sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Violência no Espirito Santo. Até quando?


Jornal ES HOJE
Vitória 15 de dezembro de 2011, nº 362 

Editorial

Espírito Santo vice-líder em violência

O Espírito Santo só perde para Alagoas no “quesito” maior taxa de homicídios. De acordo com o Mapa da Violência 2012, divulgado esta semana, pelo Instituto Sangari, o Estado possui 50,1 homicídios por 100 mil habitantes. Em Alagoas essa taxa é de 66,8 assassinatos por 100 mil. O Brasil,
em 30 anos, a taxa de homicídios passou de 11,7 em cada grupo de 100 mil habitantes em 1980 para 26,2 em 2010. Vitória é a terceira capital mais violenta, com 67,1 assassinatos por cada 100 mil habitantes.

Cinco municípios do Estado fazem parte da lista dos 50 mais violentos do país:

Serra (16º lugar / 99,9 homicídios por cada 100 mil habitantes); Cariacica (26º /

80,8); Pedro Canário (32º / 76,4); Linhares (36º / 74,2); e São Mateus (46º / 72,5).

O Estado teve uma queda de 8,2% no número de homicídios de janeiro a novembro
(1.557), comparado com o mesmo período de 2010 (1.696). Mas, essa
redução não pode ser comemorada, principalmente, porque diz respeito a vidas que continuam
sendo perdidas, todos os dias.

No primeiro ano do governo Casagrande, o programa “Estado Presente” tem sido uma tentativa brecar esses números que permanecem alarmantes, integrando a ação de várias secretarias. A falta de policiais é uma queixa recorrente da população. O interior do Espírito Santo deixou de ser um local pacato faz tempo. As notícias de prisão e o crescimento de tráfico de drogas são problemas que merecem atenção.

Enquanto isso, menos da metade das delegacias do interior têm plantão no final de semana. Linhares e São Mateus se destacam como pólos regionais, que recebem investimentos que nascem com a cadeia de petróleo e gás, que se fortalece a cada dia no Estado. O destaque na violência seria o preço pago pelo progresso que chega sem uma política pública para reduzir de forma mais eficaz, as desigualdades sociais?

E Pedro Canário, o que explica tanta violência? O Espírito Santo tem municípios
que atualmente convivem com o tráfico na porta das pequenas casas, casas
que antes não sabiam o que era uma grade ou um muro.

Outro dado muito grave é que, no Espírito Santo, a cada 100 mil mulheres, 9,4 são
vítimas de homicídio – colocando o Estado na desagradável 1ª colocação de assassinatos de mulheres. Alagoas aparece em segundo, com 8,3 e, em terceiro, o Paraná com 6,3. O tráfico de drogas, mais uma vez, é apontado como principal causa.

É claro que a situação não pode ser mudada “da noite para o dia”. Mas, o
capixaba quer e precisa de uma resposta mais rápida. A população precisa de
mais. Pode parecer piegas, de tão óbvio, mas violência se “cura” com educação,
investimentos em saúde e qualidade devida e dignidade para a população. E
punição rigorosa para os crimes. Justiça mais célere. Presídios que façam de presos
cidadãos recuperados – e não pessoas mais violentas, ainda.

O que falta: policiais, políticas públicas mais eficientes e uma ação mais
ostensiva contra a violência e o tráfico? Ou todas essas alternativas juntas? Falta
lembrar que outros Estados, com população muito maior que a do Espírito Santo
têm taxa de violência muito menor – como é o caso de São Paulo, que possui
9,8/100 mil. Logo, a extensão territorial e o contingente populacional não podem
ser usados para explicar os resultados. O que não se pode dizer é que esse furacão não mexe com o telhado de ninguém – ou com o telhado só de um. O próximo ano será de eleições. Mais que promessas, a população precisa de resultados.

É uma rua que precisa ser iluminada, construção de creches, unidades de
saúde. Enfim, uma série de ações que são atribuições da municipalidade. Mas, a segurança pública não pode ser pensada de forma isolada. Não é problema de um só prefeito, de vereadores, ou, somente do Estado. É problema de todos – inclusive, dos eleitores. O povo capixaba quer e precisa ver o Espírito Santo liderar boas expectativas e ganhar da violência – e não perder a vida.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Educação e telemática

As tecnologias advindas do computador e da telemática (internet) modificaram nossa visão do ensino aprendizagem a partir das últimas décadas do século XX. Aprendemos com sites de busca como Google e Wikipedia. Aprendemos com e-mail, MSN, Orkut, chat, Facebook, twitter, jogos e ambientes virtuais da aprendizagem. São ferramentas telemáticas que ajudam a educação formal e a educação não formal.  São ferramentas que complementam os recursos computacionais tais como edição de texto, tabelas, gráficos e recursos de simulação. E porque estes recursos da telemática ajudam na aprendizagem? Porque tem na interatividade a base de suas aplicacações.
Aprendemos quando agimos e quando interagimos com o objeto do conhecimento e com as pessoas.
Segundo Piaget, tanto na vida social quanto na vida individual o pensamento procede da ação e uma sociedade é essencialmente um sistema de atividades, cujas interações elementares consistem, no sentido próprio, em ações se modificando umas às outras, segundo certas leis de organização ou equilíbrio (Piaget, 1972).
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O galês Cameron Thompson tem 14 anos e está estudando Matemática Aplicada na Open University. Em depoimento à BBC, ele fala sobre as dificuldades que enfrenta por ser um adolescente superdotado. Aos 10 anos, ele participou de um concurso de matemática na internet. "Eu fiz 140 pontos em um teste com pontuação máxima de 140. Quebrei o sistema, acho que me saí bem", conta. Mas ser um gênio da matemática tornou-se a identidade completa de Cameron e participar da vida escol ar e fazer amigos acabaram sendo relegados ao segundo plano. "Tenho a sociabilidade de uma batata falante", ele admite. "A maioria das pessoas da minha idade me despreza. É assim há anos. Estou acostumado a ser ignorado". (Terra, 08/11/2011).
Cameron não interage com pessoas. Interage com os objetos do conhecimento. Em minha experiência, como docente, convivi com estudantes que tinham a sociabilidade de uma batata e tiveram desempenho excelente durante o curso. Em particular acompanhei a vida profissional de dois deles.  Quatro anos depois de formados estavam literalmente desajustados no mercado de trabalho.

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O paradigma de ensino baseado somente no modelo transmissão recepção de informações não é mais sustentável. Os novos modelos devem considerar o aprender a processar as informações em lugar de armazená-las, trabalhar na construção do conhecimento e não na sua simples reprodução.
A insistência nos métodos tradicionais faz com que a telemática, em geral, vire apenas uma nova mídia, que poderá ter o mesmo destino de outros artefatos já experimentados, como o projetor de slides, a televisão e o CD/DVD. Faz-se necessário aproveitar melhor seu potencial, modificando as formas de aprender, reforçando ainda mais o papel do aluno como agente de sua aprendizagem. Este potencial é, sem dúvida alguma, melhor entendido a partir da capacidade interativa das redes de computadores e suas possibilidades de fornecer respostas diferenciadas de acordo com os rumos das experiências individuais, além de aproximar e integrar os diferentes sujeitos. (Menezes, 2003)
As formas de uso destas tecnologias, apesar de diversificadas, se concentram em dois grandes grupos: ferramentas de apoio à interação com objetos do conhecimento (simulação, por exemplo) e as ferramentas de apoio à interação social, imprescindível para a construção do conhecimento individual e coletivo (fórum, e-mail, chat etc). Entende-se por interação social do ponto de vista educacional, as interações que um indivíduo realiza com os vários parceiros de uma comunidade de aprendizagem (professores, colegas de classes, colegas mais adiantados, monitores, colegas de projetos, pessoas da comunidade), que tenham por objetivo o esclarecimento e o exercício da crítica, atividades fundamentais na aprendizagem.
Das ferramentas de apoio à interação social podemos destacar aquelas que permitem o aprendizado assíncrono (fórum, p.ex.). Estas têm como base o princípio do aprender em qualquer lugar e a qualquer momento. As redes de aprendizagem assíncronas apresentam vantagens tais como: (i) educação remota sem a fixação de tempo e espaço e (ii) estímulo à integração e cooperação entre os alunos de um curso. O fórum dá oportunidade aos estudantes de discussões interativas sobre tópicos que serão desenvolvidos em classe, além de permitir o aprendizado cooperativo entre os próprios estudantes e eliminar redundâncias facilitando o trabalho do professor.
Hoje mesmo sem o uso muito difundido da telemática na educação, estudantes já se apropriaram de seus recursos em seu dia a dia.
Em pesquisa com estudantes de engenharia na UFES (Cardoso, 2007) tivemos alguns resultados relevantes como:
1.    Usam a internet (90%), em média, 17 horas semanais em casa ou 2,5 horas por dia. Todos têm computador em suas residências.
2.    Usam o computador e a internet, frequentemente, para resolução de problemas particulares, em comunicação social para além do curso e lazer.Usam sistematicamente o computador e internet como apoio às atividades de estudante.
3.    Quanto ao trabalho em grupo, a maioria optou por afirmar que as dificuldades
que os colegas encontram ajudam a refletir melhor sobre os problemas a resolver. Constantemente fazem contatos com colegas para resolver dúvidas, na forma presencial. Após o uso de um ambiente de aprendizagem houve um aumento dos que optaram por resolver dúvidas com colegas via internet. Estudantes aprendem mais entre si do que na relação com professores ou professoras.

Então porque não usar estes recursos, comuns entre os estudantes, no interior da prática pedagógica da escola? Uma resposta possível está na abordagem ensino aprendizagem utilizada.

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Já que a escola não dá bola para a telemática na aprendizagem os jovens dão. Está no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=ib3n8-CGRDk). Cinco jovens fizeram um cover de November rain do Guns n´Roses. Ferdinando Terada (guitarra), Breno Monteiro (piano), Fernando Campos (vocal), Laura Anderson (baixo) e Ian Koeller (bateria), cada um em lugares diferentes do mundo tocaram sua parte na música. Depois um deles fez a edição e a mixagem do vídeo e som. O título do vídeo: United Countries Cover Collaboration.
Como aprenderam? Interagindo.

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Ligo meu computador e já acesso a internet. Entro no endereço da minha universidade no mundo virtual. Uma tela se abre diante dos meus olhos. Identifico-me, utilizando minha webcam e minha senha de acesso. No mesmo instante, sou transportada para o ambiente tridimensional interativo em que estudo. Uma tela me pergunta qual será a identidade que irei utilizar. Escolho o nome, o sexo e a figura que irá me representar na tela, o meu avatar. Comando os seus ângulos de visão, suas emoções e a forma como vou fazer o controle de suas ações, por comando de voz, pelo mouse ou pelo teclado. Encarnada na figura que me representa no mundo virtual, passo pela avenida principal e subo as escadas para entrar no laboratório de projetos. Deixo para traz os sons dos carros e o barulho dos pássaros virtuais.
Dentro do ambiente, ouço as vozes das outras alunas que fazem parte de meu trabalho (Cinthya, do Canadá, Vichy, da França, Mayte, da Venezuela e Shizlan, da Finlândia) que me cumprimentam. Converso com elas sobre o que temos de fazer hoje. Logo chegam Lioness, o professor dinamarquês e Marita, a assistente espanhola. Convencionamos usar o inglês operacional da rede, já padronizado e com múltiplas formas de expressão (oral, escrita, gráfica etc.), para atender a todos da equipe, principalmente Vichy, que não escuta.
A nossa atividade nesse momento é terminar a construção do espaço virtual para apresentação de nossas pesquisas sobre educação e tecnologias.
(...) Antes que imaginem que tudo o que descrevi é ficção científica, é bom saber que experiências como essa e outras mais incríveis ainda ocorrem diariamente nos espaços educacionais existentes nos mundos virtuais. São aulas que podem ser realizadas na Lua, em Marte, em laboratórios de medicina, veterinária ou educação. Disciplinas em que os alunos exploram os ambientes do fundo do mar ou de regiões de difícil acesso, como um deserto ou o Everest. Tudo isso sem sair da frente da telinha do computador.
Centenas de universidades e colégios do mundo inteiro já possuem seus espaços de estudos virtuais tridimensionais. Não se trata de simples projetos de educação a distância, mas de novas concepções de educação, em que são utilizadas as mais atuais tecnologias digitais, para se aprender mais e melhor.


Este relato está no livro da professora da USP, Vani Moreira Kenski, Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação, Papirus, 2007. Disponível em http://books.google.com.br/books

A prática pedagógica deve apontar para o uso apropriado das tecnologias que, sozinhas, não educam ninguém. Mudar a educação significa mudar a ação docente, mas a escola precisa mudar. As tecnologias podem auxiliar na reformulação da aprendizagem, mas não garantem a ruptura com a visão tradicional de ensino. As práticas pedagógicas baseadas no pensamento crítico e na construção cooperativa do conhecimento podem e devem acontecer com ou sem o uso das tecnologias (Kenski, 2000).


Referências
Kenski, V.M. Novas tecnologias, desafio para a escola, Jornal do Brasil. Caderno
Educação e trabalho. Rio de Janeiro, 12 nov 2000.
Menezes, C.S. et al, Formação de recursos humanos em telemática para
educação: uma experiência com educação a distância usando a internet.
Proceedings of the First Latin American Web Congress - IEEE, nov 2003. Santiago, Chile.
Piaget, J. Psicologia e pedagogia, 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1972.
Cardoso, E. P., Projetos de aprendizagem mediados por ambientes virtuais no ensino de Engenharia Elétrica, tese de doutoramento, PPGEE, UFES, 2007.

Texto apresentado durante a mesa redonda: "Inclusão Digital e Impactos da Tecnologia em Comunidades de Baixa Renda e Menor Poder Aquisitivo", organizada pelo PET (Programa de Educação Tutorial) Engenharia Elétrica. UFES, Auditório do CT I, 21 de novembro de 2011.

Edson Pereira Cardoso, novembro de 2011.