The naked dawn é o título de um filme clássico de Edgard G. Ulmer de 1955. A tradução para o Brasil foi Madrugada da Traição (não me pergunte porque). Assisti várias vezes e me deu inspiração para escrever umas mal digitadas linhas neste blog. Está em Ofélia.
Conhecendo Edgar G. Ulmer
Ulmer
dirigiu 128 filmes ao longo de 32 anos. Era checo, muito inteligente e culto.
Educado na Academia de Artes e Ciências de Viena, foi ator e cenógrafo de Max
Reinhardt, trabalhou em Estocolmo com o sueco Mauritz Stiller e, na Alemanha
com Pabst, Lang e Murnau. Em 1929 dividiu com Robert Siodmak a direção de Gente
no domingo (Meschen am Sonntag, 1930), em que debutaram também Billy Wilder
(roteirista) e Fred Zinnemann (assistente de fotografia). Em Hollywood,
especializou-se em westerns, na Universal, até ser levado por Murnau para a
Fox. Ulmer participou das três obras-primas de Murnau: A última gargalhada,
Aurora e Tabu. Também colaborou com Stroheim e Lubitsch. Por tudo isso, merecia
ter tido outra carreira.
Seu
primeiro filme expressivo, O gato negro (The black cat, 1934), com Boris
Karloff e Bela Lugosi, era puro Bauhaus. À exceção de O insaciável (Rutless,
1948) e Madrugada da traição (The naked dawn, 1955), seus filmes B mais
apreciados foram produzidos para a independente PRC (Producers Releasing
Corporation), entre 1944 e 1946: Barba Azul, Estranha ilusão, Club Havana,
Curvas do destino e Flor do mal (The strange woman). Nenhum com a aura de Curva
do destino.
Aurora
DVD (...) tirou dos arcanos do filme B um clássico que não admite discussões:
Curva do destino (Detour, 1945), de Edgard G. Ulmer (1904 – 1972). Filmado em
seis dias, num motel e num carro de estúdio, é o melhor filme noir de
baixíssimo orçamento, um melodrama minimalista, com direito a femme fatale,
boate, brumas, troca de identidades, carros ominosos e aquelas fatalidades que às vezes aproximam das
tragédias de Shakespeare e das danações de Dostoievski. (Augusto, pp 215,
216)
Madrugada da Traição (The Naked
Dawn, EUA, 1955). Direção: Edgar G. Ulmer. Rot. Original: Julian Zimet.
Fotografia: Frederick Gately. Música: Herschel Burke Gilbert. Montagem: Dan Milner.
Dir. de arte: Martin Lencer. Cenografia: Harry Reif. Com: Arthur Kennedy, Betta
St. John, Eugene Iglesias, Charlita, Roy Engel, Tony Martinez, Francis
McDonald.
O fora-da-lei Santiago (Kennedy)
influencia em Manuel Lopez (Iglesias), um pobre agricultor índio, o desejo da
riqueza fácil, ao contrário do que o próprio Santiago desejara. Embora tenha
muito dinheiro, Santiago não possui o menor interesse nele e gasta-o à medida
que ganha. Casado com Maria (St. John), a quem trata como sua serva, Manuel
tenta trair Santiago, que não desconfia de nada e o tem em grande conta. Porém,
na manhã que resolve abandonar a propriedade de Manuel, escuta indignado a
confissão de que Manuel tentara atentar contra sua vida e de Maria que preferia
abandonar o marido e fugir com ele. Chocado, Manuel leva Maria, porém ao retornar
para salvar Manuel das garras da lei, é ferido mortalmente e recomenda que o
casal parta sem ele.
Sempre instilando talento e
originalidade nos filmes de gênero de baixo orçamento que dirigiu, Ulmer não
foge a regra nesse western psicológico. Menos do que qualquer preocupação
realista, interessa ao cineasta trabalhar com metáforas e embaralhar os papéis
sociais tidos como certos pela sociedade, fazendo com que o aparente vilão
possua uma invejável nobreza de caráter e despojamento e o aparente mocinho
seja extremamente mesquinho. Quando se tem em conta o quão pouco o cineasta tem
em conta o realismo, o personagem do marginal, vivido por Kennedy pode ser
apreciado, sem qualquer cobrança sobre a sua exacerbada bonomia e desapego às
coisas materiais. Distante de toda a mística do oeste selvagem, com seus longos
planos de planícies e vales, o cineasta se detém em planos fechados e perscruta
relações sociais que bem poderiam transcorrer em qualquer metrópole. Universal.
82 minutos.
Edgard G. Ulmer no iutubi
Madrugada de traição (The Naked down, 1955)
Curva do destino (Detour, 1945)
O gato negro (Black cat, 1934)
Barba azul (Bluebeard, 1944)
Aníbal, O Conquistador, 1959
The Strange Woman (1946)
Clube Havana,1945
O insaciável (Rutless,1948)
Citação
Augusto, Sérgio (2019). Vai começar a sessão: ensaios sobre cinema, Objetiva.
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