segunda-feira, 22 de março de 2021

The naked dawn

The naked dawn é o título de um filme clássico de Edgard G. Ulmer de 1955. A tradução para o Brasil foi Madrugada da Traição (não me pergunte porque). Assisti várias vezes e me deu inspiração para escrever umas mal digitadas linhas neste blog. Está em Ofélia.

Conhecendo Edgar G. Ulmer

Ulmer dirigiu 128 filmes ao longo de 32 anos. Era checo, muito inteligente e culto. Educado na Academia de Artes e Ciências de Viena, foi ator e cenógrafo de Max Reinhardt, trabalhou em Estocolmo com o sueco Mauritz Stiller e, na Alemanha com Pabst, Lang e Murnau. Em 1929 dividiu com Robert Siodmak a direção de Gente no domingo (Meschen am Sonntag, 1930), em que debutaram também Billy Wilder (roteirista) e Fred Zinnemann (assistente de fotografia). Em Hollywood, especializou-se em westerns, na Universal, até ser levado por Murnau para a Fox. Ulmer participou das três obras-primas de Murnau: A última gargalhada, Aurora e Tabu. Também colaborou com Stroheim e Lubitsch. Por tudo isso, merecia ter tido outra carreira.

Seu primeiro filme expressivo, O gato negro (The black cat, 1934), com Boris Karloff e Bela Lugosi, era puro Bauhaus. À exceção de O insaciável (Rutless, 1948) e Madrugada da traição (The naked dawn, 1955), seus filmes B mais apreciados foram produzidos para a independente PRC (Producers Releasing Corporation), entre 1944 e 1946: Barba Azul, Estranha ilusão, Club Havana, Curvas do destino e Flor do mal (The strange woman). Nenhum com a aura de Curva do destino.

Aurora DVD (...) tirou dos arcanos do filme B um clássico que não admite discussões: Curva do destino (Detour, 1945), de Edgard G. Ulmer (1904 – 1972). Filmado em seis dias, num motel e num carro de estúdio, é o melhor filme noir de baixíssimo orçamento, um melodrama minimalista, com direito a femme fatale, boate, brumas, troca de identidades, carros ominosos e aquelas fatalidades que às vezes aproximam das tragédias de Shakespeare e das danações de Dostoievski. (Augusto, pp 215, 216)

Madrugada da Traição (The Naked Dawn, EUA, 1955). Direção: Edgar G. Ulmer. Rot. Original: Julian Zimet. Fotografia: Frederick Gately. Música: Herschel Burke Gilbert. Montagem: Dan Milner. Dir. de arte: Martin Lencer. Cenografia: Harry Reif. Com: Arthur Kennedy, Betta St. John, Eugene Iglesias, Charlita, Roy Engel, Tony Martinez, Francis McDonald.

Maria Lopez  (Betta St. John)

O fora-da-lei Santiago (Kennedy) influencia em Manuel Lopez (Iglesias), um pobre agricultor índio, o desejo da riqueza fácil, ao contrário do que o próprio Santiago desejara. Embora tenha muito dinheiro, Santiago não possui o menor interesse nele e gasta-o à medida que ganha. Casado com Maria (St. John), a quem trata como sua serva, Manuel tenta trair Santiago, que não desconfia de nada e o tem em grande conta. Porém, na manhã que resolve abandonar a propriedade de Manuel, escuta indignado a confissão de que Manuel tentara atentar contra sua vida e de Maria que preferia abandonar o marido e fugir com ele. Chocado, Manuel leva Maria, porém ao retornar para salvar Manuel das garras da lei, é ferido mortalmente e recomenda que o casal parta sem ele.         

Sempre instilando talento e originalidade nos filmes de gênero de baixo orçamento que dirigiu, Ulmer não foge a regra nesse western psicológico. Menos do que qualquer preocupação realista, interessa ao cineasta trabalhar com metáforas e embaralhar os papéis sociais tidos como certos pela sociedade, fazendo com que o aparente vilão possua uma invejável nobreza de caráter e despojamento e o aparente mocinho seja extremamente mesquinho. Quando se tem em conta o quão pouco o cineasta tem em conta o realismo, o personagem do marginal, vivido por Kennedy pode ser apreciado, sem qualquer cobrança sobre a sua exacerbada bonomia e desapego às coisas materiais. Distante de toda a mística do oeste selvagem, com seus longos planos de planícies e vales, o cineasta se detém em planos fechados e perscruta relações sociais que bem poderiam transcorrer em qualquer metrópole. Universal. 82 minutos.

Cid Vasconcelos

Edgard G. Ulmer no iutubi

Madrugada de traição (The Naked down, 1955) 

Curva do destino (Detour, 1945)

O gato negro (Black cat, 1934) 

Barba azul (Bluebeard, 1944)

Aníbal, O Conquistador1959 

The Strange Woman (1946)

Clube Havana,1945

O insaciável (Rutless,1948) 

Citação

Augusto, Sérgio (2019). Vai começar a sessão: ensaios sobre cinema, Objetiva.

 

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