segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A era do écran, a internet e o vício

Estranha esta dependência dos écrans. Como espécie, começamos a passar o tempo todo a olhar para os écrans. Não olhamos uns para os outros. Vamos à casa da família para jantar e o rapaz tem um Black Berry, a rapariga tem outro, o pequenino está a fazer os deveres no computador, o marido está a ver um jogo de hóquei e a mulher está a ver a Oprah. Vivemos em paralelo. Não olhamos uns para os outros, mas juntos para o écran. John Calley (1)

Vivemos na estranha era do écran, da imagem em tela plana. A charge abaixo do Miguel Paiva para o artigo Ger@ç@o vici@d@ (Ana Cláudia Guimarães, O Globo de 22/07/2012) mostra bem esta era.


Porque a tela plana do computador, da TV, do iPhone, Black Berry, do Tablet e outras bugigangas tecnológicas seduzem a geração do século XXI?  Nossos olhos vêm em 3D o mundo real. O écrans, em 2D, nos transportam para um mundo, virtual ou não, mais fácil para nossos olhos. Será?
Estamos na década 10 deste século. A novidade desta década é o acesso à internet não mais com o laptop residencial fixo, mas seu acesso via dispositivos móveis (wireless) como o iPhone, que não deixa de ser um computador. Por isso da cena, hoje comum, em restaurante: a família toda dialogando, em silêncio, com seus respectivos écrans como previu John Calley.

Você conhece pessoas viciadas em internet? Claro que conhece. É o vício contemporâneo. No artigo de O Globo, acima citado, o coordenador do Núcleo de Saúde Mental do Pró-Cardíaco, Rio de Janeiro, o psiquiatra Luiz Antônio Martins diz que esses pequenos viciados em tecnologia são como dependentes químicos e têm duas vezes ou mais chances de ter depressões e se tornarem reclusos: existe uma tendência que vem com a própria pessoa. É um adicto, um escravo do computador. São pessoas compulsivas.

Já convivi com viciados em drogas lícitas e ilícitas. Prazer e inferno convivem como irmãos. E uma característica peculiar: estes irmãos vivem num sem fim. Não existe limite enquanto não acabar a droga. O cara começa às 10 da noite de um dia e vai até às 10 da noite do outro dia. O fim acontece quando acaba a droga (cerveja, uísque, cocaína, maconha etc.) ou com a taquicardia.

Sobre o vício internet, uma pesquisa da Academia de Ciências de Wuhan, China, relata:
Os efeitos da Internet Addiction Disorder - IAD, ou Distúrbio pelo Vício da Internet -, que já é reconhecida pelos órgãos de saúde ao redor do planeta, reconhecendo como doentes aquelas pessoas que usam a internet de forma excessiva. Os cientistas analisaram o cérebro desses internautas, e descobriram que o vício em internet pode romper fiações nervosas no cérebro, causando assim um nível de dano cerebral semelhante ao que vemos nos viciados em drogas.
Durante os testes, alguns usuários tinham o seu acesso aos computadores negado. Eles experimentaram angústias e sintomas de abstinência, incluindo tremores, pensamentos obsessivos e movimentos involuntários dos dedos - como se estivessem digitando em um teclado imaginário.
Os cientistas utilizaram uma técnica de ressonância magnética por imagem, para olhar os efeitos do vício na internet na estrutura do cérebro. Os estudos foram realizados com 16 adolescentes que usam a internet de forma moderada, e outros 17 internautas que passam muito tempo conectados. Os resultados foram comparados caso a caso. Esse tipo de pesquisa, explorando as diferenças entre o cérebro normal e o cérebro de um indivíduo que sofre de vício de internet é algo inovador, já que os resultados mostram um impacto neural semelhante àqueles que sofrem de outros vícios. Isso mostra que as alterações sofridas em determinadas áreas do cérebro não são causadas apenas pelo consumo de substâncias externas, mas também por fatores comportamentais. (2)

Stanley Kubrick e Arthur C. Clark são os responsáveis pelo filme 2001 uma odisseia no espaço de 1968. Estão lá temas como exploração do espaço, inteligência artificial, naves e estações interplanetárias e a existência ou não de outros seres na via láctea. E, importante, a interferência das tecnologias na evolução dos seres humanos.
Kubrick tem uma obra cinematográfica com marcas no antibélico e no pessimismo em relação à humanidade e seu futuro. Os primeiros 20 minutos do filme mostram a evolução de uma comunidade de macacos desde seu início como herbívoros até os hábitos carnívoros e a descoberta das armas (ossos de animais abatidos) que utilizam em defesa de seus territórios.




A nave espacial é controlada por um computador de nome Hal (Heuristically programmed ALgorithmic computer). Os astronautas dialogam em viva voz com Hal o tempo todo. Num certo momento da estória tem início os conflitos da tripulação com a máquina. Hal é desligado após a morte de um astronauta devido a sua influência. A máquina nasce, vive e morre como os seres vivos.

O vilão do filme é Hal, o computador. Será profecia?

Citações

(1)    Depoimento de John Calley (1930-2011), produtor de filmes (como Closer – perto de mais de 2004) para o documentário Vision of a Future Passed: The Prophecy of 2001 de 2007 sobre o filme 2001, uma odisseia no espaço de Stanley Kubrick.

(2)    http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/01/viciados-em-internet-sofrem-danos-cerebrais-semelhantes-ao-efeito-de-drogas.html em 12/06/2012

(3)    2001, uma odisseia no espaço (1968), Stanley Kubrick, Blu-ray Disc, Videolar, 2007. O documentário citado em (1) consta deste DVD.