Strauss, Claude, Tristes trópicos, tradução de Rosa Freire D'Aguiar, Companhia das Letras, 1996

Lillian Ross, Filme: um retrato de Hollywood, tradução de Pedro Maia Soares, Companhia das Letras, 2005

Lillian Ross, Sempre reporter, tradução de Jayme da Costa Pinto, Carambaia, 2024

Lorena Calábria, Da lama ao caos: Chico Science & Nação Zumbi, Cobogó, 2019

Luci Banks-Leite, Izabel Galvão e Débora Dainez (organizadoras), O garoto selvagem e o Dr. Jean Itard: História e diálogos contemporâneos, Mercado de Letras, 2017

Luis de Camões, A chave dos Lusíadas. Prefácio, paráfrase e notas por José Agostinho. 11.ª Edição. formato: 19x12 cm, 613 p. Livraria Figueirinhas. Porto. 1945

Lytton Strachey, Rainha Vitória, tradução de Luciano Trigo, Record, 2001

Machado de Assis, Obra completa, Volume I: Romance, Editora Nova Aguilar, 1986

Machado de Assis, Obra completa, Volume II: Conto e teatro, Editora Nova Aguilar, 1986

Machado de Assis, Obra completa, Volume III: Poesia e crônica, Editora Nova Aguilar, 1986

Marçal Aquino, O invasor, Geração Editorial, 2002

Maria José Silveira, Eleanor Marx, a filha de Karl, Francis, 2002

Marilyn Monroe: fragmentos: poemas, anotações íntimas, cartas, organizado por Stanley Buchtal e Bernard Comment, tradução de Renato Resende, Aline Tenório Cordeiro e Marcelo Rede, Tordesilhas, 2011

Mário Magalhães, Marighella, o guerrilheiro que incendio o mundo, 732 p., Companhia das letras, 2012

Mario Prata, O drible da vaca, Record, 2021

Martin Cezar Feijó, O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural, 2ª edição, Boitempo, 2022

Martin Heidegger, Ser e o tempo, tradução e organização de Fausto Castilho, edição em alemão e português, 1199 p., Editora Vozes, 20112

Milo Manara, Caravaggio: a morte da virgem, roteiro e arte de Milo Manara, tradução de Michele Vartuli, fomato: 32 × 24 × 1 cm, 64 p. Veneta, 2015 (HQ)

Mizukami, Maria da Graça Nicoletti, Ensino, as abordagens do processo, E.P.U, 2003

Nilson Cardoso de Carvalho, Adelino Manoel e seus descendentes, Rumograf, 1995

Osório Rocha, Barretos de outrora, São Paulo, 1954

Oswaldo Mendes, Bendito maldito: uma biografia de Plínio Marcos, Leya, 2009

Paulo Emílio Sales Gomes e Lygia Fagundes Teles, Capitu, 2008, Cosacnaify

Paulo Freire, Vida e obra, Organizado por Ana Inês Souza, Expressão Popular, 2001

 Pauline Kael, 1001 Noites no cinema, tradução de Marcos Santarrita e Alda Porto, seleção de Sérgio Augusto, Compnhia de Letras, 1994

Peter Bogdanovich, Este é Orson Welles, tradução de Beth Vieira, 651 p., Globo, 1995

Peter Bogdanovich, Afinal quem faz os filmes, tradução de Henrique W. Leão, 978 p., Coompanhia das Letras, 2000

Philip K. Dick, Minority report - A nova lei, tradução de Ana Luiza Borges, Record, 2002

Philip K. Dick, Androides sonham com ovelhas elétricas (livro que deu origem ao filme Blade Runner, o caçador de androides), tradução Ronaldo Bressane, Aleph, 2014

Pushkin, Alexandr, Eugênio Oneguin, tradução de Dário Moreira de Castro Alves, Record, 2010

Remarque, Erich Maria, Sombras no paraíso, tradução de Belchior Cornelio da Silva, Record, 1971

Remarque, Erich Maria, Nada de novo no front, tradução de Helen Rumjanek, Abril Cultural, 1981

Roberto Lonchi, Caravaggio, tradução de Denise Bottmann, formato: 27x22cm, Cosacnaify, 2012

Rondon: inventários do Brasil, 1900-1930, Organização: Magali Romero Sa, Lorelai Kury Formato: 300 p., 28,7 x 30,8 cm, Autores: Nísia Trindade de Lima, Dominichi Miranda de Sá, Magali Romero, Maria de Fátima Costa, Íris Kantor, Fernando de Tacca, Marta Amoroso, Paula Montero, Laurent Fedi e Lorelai Kury, Idioma: Bilíngue, Edição: 2017

Sainte-Hilaire, Auguste, Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce, tradução de Milton Amado, Editora da USP, 1974

Samuel Fuller, Se você morrer, eu te mato!, idealização de Julio Bezerra e Ruy Gardner, organização editorial de Ruy Gardner, Fundação Cultural Banco do Brasil, 2013

Sebastião Salgado, Gênesis, formato: 24.3 x 4.7 x 35.5 cm, 520 p., Taschen, 2013

Sérgio Augusto, Vai começar a sessão: Ensaios sobre cinema, Objetiva, 2019

Tchekhov, As três irmãs; teatro e contos, traduções de Maria Jacintha e Boris Chnaiderman, Abril Cultural, 1979

Thomas Mann, Morte em Veneza, tradução de Eloisa Ferreira Araújo Silva, Biblioteca O Globo, 2003

Tom Cardoso, Tarso de Castro: a vida de um dos mais polêmicos jornalistas brasileiros, Planeta, 2005

Traven, B., O navio da morte, tradução de Érica Gonçalves Ignacio de Castro, Imprimatur, 2023

Truman Capote, A sangue frio: relato verdadeiro de um homicídio múltiplo e suas consequências, Companhia da Letras, 2003

Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana, tradução de Eliana Aguiar, Record, 2005

Veríssimo, Luis Fernando, A mãe de Freud, 13ª edição, L&PM, 1987

Vincent van Gogh, Cartas a Theo, tradução e introdução de Felipe Martinez, organização e notas de Jorge Coli e Felipe Martinez, 2023, Editora 34

Victor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e voto, 3ª edição, Nova Fronteira, 1997

Vinicius de Moraes, Poesia completa e prosa, Nova Aguilar, 1987

Vygotsky, Pensamento e linguagem, tradução de Jeferson Luiz Camargo, 3ª edição, Martins Fontes, 1991






terça-feira, 8 de julho de 2025

Pepe Mujica

De preso político por 12 anos a presidente do Uruguai: veja a trajetória excepcional de Pepe Mujica 
Gabriel Vera Lopes, Brasi de Fato, Havana (Cuba), 19/05/2025

As pessoas têm que ter em conta que estar vivo é um milagre. Viemos do silêncio mineral e voltaremos ao silêncio mineral”. Pepe Mujica 


Ser tupamaro é ser alguém que continua lutando pela justiça social. E mudança não é dar moedinhas às pessoas. Não quero capitalismo bom, não é possível humanizar o capitalismo. Estamos contra o capitalismo.” Anahit Aharonian

 
Antigos membros do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros José Mujica (esquerda) e Maurício Rossencoff (direita), ao lado de Adolfo Wassen Jr. em 14 de março de 1985, dia de sua libertação como prisioneiros políticos, em Motevidéu - AFP PHOTO / AGENCIA CAMARA TRES

Filho de Demetrio Mujica Terra e Lucy Cordano Giorello, “Pepe” Mujica cresceu nos arredores de Montevidéu, em Paso de la Arena, em uma família de pequenos trabalhadores rurais. Sua mãe era horticultora e seu pai, pequeno agricultor que faleceu em 1940, quando Mujica tinha apenas seis anos de idade.

Desde cedo, Mujica trabalhou vendendo flores para ajudar a mãe, hábito que, assim como o amor pela terra, o acompanhariam por toda a vida, até seus últimos dias. A necessidade de trabalhar o impediu de concluir os estudos e, muito jovem, começou a se envolver nos problemas do país e nas causas dos trabalhadores. Aos 14 anos, passou a acompanhar as mobilizações por melhores salários.
Como herança familiar, no início da juventude, foi membro do Partido Nacional (PN), onde chegou a ocupar o cargo de secretário-geral da Juventude. No entanto, apesar da perspectiva de uma carreira promissora, deixou o partido para se engajar em movimentos de esquerda.
Na metade da década de 1960, influenciado pela Revolução Cubana e por um contexto de lutas sociais em todo o continente, Pepe Mujica foi um dos fundadores do Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma organização político-militar que se tornaria uma das mais relevantes da América Latina.

O grupo executou o policial estadunidense conhecido nos círculos militares como “o mestre da tortura”, Dan Mitrione, que participou pessoalmente da preparação e do treinamento de grupos de extermínio dedicados ao sequestro e à eliminação de militantes políticos, sindicais e sociais durante a ditadura brasileira. Naquele período, ele viajou ao Uruguai como chefe do Escritório de Segurança Pública dos Estados Unidos, com o objetivo de assessorar o governo na criação dos tristemente célebres “esquadrões da morte”.
Mujica foi baleado e preso em quatro ocasiões. Até que, em 1972 — junto com um grupo de militantes — foi capturado e submetido à tortura por quase 13 anos. No entanto, nem o terror mais abominável foi capaz de fazê-lo desistir.

Pepe jamais abandonou seu compromisso político, nem sua pregação por uma vida que valha a pena ser vivida — desprovida da ambição de acumular riquezas. Considerado “o presidente mais humilde do mundo”, Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015.
Durante seu mandato, recusou-se a viver na residência oficial e continuou morando, ao lado de sua companheira Lucía Topolansky, em sua modesta chácara de 20 hectares, localizada em Rincón del Cerro, uma zona rural próxima à capital uruguaia. Além disso, doava 90% do seu salário para projetos sociais e outros 5% para o Movimento de Participação Popular (MPP). Constantemente questionado sobre seu estilo de vida simples, Mujica costumava dizer: “Não sou pobre, apenas ando leve”.
“Se eu pudesse viver de novo, dedicaria minha vida ao meu povo”, afirmou Mujica em um comovente discurso dirigido à juventude, em 2023.

A mais extraordinária fuga

Ninguém os tinha visto. Ninguém os tinha ouvido. Naquela manhã, quando os guardas iniciaram a inspeção rotineira nas celas, eles simplesmente haviam desaparecido. Imediatamente, o som desesperado das sirenes se misturou aos gritos perplexos dos guardas.
Durante todo aquele tempo, eles estiveram ali, bem debaixo dos narizes dos carcereiros, planejando e executando — com precisão de relógio — uma das fugas mais extraordinárias e numerosas que a história do continente já conheceu.

Naquela segunda-feira, 6 de setembro de 1971, sem que ninguém percebesse, 106 prisioneiros políticos do Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T) — juntamente com cinco detentos comuns que colaboraram com eles — conseguiram escapar da prisão de Punta Carretas, uma das mais seguras do Uruguai.
Cada detalhe havia sido meticulosamente planejado. Durante semanas, os Tupamaros construíram uma rede de passagens que ligava diferentes celas do segundo e terceiro andares — onde estavam os presos políticos — a uma cela no térreo. A partir dali, cavaram um túnel que levava até uma casa localizada na calçada do outro lado da rua da prisão.

As ferramentas utilizadas eram fabricadas dentro da própria prisão. A terra e os entulhos removidos eram escondidos debaixo das camas ou disfarçados com pôsteres de clubes de futebol e modelos pendurados nas paredes. Em alguns casos, chegavam até a subornar guardas para evitar que revistassem as celas.
Nas primeiras horas da manhã, enquanto os guardas descansavam, os 111 fugitivos escaparam, um a um, em direção a uma casa onde uma célula tupamara os aguardava. De lá, um comando da organização ficou encarregado de distribuir os militantes por diferentes pontos da cidade, onde eram recebidos em casas clandestinas.

O plano de fuga foi concebido de dentro da própria prisão. Entre seus idealizadores estava o principal líder da organização, Raúl Sendic, acompanhado de outras figuras importantes como José “Pepe” Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro, Jorge Zabalza e Jorge Amílcar Manera Lluberas — engenheiro civil responsável por calcular a rota do túnel com base em antigos esboços da prisão obtidos com um preso comum.

A ação ocorreu simultaneamente a uma série de operações realizadas pelos Tupamaros em La Teja — um bairro histórico da classe trabalhadora, com forte tradição sindical e militante. Lá, o grupo montava barricadas e executava ações relâmpago com o objetivo de distrair a atenção das forças policiais.
Naquela madrugada de 6 de setembro de 1971, “Pepe” Mujica viu, pela primeira vez, Lucía Topolansky — que viria a ser sua companheira para toda a vida. Ela integrava a equipe de militantes que operava do lado de fora, garantindo a viabilidade da fuga. Apenas dois meses antes, Lucía havia sido uma das organizadoras da Operação Estrela, na qual 38 mulheres presas políticas escaparam da prisão feminina de Cabildo.

A notícia estampou as primeiras páginas dos jornais ao redor do mundo. A fuga espetacular tornou-se uma das ações de propaganda mais emblemáticas da luta armada urbana, em um contexto regional atravessado por movimentos revolucionários em diversos países do Cone Sul.

A longa noite

A primeira vez que sentiu o calor do sol no rosto, Mujica não conseguiu conter o choro. Durante anos, a ditadura civil-militar uruguaia o submeteu a todo tipo de tortura física e psicológica, chegando a mantê-lo preso em um buraco, em condições desumanas, sem sequer ver a luz do dia.
Segundo seu próprio testemunho, durante esses anos, a luta mais difícil e desgastante foi contra a insanidade. As torturas constantes e o isolamento total lhe causaram graves distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Naquela época, para manter algum contato — por mais tênue que fosse — com a realidade, ele caminhava de um lado para o outro nas minúsculas celas para onde era levado, contando os próprios passos.

“Para nós, o sol foi aparecendo aos poucos”, diz ele em uma comovente entrevista ao semanário Brecha, concedida há 25 anos. “O homem não é ele mesmo; o homem é fruto das vicissitudes, das adversidades. Alguns de nós tiveram a sorte de a vida nos apertar, mas não nos derrubar. Ela nos deu licença para continuar vivendo e, até certo ponto, colher o mel que conseguimos extrair em meio à amargura”, acrescenta na mesma conversa, apesar das humilhações indescritíveis às quais foi submetido.
Assim como a maioria dos líderes dos Tupamaros — juntamente com outras organizações de esquerda, como o Partido Comunista Uruguaio — Mujica foi novamente preso nos primeiros meses de 1972. Foi a quarta vez que ele foi detido, e essa seria a mais longa: ele permaneceria encarcerado por quase treze anos.

Em meados de abril daquele ano, o governo de Juan María Bordaberry — pertencente ao setor ruralista do tradicional Partido Colorado — conseguiu que o Parlamento uruguaio declarasse o “Estado de Guerra Interna”, autorizando assim as Forças Armadas a atuarem como forças policiais em todo o país. A militarização da segurança interna veio acompanhada da suspensão das garantias constitucionais e do uso sistemático da tortura como método para obtenção de informações.

Entre abril e setembro de 1972, vários dos principais líderes do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) foram assassinados, enquanto outros nove — Raúl Sendic, José “Pepe” Mujica, Eleuterio Fernández Huidobro, Mauricio Rosencof, Adolfo Wasem, Jorge Manera, Julio Marenales, Jorge Zabalza e Henry Engler — foram sequestrados em operações militares violentas. Assim como centenas de outros presos políticos, nenhum deles foi submetido a julgamento.
O então presidente Juan María Bordaberry, alegando que uma suposta “conspiração contra a pátria” estaria “infiltrada nas próprias instituições”, decidiu, em 27 de junho de 1973, em acordo com os militares, dissolver os poderes legislativos e suspender o regime constitucional, dando início ao golpe de Estado que governaria o país até 1985.

Após o golpe, os nove presos políticos foram escolhidos pela ditadura como “reféns”. Em uma operação brutal, eles foram retirados de suas celas com as cabeças cobertas, encapuzados e algemados, sendo transferidos para diferentes quartéis militares ao redor do país. Assim começava uma longa e aterrorizante peregrinação por diversos centros de detenção.
Divididos em grupos de três, foram mantidos em condições desumanas: trancados em masmorras minúsculas, submetidos a torturas físicas e psicológicas, sob vigilância constante e praticamente sem qualquer contato humano. Durante quase doze anos, viveram sob um regime de terror que buscava destruir sua saúde física e mental.

Os anos mais terríveis duraram até 1980. Naquele ano, a ditadura convocou um plebiscito com o objetivo de aprovar uma nova Constituição que consolidaria ainda mais o poder das Forças Armadas. Apesar do controle da mídia e da repressão aos opositores, o “NÃO” à nova Constituição venceu, com 57,2% dos votos.

Naquela noite, os prisioneiros foram brutalmente torturados pelos militares. No entanto, também teve início um longo processo de enfraquecimento da ditadura, que culminaria nas eleições gerais e na reabertura constitucional em 1985. Por meio de uma anistia, Mujica recuperou sua liberdade, juntamente com centenas de outros presos políticos.
Na época de sua libertação, ele tinha quase 50 anos. A partir de então, Pepe voltaria a se reunir com Lucía Topolansky, com quem compartilharia o restante de sua vida até o momento de sua morte.

As mateadas

Suas atividades políticas recomeçaram quase imediatamente após a libertação da prisão. Mujica conta que sua primeira tarefa militante foi encontrar um lugar onde pudesse se reunir com seus companheiros para planejar os próximos passos.
Apenas duas semanas depois de Julio María Sanguinetti assumir a presidência, os Tupamaros que haviam sido “reféns” da ditadura realizaram uma coletiva de imprensa histórica. Transmitido pelos canais de televisão, o grupo anunciou que voltava às ruas “em espírito de paz” para “atuar intensamente dentro da legalidade vigente”.

Naquela ocasião, anunciaram que continuariam sua luta com base em três pilares: a reforma agrária, a nacionalização dos bancos e o não reconhecimento da dívida externa contraída pela ditadura.
Uma nova e intensa etapa começava na vida de Pepe Mujica. Naqueles anos, ele se tornou um dos principais oradores nas “mateadas”, como eram chamadas as reuniões em espaços públicos, onde o MLN-T compartilhava o mate, conversava com os vizinhos e respondia a perguntas sobre seu passado militante, o período na prisão e sua visão sobre a situação política do país.
Em uma entrevista à televisão espanhola em 1987, Mujica declarou: “Sem sermos reformistas, temos que apoiar soluções tipicamente reformistas, porque a coisa mais valiosa que este povo tem é a liberdade política”.

Naqueles anos, as divergências políticas entre os membros do MLN-T também começaram a se tornar mais evidentes. Esse processo se intensificou com a morte de seu líder histórico, Raúl Sendic, em 1989.
Nesse mesmo ano, Mujica foi uma das principais forças por trás da criação do Movimento de Participação Popular (MPP). Ele conseguiu integrá-lo à Frente Ampla — uma coalizão de partidos de esquerda e centro — apesar da resistência do Partido Comunista. Com a entrada do MPP, a Frente Ampla passou a experimentar um expressivo crescimento eleitoral, que, anos depois, levaria a coalizão a governar o país. Esse também foi um período em que Mujica passou a adotar posições mais moderadas, vistas por alguns setores como um afastamento das propostas originais do movimento.

O triunfo eleitoral da Frente Ampla

A vitória da Frente Ampla (FA) nas eleições gerais de 2004 foi marco histórico para o país. Pela primeira vez, uma coalizão de esquerda chegou ao governo nacional, encerrando décadas de alternância entre os partidos tradicionais, Colorado e Nacional. Naquele ano, Tabaré Vázquez, membro do Partido Socialista, venceu as eleições já no primeiro turno. A coalizão de esquerda havia se consolidado durante sua gestão à frente da Prefeitura de Montevidéu.
Após vários anos no Legislativo, Mujica foi nomeado Ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. No entanto, as tensões não demoraram a surgir. Apenas um ano após assumir o cargo, um grupo de trabalhadores rurais de Bella Unión ocupou 36 hectares de terra que estavam abandonados havia onze anos.

A ocupação reacendeu velhos fantasmas. Bella Unión não era um lugar qualquer: foi lá que, na década de 1960, surgiu o movimento da cana-de-açúcar liderado por Raúl Sendic, em torno do qual seria fundado o MLN-T. O governo acusou o movimento de ser “ultraesquerdista” e de “colocar pedras no caminho do governo”.
Sua presidência

A pessoa encarregada de colocar a faixa presidencial em Mujica, em 2010, foi Lucía Topolansky. O mérito foi totalmente dela, pois havia sido a legisladora mais votada do país. Ambos haviam sido torturados durante a ditadura, e foi juntos que não só conseguiram superar as adversidades, mas também alcançar uma centralidade política sem precedentes, fazendo com que boa parte do mundo passasse a conhecer esse pequeno país de apenas 3,5 milhões de habitantes.

“O amor tem idades. Quando você é jovem, ele é uma fogueira. Quando você é velho, é um hábito doce. Se estou vivo, é porque ela está”, disse Mujica em uma entrevista, dois anos antes de sua morte. Apesar das desconfianças de setores mais moderados da coalizão, Mujica conseguiu vencer as eleições internas do partido em 2009, com amplo apoio. Isso fez com que o MPP se tornasse o setor mais votado da coalizão. Nas eleições gerais, Mujica derrotou o candidato do Partido Nacional, Luis Alberto Lacalle Herrera.

Desde que assumiu o cargo, se tornou um dos líderes mais carismáticos do mundo, reconhecido internacionalmente por seu estilo de vida austero e por seu discurso ético, especialmente contra o consumismo. Sua presidência foi marcada principalmente pela expansão dos direitos. O aborto foi descriminalizado (2012) e a lei do casamento igualitário foi aprovada (2013), consolidando o perfil secular e a cultura progressista do país. Durante seu mandato, o país vivenciou o maior período de aumento do salário mínimo para os trabalhadores, o que contribuiu para a redução da pobreza, além do crescimento do PIB. Mujica encerrou seu mandato como um dos presidentes com a imagem mais positiva do mundo, alcançando uma aprovação de 70%.

Além disso, ele foi fundamental para o retorno da Frente Ampla ao governo nas eleições de 2024. Mujica foi uma das principais forças motrizes por trás da campanha “A Frente Ampla ouve você”, na qual líderes e ativistas viajaram por todo o país com o objetivo de reconstruir laços e elaborar um programa coletivo para o próximo governo.

Em uma coletiva de imprensa em abril de 2024, o líder histórico da Frente Ampla anunciou que estava com câncer. Naquele mesmo dia, dirigindo-se aos jovens, Mujica declarou: “Aos jovens deste país, quero dizer que a vida é bela, mas ela se desgasta e vai embora (…) O cerne da vida é recomeçar toda vez que se cair.”

Em janeiro passado, ele anunciou que o câncer havia se espalhado por todo o seu corpo. Em meio à tristeza da despedida, afirmou que morreria em sua amada chácara e que desejava ser enterrado sob uma árvore, onde descansa sua querida Manuela, a cachorrinha que acompanhou o amor de Pepe e Lucía.

A maior conquista é que, quando eu partir, haverá um grande número de pessoas que continuarão militando e sonhando com um mundo melhor”, costumava dizer em suas últimas entrevistas.

O mundo se despede de um grande.

Editado por: Rodrigo Durão Coelho

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El Viejo tupamaro

Os amigos, os inimigos e o país envelhecido do uruguaio Pepe Mujica, um presidente fora do figurino

Carol Pires | Edição 73, Outubro 2012 

 
Mujica não quis viver na residência oficial, o palácio de Suárez y Reyes, mas ele e sua chácara passaram por modificações: o presidente foi barbeado e obrigado a usar blazer (gravata, jamais). Na casa, foram instaladas câmeras de vigilância FOTO: LEO BARIZONI 

Sua única irmã havia morrido na quarta-feira. Era a caçula, tinha 71 anos. Uma semana depois, no dia 15 de agosto, ele era esperado no Hipódromo Nacional de Maroñas, em Montevidéu, e estava atrasado. Pepe Mujica, presidente do Uruguai, soube, logo que acordou, da morte da mãe de um companheiro de militância política e decidiu encontrá-lo antes da agenda oficial. Pela segunda vez em sete dias ia a um velório. Enquanto o esperávamos no hipódromo, María Minacapilli, sua secretária particular há dezoito anos, recebeu um telefonema. Havia acabado de morrer Renzo Pi Hugarte, um conhecido antropólogo uruguaio, vítima de uma parada cardíaca. María desligou o telefone com feição incrédula. Logo em seguida chegou Mujica. Cumprimentou os jornalistas com uma simpatia comedida antes de ser abordado pela secretária e tomar conhecimento da morte de seu grande amigo. Mujica tem 77 anos. É meses mais novo que Hugarte.

Naquela quarta-feira, Mujica deveria ir a Pan de Azúcar, uma cidade de pouco mais de 6 500 habitantes, a 100 quilômetros de Montevidéu, para lançar um programa que dá às crianças acesso a um curso de língua estrangeira em seus laptops. Hoje, no Uruguai, todos os 300 mil alunos da rede pública têm um computador pessoal doado pelo governo. O presidente, porém, trocou de agenda na tarde anterior. No hipódromo, firmou um convênio para um programa de capacitação de jovens.

Pepe Mujica é um personagem que caberia tanto em um conto gauchesco quanto em um romance sobre a esquerda armada. Foi militante da guerrilha urbana Tupamaros, levou seis tiros, ficou quinze anos preso, onze deles em uma solitária, onde chegou a beber a própria urina para não morrer de sede. Disputou a primeira eleição aos 59 anos e nunca mais perdeu – foi senador reeleito e, há dois anos e meio, é presidente do Uruguai.

Mujica foi descoberto pelos jovens do continente depois de anunciar, em junho, que o Uruguai poderia legalizar o comércio da maconha. Outra imagem muito compartilhada nas redes sociais é o de um político buena onda, alto astral, personagem de uma simpática reportagem do jornal El Mundo, da Espanha, que o chama de “o presidente mais pobre do mundo”. Um artigo na revista britânica Monocle disse que ele é “o melhor presidente do mundo” e “o herói não reconhecido da América Latina”. Mujica mora numa chácara chamada La Puebla, nos arredores de Montevidéu, numa casa de um quarto com teto de zinco. Doa 90% do seu salário de presidente, equivalente a 25 mil reais. O único bem em seu nome é um Fusca azul de 1987. No site da Presidência uruguaia declara como profissão oficial: “chacareiro”.

Mas não era o Mujica buena onda que governava o Uruguai no começo de agosto. Era inverno, Montevidéu estava fria e gris. O tempo chuvoso estava em sintonia com o humor do presidente. Ele passou toda a cerimônia no hipódromo olhando o vazio, com o cotovelo apoiado na mesa e o queixo apoiado na mão. O dedo indicador tapava-lhe a boca, como quem pede silêncio. Comeu dois biscoitos, espremeu limão no chá e o bebeu. Estava triste.

Ao anunciar que a cerimônia estava para ser encerrada, o mediador perguntou se Mujica gostaria de fazer “alguma reflexão”. Depois de alguns segundos em silêncio, foi o que ele fez: uma reflexão. Não cumprimentou os excelentíssimos presentes, como em geral fazem os políticos, nem discursou sobre os feitos e os projetos do governo. Apenas se aproximou do microfone e falou sobre como a sociedade seria melhor se as empresas desenvolvessem “inteligência social”.

Um homem que não tinha uniforme nem credencial – o mesmo que havia chegado dirigindo o carro oficial da Presidência, um Corsa Sedan prata – avisou à imprensa que Mujica não iria se pronunciar. O presidente, que vestia um blazer cinza e um suéter verde-musgo puído, sentou-se no banco ao lado do motorista. Deixou a porta aberta, o que pareceu ser um código para que os repórteres se aproximassem. Dois temas estavam na pauta nacional naqueles dias: o aumento da criminalidade e uma disputa diplomática – mais uma – com a Argentina.

O Uruguai é o segundo menor país da América do Sul, o menos corrupto (segundo a ONG Transparência Internacional) e o mais seguro para se viver. Ainda assim, os índices crescentes de violência são o problema que mais preocupa a população. Neste ano houve 211 assassinatos no país. O número pode parecer risível: é quase a mesma quantidade de pessoas mortas por dia no Brasil. Mas já é muito superior aos 183 registrados em 2011. A violência doméstica também é motivo de inquietação. Foram 9 325 registros em 2011 inteiro e 12 004 neste ano, até agora. Sentado no carro, Mujica falou sobre a perda de valores familiares, mas disse que um psiquiatra poderia analisar melhor o assunto. “Ser presidente não nos dá credencial para saber de tudo.”

A próxima pergunta foi sobre política comercial e ele respondeu com um ditado: não se deve colocar todos os ovos numa cesta só. “É mais fácil vender para os vizinhos, que estão perto. Mas, bem… temos que sacudir a modorra”, disse. Referia-se ao protecionismo argentino enfrentado pelo Uruguai, que vive da exportação de carne, soja, lã e derivados do leite. Antes da terceira pergunta, o motorista ameaçou arrancar e Mujica fechou a porta. Nos dias seguintes, a frase dos ovos foi destacada em vários sites de notícia uruguaios e chegou à capa de uma revista semanal.

Pepe Mujica não mede palavras, fala palavrões, comete erros gramaticais, usa expressões que as novas gerações já não entendem. É comum que se valha de metáforas da vida no campo para explicar sua visão de governo. Pelo menos uma vez teve que se desculpar pela sinceridade. Durante a campanha à Presidência, foi lançado um livro chamado Pepe: Colóquios, no qual ele diz ao jornalista Alfredo García que os Kirchner eram “peronistas delinquentes”, o ex-presidente Carlos Menem, um “mafioso e ladrão”, e os argentinos, “histéricos, loucos e paranoicos”.

Ele nunca mais foi tão duro com os Kirchner. É até paciente demais, na opinião de alguns uruguaios. O seu antecessor, Tabaré Vázquez, também da Frente Ampla – a mesma coalizão de esquerda de Mujica –, passou o governo brigando com Néstor Kirchner, então presidente argentino, por causa da instalação de uma fábrica de celulose perto da cidade uruguaia de Fray Bentos, na beira do rio Uruguai, divisa entre os dois países. Os argentinos alegavam que a fábrica iria poluir o rio e tentaram embargá-la, levando o caso à Corte Internacional de Justiça. O troco veio quando Kirchner depois foi indicado para a Secretaria-Geral da União de Nações Sul-Americanas: Vázquez vetou o nome dele.

Na contramão, Mujica retirou o veto ao assumir a Presidência (e Kirchner assumiu o cargo, que exercia quando morreu em 2010). Tem tratado Cristina Kirchner com cortesia, apesar de os países estarem outra vez em uma disputa envolvendo o rio Uruguai. O imbróglio dessa vez está no canal Martín García, que precisa ser dragado para permitir a passagem de navios maiores. A obra custará 50 milhões de dólares, precisa ser decidida e paga por ambos os países, mas interessa muito mais ao Uruguai, já que o canal dá acesso ao porto uruguaio de Nueva Palmira. “O que vou fazer, furar o olho dela?”, respondeu Mujica quando pressionado a ser mais duro com a mandatária argentina. Ele diz que de vez em quando não se importa em “engolir sapos e cobras” pela paz na vizinhança.

Mujica se declara um pragmático e justifica-se lembrando que o Uruguai perdeu todas as vezes em que brigou com a Argentina. Mas a paciência excessiva com o vizinho corroeu parte de sua popularidade. O escritor uruguaio Tomás Linn, colunista da revista Búsqueda, comentou: “Mujica anda tão mal quanto Vázquez na relação com os argentinos, mas quer ser amigo. Vázquez foi mais duro. Com um ou com outro, perdemos igual. Então, pelo menos que não deixe os Kirchner conduzirem a relação como se o Uruguai fosse uma província argentina, porque nada irrita mais os uruguaios do que isso.”

É histórica a sensação do Uruguai de estar imprensado pelos gigantes Brasil e Argentina – de um século a outro, passou de região de disputa fronteiriça entre dois impérios, o português e o espanhol, a Estado-tampão. É um “algodão entre dois cristais”, como disse John Ponsonby, um ministro britânico mandado em missões diplomáticas ao estuário do rio da Prata na primeira metade do século XIX. O país, além de ser menor que o Rio Grande do Sul, tem população pequena (há dez anos mantém-se na faixa de 3 milhões) e envelhecida. São 19% os que têm mais de 60 anos (no Brasil são 11%). Soma-se ao cenário a alta emigração de jovens, em busca de empregos no exterior.

Os quadros políticos do Uruguai também carecem de renovação. As principais figuras da oposição hoje são ex-presidentes ou herdeiros de famílias que se revezavam no poder antes de a Frente Ampla chegar à Presidência, em 2005. Até quatro décadas atrás, o país era bipartidário. Havia o Partido Colorado e o Nacional ou Blanco – ambos abrigam grupos de orientação centrista e de direita, sendo os colorados originalmente ligados à elite comercial urbana e os blancos aos grandes fazendeiros. Fundados em 1836, os dois estão entre os partidos mais antigos do mundo. O Partido Trabalhista inglês, por exemplo, é de 1900. A Frente Ampla só surgiu em 1971 e abriga todo o espectro de esquerda, de comunistas a social-democratas.

Tabaré Vázquez foi o primeiro presidente frente-amplista. Oncologista que, mesmo na Presidência, nunca deixou de atender seus pacientes às terças-feiras, Vázquez é mais popular que Mujica. No Uruguai, o mandato dura cinco anos, não há reeleição, e ele é o mais cotado para ser candidato em 2014. Se a eleição fosse hoje, ganharia dos candidatos da oposição, que devem ser os senadores Jorge Larrañaga, pelos blancos, e Pedro Bordaberry, pelos colorados. Este último é filho de Juan María Bordaberry, o presidente que comandou o golpe de Estado de 1973 e morreu no ano passado. Já Larrañaga foi candidato a vice na chapa de Luis Alberto Lacalle quando Mujica foi eleito, no final de 2009.

Luis Lacalle é um homem hiperativo, de ar aristocrático. Ele me recebeu numa tarde de agosto em seu gabinete no Senado, onde mantém na parede uma foto do avô, Luis Alberto de Herrera, o principal caudilho do Partido Blanco na primeira metade do século passado. Apontou onde eu deveria me sentar e pediu que a entrevista fosse gravada porque anotações “are not reliable”. Lacalle foi presidente num momento de predomínio neoliberal no continente, quando Fernando Collor presidia o Brasil e Carlos Menem, a Argentina. De Collor, disse: “Era um menino bonito, mas ignorante.” Os três, mais o presidente paraguaio Andrés Rodríguez, assinaram o Tratado de Assunção, que sacramentou a criação do Mercosul.

Em meia hora de entrevista, Lacalle criticou Mujica por não ter voz de comando. Disse que o presidente não consegue executar promessas mesmo tendo maioria no Parlamento, e que as iniciativas que põe em prática são clientelistas. “Tem 100 mil pessoas ganhando salário sem trabalhar. Dão o dinheiro e não pedem nada em troca, se os filhos vão à escola ou não, não importa. É um mensalão, mas um mensalão dos pobres”, disse, batendo as mãos em estalo. O programa, na verdade, exige que as famílias que recebem a ajuda mantenham os filhos na escola. São 412 mil crianças e adolescentes beneficiados pela Asignación Familiar, um correspondente do Bolsa Família, criado no governo de Vázquez.

Na maior parte do tempo, o senador olhava para as paredes ou para o chão. Em determinado instante, enquanto falava, enfiou o dedo indicador entre meus dedos dos pés por uma fenda do sapato. Ignorei o gesto. Ele riu, logo retraiu a mão e prosseguiu: “Vázquez é uma pessoa mais séria, mais como um social-democrata francês. Mujica é um homem mais radical. Inventou um personagem que é mais importante que a pessoa, o personagem Pepe, um personagem folklore”, explicou, com sotaque inglês. Mujica “passa do limite quando vai a uma cúpula política com sapatos velhos”, diz ele. “É uma grosseria.”

Semanas antes, o presidente havia feito uma viagem bate-volta ao Brasil para encontrar Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. O encontro oficializou a entrada da Venezuela no Mercosul depois que Fernando Lugo foi destituído da Presidência do Paraguai pelo Senado e o país, único que ainda não tinha aprovado a inclusão venezuelana, foi suspenso do bloco por desrespeito à democracia. No dia seguinte, o jornal O Globo trouxe na capa uma foto cuja legenda anunciava um momento de descontração dos três mandatários, surpresos com o estado dos calçados de José Mujica.

Antes de sair de casa, ele tinha comentado com a mulher, a senadora Lucía Topolansky: “E eu que vou ter que me portar hoje com aquelas duas senhoras.” Ainda assim, não escolheu sapatos melhores que as botinas de couro marrom surrado. No avião, comentou com os assessores: “Esses não são os melhores sapatos para uma cúpula, mas eles me deixam confortável.” Quem esteve com ele no Planalto diz que não houve comentário sobre os sapatos, mas, na hora em que os presidentes posaram, havia um papel no chão apontando onde cada um deveria ficar. Todos olhavam para baixo buscando seus lugares e a foto foi feita. Dilma, Cristina e Chávez podem não ter notado os sapatos, mas a oposição uruguaia viu e não gostou.

Em outros tempos, Mujica se preocupava ainda menos com a aparência. Quando era deputado e senador, ia para o Congresso com botas de plástico sujas de terra. Trabalhava na plantação de manhã cedo e chegava ao Parlamento com terra nas unhas, pilotando sua moto Vespa ou o Fusca 1987. O estilo desleixado, alheio a qualquer solenidade, foi ganhando a atenção dos jornalistas e enfurecendo a oposição, conforme Mujica crescia politicamente. Quando foi candidato a vice na chapa de Lacalle, Jorge Larrañaga afirmou que o adversário, se eleito, governaria “debaixo de uma parreira, com dois vira-latas que o avisarão quando os ministros chegarem”. Lacalle também se referiu à casa do agora presidente como um “casebre”.

“Eu o convidei para ir tomar um café com a gente, mas ele não quis”, diverte-se Lucía Topolansky, mulher de Mujica, falando de Lacalle. Ela e Mujica vivem juntos desde 1985, mas casaram-se apenas em 2005, sem festas, na própria casa. Lucía tem 68 anos e parece muito sintonizada com o marido: além de nunca discordarem na política, usam o mesmo cabelo branco curto e roupas simples. Ela escolhe sapatos baixos, não põe brincos nem pinta as unhas. A novela política dos dois começa com a militância no Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, quando queriam acabar com o capitalismo no Uruguai, e chega ao auge quando ela, senadora mais votada em 2009, toma o juramento dele como presidente eleito.

Lucía e Mujica tiveram outros companheiros na militância clandestina. O dela foi morto. O primeiro encontro dos dois – “Ana” e “Facundo” – durou pouco. Mujica já conhecia María Elia, irmã gêmea de Lucía, mas só foi apresentado à futura mulher três meses antes de ser preso. Era 1971. Ambos fugiram da prisão – ele em uma fuga que entrou para o Livro dos Recordes pela quantidade de fugitivos envolvidos (111); ela com outras 37 companheiras pelo esgoto –, mas foram capturados pouco depois. “Naquele momento vivia-se cada dia, vivíamos nessa filosofia. Tinha que desfrutar o momento e ponto”, recordou Lucía em seu gabinete no Senado, onde conta com apenas duas funcionárias e tem as paredes decoradas com fotos de Mujica, Che Guevara e Carlos Gardel. Só em 1985, com a Lei de Anistia, os dois se reencontraram. Viveram com a mãe de Mujica na casa onde ele havia crescido em Rincón del Cerro, a poucos minutos da chácara que ele e Lucía depois compraram. Hoje vivem com Manuela, uma vira-lata que só tem três patas.

Durante muito tempo, contam os vizinhos, a casa era de adobe (um tijolo de argila) com teto de palha. Lucía e Mujica só fizeram uma reforma e colocaram o teto de zinco quando ele foi eleito senador e os dois já estavam cansados demais para trocar a palha de tempos em tempos. A chácara fica no bairro Paso de la Arena, na saída oeste de Montevidéu, um local de sítios e de pequena atividade industrial, agrícola e granjeira.

Ironicamente, a casa de Mujica fica no Camino Colorado, atrás de árvores altas que a escondem dos olhares de fora. O caminho até a porta é de barro e apenas dois policiais vigiavam o local numa manhã de agosto. Em 2010, no Encontro Internacional de Murgas – uma espécie de bloco carnavalesco popular no Uruguai e na Argentina –, o grupo A Contramano venceu com um enredo e uma música que parodiavam a história de dois guardas que precisam se virar para proteger um presidente que sai sem avisar para fazer pequenas compras. Certa vez, Mujica foi com a cadela comprar uma nova tampa para o vaso sanitário. Acabou discursando de improviso (com a tampa na mão) para uma equipe de jogadores de futebol da terceira divisão que o avistou na mercearia. Outro grupo de murga, chamado Agarrate Catalina, o homenageou com uma canção que diz: “É preciso cortar-lhe o bigode, os pelos da orelha, do nariz e da nuca/ Bote fogo nas alpargatas/ e deem-lhe uma cachorrinha que pelo menos tenha as quatro patas.”

Mujica não quis viver na residência oficial, o palácio de Suárez y Reyes. Mas ele e a chácara tiveram que passar por modificações. O presidente foi barbeado e obrigado a usar blazer – gravata, jamais! Na casa, foram instaladas câmeras de vigilância e aberto um caminho alternativo que liga os fundos do terreno à rodovia. Lucía e Mujica, porém, não vivem sozinhos. Outras três famílias moram no sítio, em lotes doados pelo casal. Duas delas eles conheceram na militância política. A terceira passava por dificuldades financeiras e eles resolveram ajudar. No testamento do casal, consta que as outras famílias podem seguir vivendo ali depois da morte deles até quando precisarem, mas que o terreno será destinado a uma escola agrícola que estão organizando.

Em sua casa, o casal presidencial vive apenas com a cachorra Manuela, que ficou aleijada de uma das patas depois de ser atropelada pelo próprio Mujica, quando dirigia um pequeno trator agrícola. “Houve companheiros que tiveram filhos. Eu sempre optei por ter liberdade e não tive naquela época. Depois, não vieram”, diz a senadora, procurando se adiantar às perguntas: “Mas a casa sempre tem criança.” Na mesma construção, mas com portas de entrada independentes, vive o casal abrigado quando tinha problemas financeiros. Depois que passaram a viver na chácara de Lucía e Mujica, juntaram dinheiro e abriram uma pequena fábrica de garrafas de vidro. Ao falar das conquistas dos amigos, Lucía contou que a terceira filha do casal nasceu no sítio. Nesse momento, começou a chorar. “Ela tem 9 anos, é musicista. Toca violão.”

Na esquina do Camino Colorado há uma mercearia e açougue, onde Mujica faz compras. Os donos, Roberto e Anabel, dois uruguaios de pele e olhos claríssimos, são vizinhos do casal presidencial há dezenove anos. “Não posso me colocar no lugar da Lucía porque ela é mulher e eu sou homem, mas me afeiçoei a ela porque uma das coisas que ficou como consequência da tortura na ditadura foi não poder ter filhos. Depois de tudo o que eles sofreram, perdoar seus algozes e construir um país juntos? Isso fica além do que eu posso entender.” Roberto falava de Pedro Bordaberry, o filho do ditador uruguaio. Ao assumir a Presidência, Mujica convidou a oposição a ocupar cargos de direção em tribunais, como o de Contas e o Eleitoral, e em empresas públicas. Há três meses, Bordaberry mandou que seus correligionários deixassem os cargos depois de Lucía Topolansky dizer que, se a oposição estava insatisfeita, que renunciasse.

“Eles sempre olham para o futuro”, completa a mulher, Anabel. Quando engravidou pela primeira vez, Anabel reuniu os vizinhos para um jantar e contou a novidade. Pouco depois, sofreu um aborto espontâneo. Era 1994, antes de Mujica ser deputado. “Quando eu perdi o bebê, Mujica passou aí na frente com a moto e estacionou. Pensei que ia comprar algo, mas ele só veio e me deu um abraço.” Os dois só chamam Mujica de El Viejo [o velho].

No Carnaval, Roberto e Anabel passaram um fim de semana com Mujica e Lucía na casa de veraneio da Presidência, em Colônia do Sacramento, a uma hora de Montevidéu. A Estância Anchorena foi doada ao Uruguai por dom Aarón de Anchorena, de uma das famílias mais tradicionais da Argentina, com a condição de que o presidente da República a usasse pelo menos quarenta dias do ano. Mujica e Lucía Topolansky cumprem o acordo, mas não dormem na casa principal. Preferem uma suíte em um prédio anexo, reservado aos funcionários. Não se sentiam confortáveis em uma “casa-museu”, disse Lucía.

Negro Nievas, um enfermeiro e torneiro mecânico aposentado, vizinho de Mujica, também mostrou um álbum de fotos que tirou com a família na estância, num fim de semana em que ele, a mulher e os filhos participaram de um churrasco com o casal presidencial.

Nievas dirige um Ford Falcon de 1975 azul e tem trinta cachorros em casa. Disse que todos tinham nomes, mas só lembrou até o 18o. No momento em que chegamos para ver o álbum, outro vira-lata desconhecido estava na frente da casa e ele também o colocou para dentro. Nievas tem 73 anos e é amigo de Mujica desde os 7. Os dois eram vizinhos e estudaram na mesma escola. Quando perguntei sobre a infância dos dois, contou que a mãe de Mujica tinha um quiosque, do lado da escola, onde vendia material escolar e flores. Depois, começou a chorar. Emocionou-se várias vezes ao falar do amigo. Ele ainda guarda a carteirinha do Partido Comunista e tem em casa todos os livros já escritos sobre o presidente, com dedicatórias do próprio, todas terminadas assim: “Com razão e coração, Mujica.”

“É um romântico”, disse sobre Mujica o cientista político Adolfo Garcé, da Universidad de la República, estudioso da história dos tupamaros. Garcé enxerga muitas semelhanças entre a lógica guerrilheira e o governo de Mujica. A primeira é o pragmatismo: “Os tupamaros eram camaleões. Se mudava o entorno, eles mudavam.” No governo, Mujica “é igual”, ele diz. O presidente também segue obcecado com as pessoas que não têm onde viver. Ele vendeu prédios públicos, entre eles uma residência oficial em Punta del Este, para construir casas populares, e chegou a cogitar abrir o palácio Suárez y Reyes para os sem-teto se refugiarem durante o inverno. É para o plano de moradia do governo, chamado “Juntos”, que Mujica doa quase todo o seu salário.

Garcé aponta outra tática comum à guerrilha: quando o presidente introduz um novo assunto polêmico no debate para desviar a atenção de temas desfavoráveis ao governo. Quando Mujica e os outros presos políticos se preparavam para fugir de Punta Carretas, em setembro de 1971, os tupamaros que estavam em liberdade fizeram uma ação do outro lado da cidade. A polícia correu para lá e o presídio ficou desguarnecido. O cientista político faz a comparação: ao propor a regulação pelo Estado da produção e do comércio da maconha, Mujica desvia o foco do debate sobre o problema de segurança pública.

O governo estima que 300 mil pessoas – 10% da população – já experimentaram maconha ou a usam com alguma frequência. O porte e o consumo da droga não são criminalizados no país. O projeto de legalizar seu comércio foi mandado ao Congresso dentro de um pacote de dezesseis medidas para combater a violência. A legalização daria ao Estado controle sobre a venda e permitiria arrecadar recursos para desenvolver programas de tratamento dos viciados. Na Câmara, outros projetos defendem a legalização do autocultivo da maconha, mas ainda não há acordo sobre a quantidade que seria permitida.

A proposta do governo caiu na burocracia do processo legislativo e tramita lentamente, após a imensa repercussão inicial. Para a oposição e parte do eleitorado, ficou a impressão de que é mais uma medida anunciada e não cumprida por Mujica. “Ele fala sem preparação prévia, lança temas que notoriamente lhe ocorreram naquele momento. Não tem uma equipe para ensaiar com ele, então fala algo como proposta de governo e, quando não há quem o siga ou ele percebe que é um erro, volta atrás”, disse o ex-presidente Luis Lacalle.

Simpatizante do Partido Nacional e comentarista político na rádio El Espectador, Graziano Pascale foi o primeiro jornalista, ainda em 2007, a dizer que Pepe Mujica poderia ser candidato pela Frente Ampla. “As pessoas se irritaram comigo. Mujica não tinha os dentes, parecia um absurdo.” Para Pascale, a eleição de Mujica não significa que os uruguaios passaram a gostar de candidatos como ele, mais parecidos com o povo. Ele seria um caso único. “Mujica é esse tio velho e louco que toda família tem. Elegê-lo presidente foi uma loucura coletiva. A figura pública dele não combina com a vida normal do uruguaio.”

José Alberto Mujica Cordano é o primeiro filho do casamento de Demetrio Mujica e Lucy Cordano. O pai morreu cedo e a irmã mais nova, María, nasceu com limitações intelectuais. Foi ele quem sempre deu suporte à mãe, ajudando-a a plantar copos-de-leite em Rincón del Cerro, hoje distrito de Paso de la Arena, onde está sua chácara. Lucy também recebia ajuda financeira do pai, um imigrante italiano que tinha uma propriedade de 5 hectares em Carmelo, região vizinha à estância presidencial de Anchorena.

No ensino médio, Mujica se preparava para o curso de direito (que nunca terminou) quando começou a se inclinar para a esquerda. Ao jornalista Miguel Ángel Campodónico, no livro Mujica, ele diz: “Naquela época eu era meio anarquista. A militância estudantil de alguma maneira fez com que eu fosse me politizando. Sigo sendo anarquista, acho que sou bastante libertário, isso é inquestionável.” Nessa época, conheceu dois grandes amigos: Renzo Pi Hugarte, o antropólogo que morreu na segunda semana de agosto, e Enrique Erro, que viria a ser ministro de Indústria e Trabalho e introduziu Mujica na política. Ele era do Partido Nacional e foi nele que Mujica começou a militar.

O jovem Pepe Mujica devia ser o único morador de Paso de la Arena que assinava o Marcha, um semanário influente entre os anos 40 e 70 que tinha o escritor Juan Carlos Onetti como secretário de redação. Aprendeu a gostar da terra com o avô materno. Saiu dos catorze anos de prisão com a ideia fixa de ter uma chácara. O pai – também de Carmelo, uma área muito influenciada por Buenos Aires (ainda hoje o grosso do turismo em Colônia do Sacramento é de portenhos) – era um nacionalista peronista. Mujica lembra-se de ter visto a imagem de Juan Domingo Perón na primeira vez em que assistiu à televisão.

O Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros (MLN-T) surgiu em1965 reunindo anarquistas e socialistas de várias correntes inspirados pela Revolução Cubana de Che Guevara e dos irmãos Castro em 1959. Quando aderiu ao grupo, Mujica era ligado à União Popular, organização de esquerda criada por dissidentes do Partido Nacional. Em 1970, os tupamaros eram 5 mil. Os golpes capitaneados pelos militares pipocavam no continente – em 1964 no Brasil, em 1966 na Argentina. O socialista Salvador Allende, no Chile, seria derrubado em setembro de 1973, apenas dois meses depois do golpe de Estado no Uruguai.

Os tupamaros são mais controvertidos porque, diferentemente de grupos armados brasileiros que surgiram durante a ditadura, eles pegaram em armas, sequestraram e mataram ainda durante a democracia. Questionado se já matou alguém, Mujica respondeu que tinha má pontaria. O golpe cívico-militar no Uruguai, com a dissolução do Congresso por Bordaberry, só aconteceria oito anos depois da criação do movimento Tupamaros. Os guerrilheiros já estavam desarticulados e seus principais líderes, entre eles Mujica, presos como “reféns” do governo. Se a guerrilha fizesse mais ataques, eles poderiam ser mortos. “Fomos um produto social”, diz Lucía Topolansky. “Mas se o Lacalle te conta a história dos tupamaros dirá que tudo era sol e primavera quando caiu um raio no país.”

Anahit Aharonian, uma militante uruguaia que esteve presa com Lucía, diz que ainda tem alma tupamara. “Ser tupamaro é ser alguém que continua lutando pela justiça social. E mudança não é dar moedinhas às pessoas. Não quero capitalismo bom, não é possível humanizar o capitalismo. Estamos contra o capitalismo.” Anahit é agrônoma e me recebeu em sua casa, longe do centro de Montevidéu, usando brincos de penas feitos por índios bolivianos. Ela é uma das esquerdistas decepcionadas com o governo de Mujica. “Pensei que ele faria um governo à esquerda de Vázquez, mas ele seguiu as mesmas políticas do antecessor”, disse.

Ela contou que, quando Mujica era ministro da Agricultura de Vázquez, morreu um companheiro tupamaro e ele chegou ao cemitério no momento em que os presentes criticavam a promoção de um militar denunciado como torturador. Quando Mujica se aproximou, todos fizeram silêncio. “Eu disse: ‘Sabe por que esse silêncio? Porque estamos falando de vocês, que promoveram um militar que nós denunciamos.’” Segundo Anahit, Mujica perguntou: “E você ainda acredita na justiça dos homens?”

A militante acha incongruente que Mujica se vista modestamente, viva de maneira simples em uma chácara pregando contra o consumo, mas incentive o investimento estrangeiro no Uruguai. Coautora de um livro com depoimentos de ex-presas políticas, chamado De la Desmemória al Desolvido [Da Desmemória ao Desesquecimento], (disponível aqui) https://sitiosdememoria.uy/sites/default/files/2021-03/de-la-desmemoria-texto2.pdf ela também critica a mulher de Mujica por não aceitar falar do passado. “Com Lucía nunca pudemos trabalhar temas de memória. Ela sempre dizia: Não me encham o saco com isso.” O presidente chegou a defender prisão domiciliar para os poucos militares presos por crimes cometidos na ditadura porque já estão muito velhos.

Entrevista a ANAHIT AHARONIAN "El lado B de la guerra de Artsakh" vídeo 


Um negócio plantado: as monoculturas florestais no Uruguai Por Anahit Aharonian, Carlos Céspedes, Claudia Piccini e Gustavo Pinheiro* 

No que Anahit vê como traição e o sociólogo Adolfo Garcé como pragmatismo, Roberto e Anabel, os vizinhos de Mujica, enxergam a capacidade de esquecer o passado em nome de um projeto. “Um dia Lucía me perguntou se eu podia levar El Viejo de madrugada na rodovia, no dia seguinte. Às 5h30 cheguei lá e ele já estava acordado. Ele me contou que ia à inauguração de uma safra de arroz de uns fazendeiros ligados à direita. Era deputado nessa época. E me disse: ‘Sabe o que é? Nessa inauguração vai muita gente, de donos de terra a peões, e eu agora sou um representante nacional.’” Roberto diz que não seria capaz de perdoar e por isso vê em Mujica uma qualidade superior.

Tabaré Vázquez queria que Danilo Astori, seu ministro de Economia, fosse o candidato da Frente Ampla à sua sucessão. Mujica tinha sido o senador mais votado do partido, brigou e ganhou a indicação contra Astori (53% a 38%). A Frente Ampla abriga diversos partidos de esquerda e tenta contemplar a todos. O Movimento de Participação Popular (MPP), de Mujica, é o mais forte, mas compôs com Danilo Astori, do social-democrata Assembleia Uruguai, a chapa presidencial. Vázquez estava no Partido Socialista ao ser eleito, mas saiu em 2008 após ter vetado uma lei de descriminalização do aborto que havia sido aprovada pelo Legislativo. No fim de setembro, o Congresso estava prestes a aprovar legislação semelhante e Lucía Topolansky disse que Mujica não a vetará.

“Foi muito duro ir contra Tabaré Vázquez naquele momento”, diz a senadora Constanza Moreira. “Mas éramos muitos os que torcíamos pelo Mujica, uma opção mais à esquerda e menos tecnocrata.” Constanza diz que foi preciso convencer Mujica a candidatar-se. Ele achava que estava muito velho para disputar uma eleição. “Um dia estávamos no gabinete de Mujica, falando da política e das responsabilidades que recairiam sobre ele se fosse presidente, e ele falou que aquela era uma escolha trágica. Falamos sobre a incapacidade de decidir o próprio destino quando se é uma pessoa comprometida como ele”, disse Constanza.

Durante a campanha, Lucía fazia as vezes de secretária e assessora de imprensa. Os amigos ajudavam a selecionar com quem Mujica deveria falar ou não, depois de ter passado anos recebendo jornalistas não convidados na chácara. Dizia aos repórteres que, se não fosse eleito, não voltaria a ser senador, iria apenas dedicar-se a plantar acelgas. Ele fez uma campanha prometendo um governo mais alinhado ao ex-presidente Lula do que ao venezuelano Hugo Chávez. Lula, de quem é amigo, é seu modelo político. Apesar de tentar desvincular sua imagem de Chávez, também mantém boa relação com ele, e foi um dos apoiadores da entrada da Venezuela no Mercosul. Na eleição, Mujica recebeu 47,96% dos votos no primeiro turno e, no segundo, venceu Luis Lacalle com 1 197 638 votos, 52,39% do total.

Como os partidos são mais importantes que as personalidades no Uruguai, Vázquez volta a ser a opção lógica para a Frente Ampla em 2014 porque é a figura mais bem avaliada da coligação. A alternativa seria Daniel Astori, o vice de Mujica, responsável pela bem-sucedida política econômica do país. Os salários subiram 36,6% nos últimos sete anos, graças a um crescimento econômico médio de 6,4%. O desemprego bateu recorde mínimo neste ano: 5,3%. Agora 13,7% dos uruguaios vivem abaixo da linha da pobreza, uma redução de cinco pontos em um ano. Quase não há analfabetismo no Uruguai e todas as crianças estão na escola. Nenhum dos países do Mercosul tem indicadores sociais tão bons.

Ainda assim, as pesquisas de opinião mais recentes mostram que 39% dos uruguaios aprovam o governo de Mujica e 49% simpatizam com a figura do presidente. No início do governo, ele tinha quase 20% a mais de simpatia e aprovação. As brigas com a Argentina, a impressão de que o presidente divaga muito e executa pouco, índices crescentes de evasão escolar, a violência e a falência da Pluna – a única empresa aérea uruguaia, controlada pelo governo em parceria com um fundo argentino – são alguns dos motivos que explicam a queda.

Na quinta-feira, um dia depois da morte de Pi Hugarte, houve uma manifestação em frente à chácara de Mujica – a primeira desde o início do governo. Seis sindicalistas esperavam ser recebidos pelo presidente para denunciar a demissão de 180 funcionários de uma empresa agrícola em plena colheita. No dia seguinte, uma sexta-feira, o Camino Colorado era vigiado por duas caminhonetes da polícia e um carro à paisana, além dos habituais guardas. Os sindicalistas acabaram desfazendo o acampamento, mas o dia terminou com a notícia da morte de outra amiga de Mujica, Lilí Lerena de Seregni, aos 96 anos. Ela era viúva do general Líber Seregni, fundador da Frente Ampla. Mujica compareceu ao quarto velório em dez dias. Em um deles, comentou com um servidor do cerimonial: “Melhor eu já ir embora, porque daqui a pouco aprendo o caminho…”

Mujica gosta de filosofar. É apaixonado por antropologia e botânica. Costuma falar à nação sobre a natureza humana e a “fragilidade da nossa casca civilizatória”. “As pessoas têm que ter em conta que estar vivo é um milagre. Viemos do silêncio mineral e voltaremos ao silêncio mineral”, disse recentemente. Explica ter escolhido ser pobre para ser rico, e sempre fala sobre a prisão que é pagar prestações para ter bens materiais. “Os velhos pensadores – Epicuro, Sêneca, inclusive os aimarás – definiam: pobre não é o que tem pouco, mas sim o que necessita infinitamente muito e deseja mais e mais”, discursou na Conferência Rio+20. É uma ironia que, no terreno onde ficava Punta Carretas, um dos presídios onde Mujica esteve, funcione hoje um shopping center.

Entre os nove antigos dirigentes tupamaros que eram considerados “reféns” durante a ditadura, diz-se que dois saíram mais debilitados da prisão, depois da Lei de Anistia: Pepe Mujica e Henry Engler. Engler chegou a ser diagnosticado com psicose delirante, mas em 2002 apresentou, em Estocolmo, na Conferência Mundial sobre o Alzheimer, o trabalho mais importante no estudo da doença desde que Alois Alzheimer a descobriu. Ele foi o primeiro a detectar no cérebro a proteína amiloide, que destrói os neurônios e causa a deterioração da memória.

Hoje com 65 anos e diretor do Centro Uruguayo de Imagenología Molecular, em Montevidéu, Engler respondeu por e-mail por que achava que ele e Mujica haviam chegado tão longe, depois de terem quase enlouquecido. “Na luta para superar a si mesmo, perdem-se os pensamentos de ódio e rancor e a solidariedade se transforma em uma forma de satisfação permanente. Creio que também se pode sobreviver pelo ódio, mas assim não se pode encontrar a felicidade”, disse. “Hoje somos loucos, mas loucos de sonhos.”


Perto do Natal do ano passado, Mujica visitou o hospital psiquiátrico Vilardebó e falou com os médicos e pacientes sobre seu momento de insanidade. Disse que, quando estava em um calabouço, ouvia ruídos, enlouqueceu. Atendido por uma psiquiatra, passou a receber uma quantidade de remédios que ele juntava e jogava fora. “Mas essa mulher me ajudou muito, porque conseguiu que me deixassem ler e escrever. Fazia anos que não lia nada nem podia escrever”, disse. Mujica contou que pediu livros de química para poder copiá-los e organizar os pensamentos. Assim recuperou a razão e pôde, ao sair em liberdade, voltar à política e chegar à Presidência: “E aqui estou, mais louco que antes.”


Carol Pires
É jornalista, roteirista, colaboradora do New York Times e colunista da Época online. Foi repórter da piauí de 2012 a 2016