domingo, 5 de maio de 2024

Ufes 70 anos

O texto abaixo de A Gazeta corresponde a um relato quase institucional e ufanista dos 70 anos da UFES. Tem um pecado original. Não cita uma referência essencial sobre o tema: Ivantir Antônio Borgo, “UFES: 40 anos de história”, 2ª edição, EDUFES, 2014. Um livro essencial. O único registro histórico sobre a UFES, publicado em 1995 (1ª edição) . Disponível aqui 

Quando dos 66 anos publiquei neste blog UFES (1954 – 2020), perdas e ganhos numa perspectiva histórica e crítica sobre a UFES. Mas a matéria de A Gazeta tem seus méritos. Dá um panorama atualizado da universidade.

Aline Nunes, A Gazeta, 03/05/2024

Responsável pela formação de profissionais das mais diversas áreas e com significativa contribuição para o desenvolvimento econômico e social do Estado, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) completa, no próximo domingo (5), 70 anos de atividades. A princípio, tratava-se de uma instituição estadual, mas logo foi federalizada. Ao longo dessas sete décadas, grandes transformações aconteceram, não apenas para quem por lá estudava, mas para toda a sociedade. 

Para marcar o começo dessa história, é curioso observar que, após movimentações políticas, no ano de 1954 foi criada, oficialmente, a Universidade do Espírito Santo, porém ela reunia faculdades que já funcionavam na região central de Vitória. O campus de Goiabeiras, que hoje conta com sete centros de ensino, só começou a ser vislumbrado 12 anos depois, quando a Ufes obteve a desapropriação da área do então Victoria Golf & Country Club para a sua construção.

Em 1968, as antigas escolas e faculdades que integravam a universidade foram extintas e transformadas em centros de ensino. Então, estima-se que a inauguração tenha sido entre os anos de 1968 e 1970.

Atualmente, a Ufes tem quatro campi — Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; São Mateus, no Norte; e Alegre, no Sul — e oferece 109 cursos de graduação, seis dos quais a distância, e 100 de pós-graduação (mestrado e doutorado). Todos gratuitos. Há ainda programas de pesquisa, projetos desenvolvidos para a comunidade, espaços culturais abertos ao público, atendimento em saúde pelo SUS com os serviços do Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (Hucam). Difícil citar todos. Então, neste levantamento feito por A Gazeta, foram reunidos 70 fatos, número que simboliza o aniversário da universidade. Confira um pouco dessa trajetória.

História

Vista aérea do campus de Goiabeiras da Ufes nos anos 1980. Crédito: Antonio Carlos / Cedoc A Gazeta

1. Uma ideia - Na década de 1950, começou a ser idealizada a criação de uma universidade no Espírito Santo. Era uma das prioridades do governador Jones dos Santos Neves. Naquele período, haviam sido criadas diversas faculdades, tais como a Escola Politécnica, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e a Escola de Belas Artes, em 1951; o Instituto de Música, em 1952; e a Faculdade de Odontologia, a Escola de Auxiliares de Enfermagem e o Instituto de Tecnologia, em 1953.

2. Ensino público - Mas o governador planejava uma universidade pública que oferecesse formação em várias áreas do conhecimento e, então, decidiu reunir instituições de ensino. Ainda em 1953, foi instituído o Conselho do Ensino Superior, que preparou um anteprojeto de lei propondo a criação da universidade.

3. Tramitação - A proposta foi encaminhada para a Assembleia Legislativa em janeiro de 1954. Na sessão de 20 de abril daquele ano, o projeto foi aprovado. Na sequência, foi sancionado por Santos Neves e transformado em lei no dia 5 de maio de 1954. Estava, então, criada a Universidade do Espírito Santo.

4. No começo - A nova universidade era composta pelas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, de Odontologia, de Química Industrial e Farmácia, Politécnica, de Música, de Belas Artes, de Educação Física, e de Medicina – esta foi instalada em 1960. A Faculdade de Ciências Econômicas foi criada em 1957, por meio de decreto estadual, e incorporada à universidade em 1961. No mesmo ano, também foi incorporada a Faculdade de Direito, fundada em 1930, e federalizada em 1950.

Projeto da área de esportes do campus de goiabeiras da Ufes. Crédito: Cedoc A Gazeta

5. Federalização - Com dificuldades para se manter, entre outras razões, pela falta de investimentos, houve mobilizações políticas para federalizar a universidade. Até que, em 30 de janeiro de 1961, o presidente Juscelino Kubitschek, em um ato administrativo, sancionou a mudança, já aprovada no Congresso Nacional. Nascia a Universidade Federal do Espírito Santo.

6. Centros de ensino - Em 1968, as escolas e faculdades que integravam a Ufes são transformadas em oito centros de ensino: Agropecuário; Artes; Biomédico; Ciências Jurídicas e Econômicas; Educação Física e Desportos; Estudos Gerais; Pedagógico; e Tecnológico.

7. Interiorização - A interiorização da Ufes foi iniciada em 1976, com a criação do Centro Agropecuário (Caufes), nos municípios de Alegre e São José do Calçado, no sul do Espírito Santo, e da Coordenação Universitária do Norte do Espírito Santo, nos municípios de São Mateus e Nova Venécia.

Estrutura

Alunos circulam no campus de Goiabeiras da Ufes, com os prédios da Biblioteca e da Reitoria ao fundo. Crédito: Antonio Carlos/ Cedoc A Gazeta

8. Campi - Atualmente, a Ufes tem quatro campi: Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; São Mateus, no Norte; e Alegre, no Sul do Espírito Santo. Cada campus é dividido em centros de ensino. Agora, são 11.

9. Estruturação - Entre 1981 e 1990, foram inaugurados, no campus de Goiabeiras, o Restaurante Universitário, a Biblioteca Central, o atual prédio da Reitoria e o Núcleo de Processamento de Dados (atual Superintendência de Tecnologia da Informação). Esse campus tem 140 edificações.

10. Oferta - A universidade oferece ensino de graduação presencial e a distância, e de pós-graduação (mestrado e doutorado acadêmico e profissional), e mantém cerca de 25 mil estudantes nessas modalidades.

11. Servidores - Dos 4.042 servidores de carreira — técnico administrativo em educação, professor e outras categorias — 43,44% têm doutorado, 20% têm especialização e 18% têm mestrado.

12. Equipamentos - A Ufes dispõe de vários equipamentos culturais, como galerias de arte, museu, teatro e cinema, com atividades voltadas para o público interno e externo.

13. Comunicação - A Rádio Universitária, sintonizada no dial 104.7, entrou no ar em 1985. Já a TV da Ufes foi criada no ano 2000.

14. Recursos - O Orçamento da Ufes tem sido arrochado ao longo dos anos. Na última década, o maior valor foi registrado em 2015, quando foram destinados R$ 232 milhões para a instituição. No ano seguinte, caiu para R$ 152,8 milhões. De lá para cá, a redução foi gradativa, chegando ao pior resultado em 2021 (R$ 102,29 milhões). Houve uma leve recuperação em 2023 (R$ 135,2 milhões), mas nova queda neste ano, com previsão de R$ 122,41 milhões para custeio e investimentos.

Vista aérea do campus de Alegre, no Sul do Espírito Santo. Crédito: Reprodução rede social

15. Implantação - A Ufes coordenou, em 2003, o processo de implantação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), com sedes nos Estados de Pernambuco, Bahia e Piauí.

16. Adesão - A Ufes aderiu ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), do Ministério da Educação (MEC), em 2006. Um ano depois, a Ufes também passou a integrar o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

17. Veterinário - Já em 2008, a Ufes inaugurou o Hospital Veterinário, o único de instituição pública do Estado, no campus de Alegre.

18. Indígena - Em 2015, começou o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, para atender demandas apresentadas pelos povos Tupinikim e Guarani por formação de seu quadro de professores em nível superior, garantindo o reconhecimento de seus direitos diferenciados, a valorização de seus saberes e práticas, e sua qualificação como educadores e sujeitos políticos. A primeira turma se formou em 2022.

19. Seleção - A Ufes aprovou a utilização do Enem, como primeira etapa da seleção para ingresso na universidade, em 2013. A segunda etapa era composta de provas discursivas e redação. A Ufes aderiu integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do MEC, a partir de 2018.

20. Pós-graduação - Em 1978, foi implantado o mestrado em Educação, primeiro programa de pós-graduação da Ufes. Atualmente, há 61. Já o primeiro doutorado foi em Ciências Fisiológicas, em 1993. Hoje são 39. No primeiro semestre de 2024, 2.589 alunos se matricularam em pós-graduação na Ufes.

Teatro Universitário da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

21. Ranking - Em 2019, a Ufes passou a integrar a lista do Times Higher Education (THE), um dos principais rankings universitários do mundo, que avalia critérios como ensino, pesquisa, citações, visão internacional e transferência de conhecimento como indicadores de desempenho das universidades.

22. Padrão internacional - Em setembro de 2022, a Ufes alcançou, pela primeira vez, nota 6 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), referente aos programas de pós-graduação em Biotecnologia e em Política Social. O conceito 6 indica desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência. Em dezembro do mesmo ano, após uma revisão da Avaliação Quadrienal 2017-2020 da Capes, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) também recebeu nota 6.

Laboratório da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

Pioneirismo e inovação

23. Ouvidoria - No ano de 1992, foi criada a Ouvidoria da Ufes, a primeira ouvidoria pública universitária no Brasil, instituindo a função de Ombudsman.

24. Reserva de vagas - A Ufes aprovou em 2005, de forma pioneira no Brasil, a política de reserva de vagas para estudantes da rede pública e de baixa renda familiar.

Pista de atletismo da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

25. Esportes - A Ufes inaugurou, em 2016, uma pista de atletismo de padrão internacional, a primeira do Espírito Santo.

26. Acervo único - Em 2018, foi inaugurado, no campus de Goiabeiras, o Museu de Ciências da Vida (MCV), cujo acervo é único em todo o Brasil, tornando a Ufes referência nacional em museus de anatomia e correlatos.

Iara, sigla em inglês para Veículo Robótico Autônomo Inteligente, foi desenvolvido pela Ufes . Crédito: Divulgação/Ufes

27. Autônomos - Iara, veículo autônomo desenvolvido na Ufes, trafegou pela primeira vez, em vias urbanas e rodovias sem intervenção humana, entre o campus de Goiabeiras e a praia de Meaípe, em Guarapari, em 2017. Dois anos depois, a Ufes, em parceria com a Embraer, conduziu o primeiro teste de aeronave autônoma no Brasil, realizado no interior de São Paulo. Dois anos mais tarde e em primeiro teste, um caminhão autônomo desenvolvido pela universidade percorreu grande parte do campus de Goiabeiras (aproximadamente 3,5 quilômetros) sem motorista.

Planetário da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

Parcerias

28. Planetário - Instalado no campus de Goiabeiras em 1995, em parceria com a Prefeitura de Vitória, o planetário funciona como um laboratório de ensino e difusão científica, de forma integrada à comunidade.

29. Pesquisa - Em 2004, foram iniciadas as operações no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Caracterização de Óleos Pesados (LabPetro), resultado de uma parceria entre a Ufes e a Petrobras e um dos mais importantes complexos de pesquisa do mundo na área de química do petróleo.

30. Prefeituras - Após seis anos do início do curso de graduação, foi inaugurada, em 2006, a Base Oceanográfica, em Aracruz, por meio de parceria com a prefeitura do município. Outra parceria foi estabelecida com a Prefeitura de Jerônimo Monteiro, que doou uma área de 55 mil metros quadrados, transformada em Unidade Experimental Florestal do campus de Alegre.

31. Intercâmbio - No mesmo ano, iniciou-se o Acordo de Cooperação Acadêmica entre a Ufes e a Universidade de Coimbra (Portugal), a fim de manter intercâmbio de estudantes, docentes e pesquisadores.

32. Patente - Em 2018, a Ufes obtém sua primeira patente concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi): Resina supressora de pó de minérios e uso da resina, em parceria com a Vale. A invenção permite obter a resina supressora do pó de minério por meio da reciclagem química do polímero termoplástico Poli (Tereftalato de Etileno) ou PET.

Lagoa da Ufes. Crédito: Divulgação/Ufes

Extensão

33. Saúde - O primeiro programa de extensão da Ufes, intitulado “Promoção de Cuidados Primários de Saúde em uma Comunidade”, foi criado em 1984 e ainda está em funcionamento.

34. Plataforma - No ano passado, foi lançada a Plataforma Moocqueca, que abriga cursos livres e de curta duração no formato Massive Online Open Courses (Mooc), voltados para a atualização profissional e abertos ao público do Brasil e do exterior.

Alimentação

35. Refeições - O Restaurante Universitário (RU) foi inaugurado em 1º de março de 1968, no Centro de Vitória, e chegou a fornecer no período 1.200 refeições diárias. A construção do prédio central, no campus de Goiabeiras, só foi iniciada 11 anos depois.

36. Ampliação do RU - Em 2008, foi criado o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) para apoiar a permanência de estudantes de baixa renda nas instituições federais de ensino superior. Entre as medidas adotadas, com recursos da nova iniciativa, foi a ampliação do restaurante da Ufes, o que permitiu aumentar a oferta de assentos e refeições.

37. Isenção - A alimentação adequada, como estratégia de permanência universidade, ganhou um reforço com a criação do benefício RU-Ufes em 2023. Além dos alunos cadastrados no Programa de Assistência Estudantil (Proaes) já contemplados com isenção, estudantes de graduação presencial, com renda familiar bruta mensal per capita média de até dois salários mínimos, passaram a ter concessão de subsídio de 100% do valor cobrado para acesso ao restaurante.

Neste ano,  17.918 alunos se matricularam para o primeiro semestre. Crédito: Ricardo Medeiros

Estudantes

38. Cursos de A a Z - De Administração a Zootecnia, a Ufes oferta 109 cursos de graduação — 103 presenciais.

39. Matrículas - No primeiro semestre de 2024, 17.918 alunos se matricularam. Desses, 50,38% eram pretos e pardos, 47,44% brancos, 0,65% amarelos e 0,11% indígenas.

40. Faixa etária - A maioria dos alunos se concentra na faixa de 18 a 24 anos. Eles representam 63,28% dos estudantes. Mas há também uma parcela que ainda não entrou na maioridade (0,57%) e uma turma dos mais de 50 anos (1,87%).

41. Gênero - Mais da metade dos universitários se identifica pelo gênero feminino. As mulheres representam 57,02% dos matriculados na Ufes.

42. Assistência estudantil - O número de alunos assistidos na Ufes chegou a 4,9 mil no primeiro semestre de 2023. Boa parte dos auxílios é para permanência dos estudantes na instituição.

43. Bolsas - A Ufes concedeu 2.357 bolsas em 2023, algumas ligadas a entidades, como Sebrae, Fapes e CNPq.

44. Intercâmbio - A Ufes tem 157 alunos estrangeiros, de mais de 30 nacionalidades (das Américas, Europa, Ásia e África), em turmas de cursos de graduação, mestrado e doutorado.

45. Expansão - O Reuni foi implementado em Maruípe. O Centro de Ciências da Saúde aderiu ao programa, em 2014, resultando na criação de quatro cursos: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional. O CCS ainda oferece graduação em Enfermagem, Farmácia, Medicina e Odontologia.

46. Nome social - Estudantes da Ufes passaram a exercer, em 2014, o direito de uso e de inclusão do nome social nos registros acadêmicos, sempre que o nome civil não refletir a identidade de gênero ou implicar algum tipo de constrangimento.

Biblioteca Central

Educação a Distância (EaD)

47. Oferta - Em 2001, foi criado o Núcleo de Educação Aberta e a Distância (Ne@ad), atual Superintendência de Educação a Distância (Sead), e o primeiro curso na modalidade EaD, o de Pedagogia.

48. Graduação - Há seis cursos com 517 estudantes.

49. Gênero - Assim como nos cursos presenciais, as mulheres representam a maioria dos estudantes: são 397 estudantes do gênero feminino.

50. Etnia - Os negros (pretos e pardos) somam 317 estudantes na EaD, isto é, 61,31% dos matriculados. O grupo é formado, ainda, por 186 brancos, seis amarelos e oito que não declararam etnia.

51. Faixa etária - A maioria dos alunos tem entre 36 e 40 anos. Nessa faixa etária, são 111 estudantes, mas há universitários na EaD de 20 a mais de 50 anos.

52. Especialização - Há, ainda, 539 alunos em quatro cursos de especialização lato sensu EaD.

Inclusão 

53. Reserva de vagas - Em 2008, a Ufes implementou um sistema próprio de reserva de vagas contemplando, exclusivamente, estudantes egressos de escolas públicas que possuíam renda familiar de até 7 salários mínimos mensais. Naquele ano, 40% das vagas de cada curso de graduação foram reservadas, mas a meta era alcançar 50% em até dois anos. Na primeira seleção, 1,3 mil alunos ingressaram na Ufes pelo programa.

54. Secretaria - No mesmo ano, foi criada a Secretaria de Inclusão Social para promover a permanência e o bom desempenho acadêmico dos estudantes de origem popular.

55. Substituição - A iniciativa própria de reserva de vagas foi substituída, em 2012, pela Lei Federal 12.711, por meio da qual a Ufes reservou, em cada processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, 50% de suas vagas para estudantes que tivessem cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

56. Nova inclusão - Alteração da Lei n. 12.711, em 2018, estabelece a inclusão, por curso e turno, da subcategoria de reserva de vagas para pessoas com deficiência, em proporção igual à proporção respectiva na população do Espírito Santo, onde está instalada a Ufes.

57. Pós-graduação - Programas de pós-graduação stricto sensu da Ufes passaram a adotar, em 2021, o sistema de cotas para pessoas negras, com deficiência e alguns estendem a reserva para pessoas trans (travestis, transexuais e transgêneros) e refugiados políticos, conforme os critérios de cada programa. Em abril de 2024, foi aprovada resolução que institui a Política de Ações Afirmativas nos cursos e programas de pós-graduação da Ufes. As vagas serão reservadas em todas as seleções para mestrado e doutorado.

58. Mais acesso - Em 2023, foi criada a Secretaria de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade (Siac), a fim de contribuir para o avanço das políticas de inclusão.

59. Concurso - Também no ano passado, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes regulamentou a oferta de vagas nas modalidades de reserva (20% para pessoas pretas e pardas e de 20% para pessoas com deficiência) em concursos públicos para os cargos efetivos da carreira do Magistério Federal e em processos seletivos para contratação temporária de professores substitutos e visitantes.

Alunos circulam pelo campus de Goiabeiras da Ufes nos anos 1980. Crédito: Josemar Gonçalves - 29/8/1980

Entidades

60. Servidores - A Associação dos Servidores da Ufes (Asufes) é criada em 1977, que passou a se chamar Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes), em 1992.

61. Professores - Em 1978, foi criada a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes).

62. Estudantes - Naquele mesmo ano, foi reconstituído o Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE), que havia sido extinto pela ditadura militar.

63. Aposentados - Em 1985, é criada a Associação dos Aposentados da Ufes (Asaufes).

Hucam: de sanatário a hospital universitário

Hospital Universitário

64. Criação - O prédio original do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) foi fundado na década de 40 como um sanatório para atender a um problema de saúde específico, a tuberculose. Com o surgimento de novas tendências terapêuticas para o tratamento dos pacientes, a internação deixou de ser necessária, e o chamado Sanatório Getúlio Vargas transformou-se em 20 de dezembro de 1967 em Hospital das Clínicas (HC), após um acordo entre a Ufes e o governo estadual.

65. Estágio - A transformação previa que o hospital servisse de campo de estágio ao ser criado o curso de Medicina da Ufes. Em 1976, foi instalado o curso de Enfermagem da universidade, que passou a utilizá-lo também como campo de aprendizagem prática para seus estudantes.

66. Profissionais de saúde - Atualmente, é fundamental na formação dos profissionais das áreas de saúde de todos os 8 cursos de graduação que oferece, de programas de pós-graduação stricto sensu, da Residência Médica e da Residência Multiprofissional do Centro de Ciências da Saúde da Ufes. Todos os semestres, passam cerca de 800 alunos no Hucam.

67. Convênio - Em 1975, a partir de um convênio da Ufes com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi possível a construção de cinco novos ambulatórios, aumentando a oferta dos atendimentos à população.

68. Nome - Com a morte de Dr. Cassiano Antônio Moraes, um dos idealizadores da transformação do antigo sanatório em um espaço propício para a formação médica, a instituição conhecida como Hospital das Clínicas foi denominada “Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes”, em 1980.

69. Referência - O Hucam tem posição estratégica na rede do SUS e é referência em média e alta complexidades. Entre outros serviços, realiza diagnóstico e tratamento de tuberculose multirresistente, transplante de córnea, cirurgia geral e cardíaca, além de ter maternidade de alto risco, terapia intensiva neonatal e de adulto, hemodinâmica e outros atendimentos de maior complexidade. Possui vários programas e projetos que são referência no país, como o de Atenção à Saúde da Mulher, Banco de Leite, atenção às vítimas de violência sexual, realizando, também, cirurgias bariátricas.

70. Pacientes - Os pacientes são de todas as regiões do Espírito Santo e de Estados vizinhos, como de municípios do norte do Rio de Janeiro, leste de Minas Gerais e sul da Bahia. São realizadas 15 mil consultas e 800 internações por mês.

Fonte: Superintendência de Comunicação da Ufes, InfoUfes (site), Unidade de Comunicação do Hucam


sábado, 4 de maio de 2024

'Negacionismo climático': Por que o RS está tão exposto às catástrofes

Nádia Pontes, DW, 04/05/2024

Mobilização para resgates no Rio Grande do Sul vídeo

Mais de 100 pessoas podem ter morrido em decorrência das enchentes, 39 mortes foram confirmadas pela Defesa Civil nesta sexta-feira. Nos últimos dias, metade da chuva prevista para todo o ano de 2024 caiu no estado, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Em Porto Alegre, voluntários recebem quem chega das ilhas do entorno. Embarcações transportaram para a capital mais de 500 pessoas evacuadas. Um centro de treinamento esportivo se transformou em abrigo provisório. "A situação está terrível. A gente está sem estrutura, no escuro praticamente. Tem muita gente vindo para cá", diz à DW Paula Brust, uma das voluntárias que acolhem quem chega.

Para quem atua no monitoramento da situação, a perplexidade e o cansaço pelas horas ininterruptas de trabalho são grandes. "Estamos ainda sem acreditar no volume de chuvas registrado. Nós pensamos até, inicialmente, que nossos equipamentos estavam com defeito", resume Franco Buffon, superintendente da região Sul do SGB.

A situação é considerada tão grave que, mesmo se não chovesse mais nos próximos dias, o quadro seguiria muito dramático. A previsão é que mais chuvas atinjam a região.

Tragédia no RS tem dois responsáveis: o negacionismo climático e a irresponsabilidade de Eduardo Leite 

Fuga e choque

Em Porto Alegre, o nível do Lago Guaíba atingiu marca recorde, chegando a quase 5 metros neste sábado (04/05), superando a cheia histórica de 1941. Naquele ano, a água atingiu a marca de 4,76 metros e deixou 25% da população da cidade desabrigada. O Guaíba, que até cruzar a capital é chamado de Rio Jacuí, recebe toda a água que cai no centro do estado. Porto Alegre é a última cidade do percurso até o seu deságue no Atlântico.

Em municípios menores ao longo de rios que fazem parte da mesma bacia hidrográfica, comunidades inteiras parecem ter sido varridas do mapa. Em Estrela, o Rio Taquari chegou a marca recorde de 33 metros. Isso acontece apenas seis meses depois de ele ter alcançado sua cota máxima, que era de 29,53 metros. Quando a água ultrapassa os 19 metros, o rio extravasa e atinge casas e uma indústria próxima.

Com a catástrofe, muitos equipamentos que fazem medição se perderam. Buffon, do SGB, conta que postes instalados às margens dos rios provavelmente foram levados pela enxurrada, e sensores que ficam em contato com a água são atingidos por grandes objetos que vão parar na água: rochas, veículos, escombros de casas.

Em São Leopoldo, banhada pelo Rio dos Sinos, também parte da bacia hidrográfica do Guaíba, famílias que sempre acreditaram morar em bairros seguros deixam suas casas. A bióloga Daiana Schwengber correu de Porto Alegre para ajudar os pais no interior e agora todos estão abrigados na casa de amigos.

"A água subiu muito rápido. Começamos a bater palma em frente à casa das pessoas para ajudar a Defesa Civil a alertar as pessoas para que todos saíssem. Foi muito triste. Muitas pessoas idosas, todos chocados", relatou Schwengber à DW sobre a situação em São Leopoldo.

Cidade de Relvado está isolada por conta de enchentes no Rio Grande do Sul Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Sobreposição de fenômenos climáticos

Marcelo Seluchi, coordenador do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, Cemaden, diz que a semana de chuva era aguardada, mas não no volume registrado. A explicação está numa sobreposição de fenômenos climáticos que transformou a região central do Rio Grande do Sul num "alvo".

Uma onda de calor estranha para o mês de maio no centro do Brasil causada por área de alta pressão funciona como uma "parede" e não deixa as frentes frias que vêm do Sul avançarem. Como houve uma sequência de frentes frias barradas, toda a água se precipitou no Rio Grande do Sul e causou chuvas por horas e horas consecutivas. Ao mesmo tempo, ventos que chegam do Norte e transportam a umidade da Amazônia pelos chamados rios voadores encontraram o mesmo alvo. "Provavelmente, há influência ainda do El Niño que está desaparecendo agora em maio. As ondas de calor ainda estão intensificadas em função dele", avalia Tércio Ambrizzi, pesquisador do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, USP.

Para Seluchi, nenhum lugar do mundo resistiria a uma situação destas. "Talvez deveria haver planos de contingência, planos de prevenção, que são feitos na época seca. Não se faz de uma semana para outra. Isso, sim, está faltando", analisa.

Tragédia anunciada

Todos os alertas de ocorrência de eventos climáticos extremos têm sido ignorados pelo poder público no Rio Grande do Sul, segundo Miriam Prochnow, da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida, Apremavi.

"As cidades ignoram que isso tem que ser levado em conta quando se faz planejamento urbano. Não pensam em retirar pessoas de área de risco, permitem ocupação em áreas onde a enchente já chegou. É ignorar a crise climática solenemente", diz Prochnow à DW.

Karina Lima, geógrafa que pesquisa tempestades severas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, ressalta que o estado está numa zona muito afetada pelo El Niño e La Niña - e que os governantes sabem disso.

"Vai trabalhar, governador!": Demori manda a real para Eduardo Leite diante de tragédia no RS 

"Modelos matemáticos já preveem há muito tempo que o RS continuará a tendência de aumento da precipitação média anual e da precipitação extrema, ou seja, mais chuvas concentradas e severas. Com certeza se investe muito pouco em um estado que está tão vulnerável a eventos extremos", afirma Lima.

Para Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), o Rio Grande do Sul perdeu há muitas décadas a resiliência para enfrentar os extremos climáticos.

"Foi o primeiro estado a cobrir todo território com propriedade agrícola. Eliminaram praticamente suas áreas naturais", diz Borges, lembrando que restam 7% da área original de Mata Atlântica no RS e que o bioma Pampas é um dos mais ameaçados.

Reinaldo: Nota do PSDB contra atuação de Lula no RS explica por que partido acabou  

"Uma fração das mortes, do prejuízo econômico que se vê agora é por causa do descumprimento da legislação ambiental. Se a classe política continuar relegando isso, vamos passar por situações mais duras", prevê Borges. "O negacionismo precisa ser deixado de lado já que as catástrofes estão ficando cada vez mais intensas", diz Heverton Lacerda, da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).

"Os atuais governos, tanto do estado quanto da prefeitura da capital e outras cidades do interior, estão sob comando de negacionistas climáticos. Isso fica exposto pelas políticas que eles encaminham", declara Lacerda à DW.

Lacerda cita como exemplo um projeto de lei de autoria do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), aprovado na Câmara dos Deputados em março último. A medida autoriza o corte de vegetação nativa não florestal - como Pampa, parte do Cerrado e do Pantanal. Na prática, mais de uma área equivalente aos estados do Rio Grande do Sul e Paraná de mata nativa podem sumir do mapa se a lei passar no Senado.

GREVE SIM

A greve dos professores nas universidades federais é necessária? SIM

Parar é a maneira de buscar direitos e conservar os duramente conquistados 

Patrícia Valim, 03/05/2024, FSP

Professora do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Docentes e técnicos administrativos estão em greve em mais de 70 universidades e institutos federais. Historicamente, a greve é o principal mecanismo de luta da classe trabalhadora para conquistar direitos: salário mínimo, 13º salário, jornada de 44 horas semanais, seguro-desemprego, férias, horas extras remuneradas, adicionais de insalubridade e periculosidade, aposentadoria.

Mas há também greves de caráter regressivo, isto é, para não perder direitos conquistados, como as que ocorreram durante o governo Jair Bolsonaro: foram 1.118 em 2019 (Dieese, 2020) e 1.067 em 2022, com o funcionalismo público responsável por 59,4% delas (Dieese, 2023).

Ato de professores e estudantes da Universidade Federal do Triângulo Mineiro nesta segunda-feira (15) - Luis Adolfo

O Andes-SN afirmou que, além da recomposição salarial, existe a necessidade de investimentos públicos nas instituições federais de educação, diante da corrosão desses investimentos no governo passado, sob Jair Bolsonaro (PL).

O MEC (Ministério da Educação) da gestão Lula (PT) diz que busca alternativas de valorização dos servidores da educação. No ano passado, o governo federal promoveu reajuste de 9% para todos os servidores, argumentou a pasta.

Docentes e outros servidores grevistas planejam fazer uma marcha em Brasília na quarta (17).

Equipes do MEC vêm participando, ainda segundo a nota, da mesa nacional de negociação e das mesas específicas de técnicos e docentes instituídas pelo MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos) e da mesa setorial que trata de condições de trabalho.

Na última quinta-feira (11), o MEC realizou a primeira reunião da Mesa Setorial de Negociação Permanente. "A carreira de técnico-administrativos será reestruturada neste governo, mas dependemos do espaço fiscal que a junta orçamentária e o governo definirão", disse na ocasião o secretário executivo adjunto do MEC, Gregório Grisa.

Segundo balanço da Andifes (órgão que reúne reitores das universidades) no fim do dia, 18 universidades ainda farão assembleia para decidir sobre adesão e 12 decidiram por não aderir à greve. A organização diz que 15 universidades teriam decidido pela greve até agora: UFV, UFC, UFCA, UFPel, UnB, UFMA, UFCSPA, Unir, Ufop, UFV, UFPR, Unifesspa, UFTP, FURG e UFMG.

A Andifes representa todas as 69 universidades federais e dois centros federais de educação tecnológica. Em nota, a organização diz que acompanha de perto as reivindicações e tem conversado com representantes dos sindicatos.

Já o Conif (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica) ainda não tinha balanço completo sobre a adesão nos institutos federais.

Na semana passada, o presidente Lula (PT) cobrou maiores negociações do governo mas defendeu o direito à greve ao comentar sobre as reivindicações salariais dos servidores públicos. Lula disse que a ministra Esther Dweck (Gestão e da Inovação em Serviços Públicos) está "fervilhando de problemas", por suas negociações com servidores públicos.

"Ela [Esther] está fervilhando de problemas. Acho até que não devia ter deixado ela vir para cá, devia ficar negociando antes que a gente receba de presente as greves", disse. "A gente pode até não gostar, mas [greves] são direito democrático dos trabalhadores. Não tenho moral para falar contra greve, nasci das greves. Então sou obrigado a reconhecer."

Instituições que já estão em greve, segundo o Andes-SN*

    Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) - campi Pouso Alegre e Poços de Caldas;

    Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – campus Rio Grande;

    Universidade Federal do Rio Grande (FURG;

    Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG);

    Instituto Federal do Piauí (IFPI);

    Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB);

    Universidade Federal de Brasília (UnB);

    Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF);

    Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP);

    Universidade Federal de Pelotas (UFPel);

    Universidade Federal de Viçosa (UFV);

    Universidade Federal do Cariri (UFCA);

    Universidade Federal do Ceará (UFC);

    Universidade Federal do Espírito Santo (UFES);

    Universidade Federal do Maranhão (UFMA);

    Universidade Federal do Pará (UFPA);

    Universidade Federal do Paraná (UFPR);

    Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB);

    Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa);

    Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR);

    Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Com indicativo/construção de greve aprovada sem data de deflagração

    Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI);

    Universidade Federal da Paraíba (UFPB);

    Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);

    Universidade Federal do Piauí (UFPI);

    Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB);

    Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE);

    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Deflagração/indicativo de greve após 15/04

    Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ);

    Instituto federal do Rio Grande do Sul (IFRS) - campi Alvorada, Canoas, Osório, Porto Alegre, Restinga, Rolante e Viamão;

    Universidade Federal de Sergipe (UFS);

    Universidade Federal de Uberlândia (UFU);

    Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)

Em estado de greve

    Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD);

    Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ);

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO);

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ);

    Universidade Federal de Santa Maria (UFSM);

    Universidade Federal do Pampa (Unipampa);

    Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA);

    Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

*Outras universidades não ligadas ao sindicato também podem parar

E mais

Greve 2024 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

O crime de Mariana e Brumadinho ainda impune

União e Estados devem rejeitar acordo de R$ 127 bilhões proposto por Vale e sócios por Mariana

Mineradoras ofereceram pagar R$ 72 bi em novas indenizações, mas negociadores do poder público reclamam que proposta é retrocesso em compromissos firmados no ano passado

Por Mariana Carneiro, O Estado, 02/05/2024

A proposta feita pelas mineradoras Vale e BHP Billinton, sócias na Samarco, responsável pelo desastre ambiental de Mariana, em 2015, foi recebida com fortes críticas pelos negociadores do governo federal e dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. A expectativa é que os entes públicos deem uma resposta conjunta nesta sexta-feira, 3, e, a tomar pelo clima nos bastidores, a tendência é que ela seja negativa.

Vale, BHP Billinton e Samarco anunciaram na segunda-feira, 29, que haviam ampliado o valor ofertado em compensações de R$ 42 bilhões para R$ 72 bilhões, o que fez com que as ações da Vale na Bolsa se valorizassem, com investidores antevendo um ponto final para um imbróglio jurídico que se arrasta há quase nove anos.

Mas representantes do poder público que participam das negociações, sob reserva, classificaram a proposta como “fake” e um “mero jogo de planilha”, sob a alegação de que as empresas retrocederam em compromissos ambientais e sociais que haviam assumido no ano passado e que os repassaram em valores para o poder público em cifras consideradas inaceitáveis. Ou seja, não houve uma evolução.

Rompimento da barragem da mineradora Samarco, em 2015, destruiu distrito de Bento Rodrigues, em Mariana Foto: Márcio Fernandes / Estadão

Em nota, a BHP e a Vale informaram que mantêm o interesse em negociar (leia mais abaixo). A Samarco disse acreditar que “todas as partes chegarão a um acordo comum”. A iniciativa, além de não atender ao que havia sido acordado em 2023, provocou mal-estar porque os governos entendem que a responsabilidade por ações como a retirada de dejetos minerais de rios e afluentes do Rio Doce devem ser feitas pelas empresas, com os equipamentos e pessoal delas. Além disso, há o entendimento de que, ao entregar obrigações aos entes públicos, as empresas se eximem de eventuais problemas que podem aparecer com a retirada desses resíduos.

Na proposta, as mineradoras reduziram o plano de retirar 9 milhões de metros cúbicos de dejetos do Rio Doce para 900 mil metros cúbicos, o que foi considerado “inadmissível” pelos negociadores. As empresas também retiraram o compromisso de monitorar áreas contaminadas.

Quase nove anos depois do desastre que derramou 40 milhões de toneladas de rejeitos minerais no Rio Doce, há relatos de poluentes químicos na água consumida por pessoas e animais. O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), é considerado o maior desastre ambiental do País e pode resultar no maior pacto de reparação ambiental do mundo, caso o poder público e as empresas cheguem a um acordo.

Mas a própria ação das empresas de publicizar a oferta foi mal-recebida. A ação corre sob confidencialidade no Tribunal Regional Federal da 6ª Região, em Belo Horizonte, e a divulgação está sendo tratada como uma “deslealdade” nos bastidores. Nem mesmo o valor, alegado como uma ampliação relevante em relação ao proposto no final de 2023, foi bem-recebido.

Lama da barragem atingiu o Rio Doce e chegou ao litoral do Espírito Santo Foto: Gabriela Biló/Estadão

As mineradoras afirmam que a indenização total chegaria a R$ 127 bilhões, somando o que já foi aplicado na Fundação Renova até hoje (cerca de R$ 37 bilhões). Negociadores afirmam que, além dos gastos da Renova serem questionáveis, há vitórias em ações na Justiça que já rendem mais do que o ofertado pelas empresas — em janeiro, as mineradoras foram condenadas a pagar R$ 47,6 bilhões em danos morais coletivos pela Justiça Federal em Belo Horizonte. Em outra ação, de março, a Justiça concede o pagamento de mais R$ 10 bilhões ao Espírito Santo por gastos em cinco municípios do litoral norte que passaram a ser considerados região afetada.

Foi essa decisão que, segundo relatos, motivou a corrida das mineradoras pelo acordo. Na proposta, as empresas solicitam que a inclusão dos cinco municípios seja sustada, o que foi considerado inaceitável pelo Espírito Santo em uma resposta imediata.

Além de tentar reduzir o perímetro de possíveis indenizados, as empresas também propuseram a “quitação completa e absoluta por danos incertos e futuros” que apareçam em decorrência do desastre ambiental, ou seja, que as empresas não venham a ser responsabilizadas no futuro.

Esse ponto desagrada a todos os entes públicos envolvidos. A alegação é que, na área de saúde, é impossível dar a quitação, uma vez que há danos que podem aparecer por gerações nas populações que são abastecidas pelo Rio Doce e que vivem no litoral do Espírito Santo. Nos estragos ambientais, a quitação é considerada parcialmente possível de se atender, desde que mantido o monitoramento.

Em março, Justiça concedeu pagamento de mais R$ 10 bilhões ao Espírito Santo por gastos em cinco municípios do litoral norte que passaram a ser considerados região afetada Foto: Fred Loureiro/Secom-ES/Divulgação

Os entes também discordam da proposta de entrega imediata das ações da Renova para o poder público, como o fornecimento de água potável a comunidades indígenas, alegando a necessidade de uma transição.

Apesar do impasse, a leitura dos negociadores é que as empresas têm o interesse de tentar um acordo no Brasil para evitar uma condenação na corte inglesa, onde vítimas se reuniram em ações contra as mineradoras. O principal fundamento das ações é a lentidão da Justiça brasileira, por falta de um acordo. Ainda assim, a proposta desagradou a tal ponto que o tema pode subir do nível técnico para o político, com a mobilização de governadores e ministros para cobrar uma solução das empresas.

Procurada, a BHP Brasil afirma que “sempre esteve e segue comprometida com as ações de reparação e compensação relacionadas ao rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em 2015″. “Como uma das acionistas da empresa, a BHP Brasil segue disposta a buscar, coletivamente, soluções que garantam uma reparação justa e integral às pessoas atingidas e ao meio ambiente”, afirmou.

A Vale também defendeu a solução por meio de um acordo. “A Vale, como acionista da Samarco, continua comprometida com a repactuação do acordo de Mariana e tem como prioridade as pessoas atingidas, representadas desde o início das negociações por diversas instituições de justiça como as defensorias e os ministérios públicos. A companhia confia que as partes chegarão a bons termos quanto ao texto que vem sendo conjuntamente construído”, afirmou a empresa, em nota.

A Samarco, também em nota, reafirmou seu compromisso na “reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão”. “A empresa reitera que a proposta apresentada foi baseada em critérios técnicos, ambientais e sociais, sendo resultado de um amplo processo de diálogo que, desde o início, envolveu diversas instituições de justiça, poder público e representantes de entidades civis e sociedade. A Samarco acredita que todas as partes chegarão a um acordo comum que beneficie diretamente milhares de pessoas, dezenas de municípios, a União e os estados de Minas Gerais e o Espírito Santo”, disse a empresa.

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segunda-feira, 29 de abril de 2024

IA e as profissões no limbo

Meus colegas de limbo

Uma lista autorizada de profissões condenadas à morte juntamente com a dos escritores e jornalistas 

Ruy Castro, FSP, 28/04/2024

Todo dia alguém especula sobre quais profissões estão condenadas à extinção pela inteligência artificial. Em coluna recente ("A vida começa aos 500", 22/4), eu próprio arrisquei algumas: médico clínico, psicanalista, juiz (inclusive de futebol), piloto de aviação, engenheiro, professor, fotógrafo, ator. Todo mundo palpita, mas ninguém pode garantir que sua previsão se confirmará. O certo é que, seja qual for a previsão, por mais pessimista do ponto de vista dos candidatos à extinção, a realidade será ainda pior. Só a própria inteligência artificial é capaz de prever os seus próprios limites, se é que ela os tem.

Meu amigo Cristiano Grimaldi, engenheiro de software, resolveu ir direto à fonte. Perguntou à inteligência artificial que profissões se extinguirão por causa dela. E ela, sem pestanejar — por falta de pestanas, a IA ainda não consegue pestanejar —, listou 100 profissionais que em breve farão companhia no mercado aos pterodáctilos e tigres-de-dente-de-sabre. Eis alguns.

Operador de telemarketing. Auxiliar de escritório. Operador de máquinas de impressão. Digitador de dados. Assistente de Recursos Humanos. Assistente administrativo. Assistente jurídico. Assistente social. Analista de crédito. Analista de marketing. Analista de sistemas. Técnico em radiologia. Técnico em eletrônica. Técnico de laboratório. Técnico em eletricidade. Técnico em telecomunicações.

Recepcionista de hotel. Contador. Secretária. Agente de viagens. Corretor de imóveis. Artista plástico. Designer gráfico. Porteiro de prédio. Fisioterapeuta. Instrutor de academia. Auxiliar de farmácia. Motorista de táxi. Mecânico de automóveis. Vendedor de automóveis. Manobrista. Caixa de banco. Caixa de restaurante. Pizzaiolo (não me pergunte por quê). Etc.

Rapazes, foi bom trabalhar com vocês. Nos vemos no limbo — https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/01/ia-afetara-cerca-de-40-dos-empregos-do-mundo-diz-fmi.shtml porque jornalistas e escritores também se extinguirão.

Ilustração de Catarina Pignato 

A vida começa aos 500  

Mas não 500 anos à frente, como quer a inteligência artificial, e sim o contrário, muito melhor 

Ruy Castro, FSP, 21/04/2024

Ouvi dizer que, em 2045, a inteligência artificial fará com que uma pessoa viva até os 500 anos. É horripilante, mas não duvido. O que me pergunto é de que adiantará um sujeito viver até os 500 anos se, com a inteligência artificial, não lhe restará quase nada para fazer. Pelo que me contam, profissões como escritor, jornalista, psicanalista, juiz (inclusive de futebol), piloto de aviação, engenheiro, médico, bancário, professor, fotógrafo, ator e umas mil outras em breve estarão extintas por causa dela.

E, se vamos viver até os 500 anos, quando começarão as delícias da "melhor idade", como calvície, diabetes, impotência, artrose e demência? Aos 300 ou 350 anos? Sendo assim, ainda nos sobrarão 150 ou 200 para precisar de acompanhante, usar fralda e esquecer o próprio nome? Mal podemos esperar.

Se a inteligência artificial fosse mesmo a nosso favor, ela nos propiciaria, ao contrário, renascer 500 anos atrás e voltar aos poucos ao nosso tempo, presenciando o surgimento de muitas maravilhas. Eu, por exemplo, recuaria a 1448, ainda a tempo de pegar a invenção dos tipos móveis por Gutenberg, em 1450. Testemunharia a invenção do jornal, em 1605, dos óculos bifocais, em 1784, do apontador de lápis, em 1828, do daguerreótipo, pai da fotografia, em 1839, e da máquina de escrever, em 1843. Todos, artigos de primeira necessidade, pelo menos para mim.

E que anos, aqueles: 1844, do código Morse; 1846, das rotativas; 1867, dos clipes de papel. O ano de 1791 também foi incrível: são dele o sistema métrico, a guilhotina e, olha só, as dentaduras. E seria pândego ver a chegada da camisinha, em 1560, do saca-rolha, em 1795, dos fósforos, em 1844, e do chiclete, em 1848.

Infelizmente, veria também a do revólver, em 1835, do rifle automático, em 1860, e da dinamite, em 1866. Instrumentos da morte, eu sei, embora menos letais que a inteligência artificial.

......

IA afetará cerca de 40% dos empregos do mundo, diz FMI

Relatório do Fundo indica que metade dos empregos afetados pela IA será prejudicada, enquanto o restante pode se beneficiar 

14.jan.2024, FSP, Washington | AFP

A inteligência artificial (IA) afetará 60% dos empregos nas economias avançadas, afirmou a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, pouco antes de partir para o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

"As economias avançadas e alguns mercados emergentes verão 60% de seus empregos afetados", disse em uma entrevista em Washington, citando um novo relatório do Fundo Monetário Internacional sobre o assunto.

"E depois diminui para 40% para os mercados emergentes, 26% para os países de baixa renda", acrescentou, referindo-se ao relatório do FMI, que aponta que, globalmente, quase 40% do emprego mundial está exposto à IA.

O relatório indica que metade dos empregos afetados pela IA será prejudicada, enquanto o restante pode se beneficiar do aumento da produtividade devido à IA.

"Seu trabalho pode desaparecer completamente, o que não é bom, ou a inteligência artificial pode aprimorar seu trabalho, tornando-o mais produtivo e aumentando sua renda", explicou Georgieva à AFP.

Embora inicialmente a IA tenha um impacto menor nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, também é menos provável que se beneficiem das vantagens dessa nova tecnologia, de acordo com o FMI.

"Isso poderia agravar a lacuna digital e a disparidade de renda entre os países", continuou o relatório, acrescentando que os trabalhadores mais velhos provavelmente serão mais vulneráveis às mudanças causadas pela IA.

O FMI vê uma oportunidade significativa para as políticas abordarem essas preocupações, disse Georgieva à AFP.

"Devemos nos concentrar em ajudar os países de baixa renda, em particular, a agir mais rapidamente para aproveitar as oportunidades que a inteligência artificial apresentará", disse.

"Em outras palavras, abracem-na, está chegando", acrescentou. "Então, a inteligência artificial, sim, assusta um pouco. Mas também é uma tremenda oportunidade para todos".

....

ChatGPT: Veja profissões que vão bombar com inteligência artificial 

Vitoria Pereira, 23/02/2023, FSP

Sabe o ChatGPT, do qual todo mundo está falando? Ele pode ser seu colega de firma.

Isso mesmo, o sistema, que é baseado em inteligência artificial, permite conversar com um robô em um formato de chat em texto: a pessoa envia uma mensagem e ele responde.

A ferramenta ficou famosa por ser capaz de responder perguntas, conversar, organizar, resumir e escrever textos e por aí vai. Além disso, a qualidade de sua escrita parece humana.

Mas o que é inteligência artificial?

É a área da computação baseada em algoritmos que busca imitar e reproduzir o pensamento e o aprendizado humano para fazer tarefas complexas, podendo até tomar decisões.

Como ela aparece no dia a dia... em assistentes virtuais como Siri e Alexa, jogos eletrônicos, aplicativos de transporte como o Waze, e outra infinidade de coisas.

Quais profissões vão bombar usando inteligência artificial?

Desenvolvedor de software para usar a tecnologia em aplicativos ou sistemas;

Cientista de dados e engenheiro de dados para analisar e extrair informações;

Engenheiro de prompt para operar sistemas de inteligência artificial;

Profissionais híbridos, aqueles que entendem da sua área de formação e unem esse conhecimento com ciência de dados e inteligência artificial, afirma Arnóbio Morelix, CEO da Faculdade Sirius, especializada em tecnologia e focada em inteligência artificial.

Exemplo: profissional de finanças que faz modelos financeiros usando algoritmos ou profissional de vendas que usa a ciência de dados para melhorar seu desempenho.

Fiz essa mesma pergunta para o ChatGPT e ele acrescentou outras ocupações como:

Especialista em robótica para atuar em programação de robôs e integração de sistemas;

Especialista em desenvolver chatbots como o ChatGPT;

Especialista em segurança cibernética para detectar e prevenir ataques virtuais.

Dicas para ingressar nesse mercado:

Saber inglês é fundamental.

Ter raciocínio lógico. "É preciso fazer as perguntas corretas para conseguir as respostas que está procurando com a tecnologia", diz Guilherme Silveira, cofundador da Alura, ecossistema de aprendizado em tecnologia do Brasil.

Ter formação em matemática, engenharia da computação, ciência da computação ou física são alguns dos caminhos;

Há especializações ou pós-graduações focadas em inteligência artificial como na PUCRS, Alura, Faculdade Sirius e FIAP.

Entender fundamentos da computação como programação e sistemas operacionais, aconselha Michael da Costa Móra, professor da Escola Politécnica e coordenador do Centro de Inovação da PUC-RS. (...)



domingo, 28 de abril de 2024

Pílulas 18

 28/04/2024

Meu primeiro amor

Me parece natural que pessoas sejam capazes de desenvolver laços de afeto com árvores e animais. Eu estranho que alguém ache isso estranho

Por José Eduardo Agualusa, O Globo, 27/04/2024

 
A árvore Dipteryx hermetopascoaliana [1], encontrada em Alagoas — Foto: Divulgação / Jardim Botânico

Devia ter 8 ou 9 anos quando me apaixonei pela primeira vez. Um amor platônico. Ela era extremamente alta, recatada, do lar, e muito, muito calada — enfim, era uma árvore!

No caso, um abacateiro, que, como todos os abacateiros, era ao mesmo tempo uma abacateira. Chamei-lhe Júlia. A identidade não-binária dela/dele jamais afetou o nosso relacionamento. Alguns abacateiros, poucos, são capazes de autofecundação. Júlia não era. Como não havia abacateiros nas proximidades, ela/ele jamais frutificou. Para mim também isso não era um problema; para o meu pai, sim. Alguém lhe disse que deveríamos castigar o abacateiro:

— Uma boa surra, com uma vara de ferro, e logo ele estará dando belos abacates.

Então, o meu pai arranjou uma barra de ferro e espancou Júlia. Assisti ao castigo chorando e gritando, preso aos fortes braços da minha avó. A/o abacateira/o ficou com fundas cicatrizes no tronco — mas recusou-se a dar abacates.

Júlia foi uma das muitas vítimas da longa guerra civil angolana. Em 1992, a minha cidade natal, o Huambo, então ocupada pela guerrilha, foi bombardeada pela aviação governamental durante 55 dias. Uma das bombas atingiu a minha árvore. Logo vieram homens que a cortaram em pequenos pedaços e a transformaram em lenha.

Li “O meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos, mais ou menos na época em que me apaixonei pelo enorme abacateiro. Naturalmente, identifiquei-me com aquele menino, Zezé, que troca confidências com um pé de laranja lima.

Sempre me pareceu natural que algumas pessoas fossem capazes de desenvolver profundos laços de afeto com árvores e animais. Ainda hoje, o que me parece estranho é que alguém ache isso estranho.

Mia Couto — um grande escritor, e também um biólogo apaixonado —, gosta de lembrar que todos nós somos compostos por uma enorme percentagem de outros seres. O nosso corpo é composto de cerca de 30 trilhões de células humanas, e de 39 trilhões de micróbios. Estes micróbios desenvolveram-se conosco ao longo de dezenas de milhares de anos. Na verdade, evoluímos graças a eles. Nos tornamos humanos graças a eles. O correto funcionamento de muitos dos nossos processos fisiológicos mais complexos, incluindo alguns que influenciam aquilo a que chamamos “estados de alma”, como a alegria ou a melancolia, estão dependentes de redes conectadas de milhões de microrganismos.

Mais tarde ou mais cedo, todas as arrogantes filosofias que insistem em apartar os seres humanos da natureza acabam batendo com a cabeça na realidade: trazemos em nós, no nosso corpo, nos nossos genes, a infinita natureza. Somos, afinal, esses outros seres que, durante tanto tempo, vimos como inimigos.

Há muitos anos escrevi um conto para crianças sobre uma menina, Joaninha, que ambicionava ser maçã. Ao invés, foi professora a vida inteira. Foi tão boa professora, ajudou tanta gente, que quando morreu e se encontrou face a face com Deus este lhe disse: “Agora sim, Joaninha, mereces ser maçã”. E ela retornou à vida, na forma de uma macieira.

[1] Nova espécie de árvore, inédita na Mata Atlântica, é descoberta em Alagoas e batizada em homenagem a Hermeto Pascoal
Pesquisadores, que apresentam resultado do trabalho em evento nesta sexta, dizem que a espécie 'é símbolo de resistência da megadiversidade da Mata Atlântica'
Por Lucas Altino, O Globo, 21/10/2022
Uma nova espécie de árvore gigante, que pode chegar a até 30 metros de altura, foi descoberta na cidade de Branquinha (AL). Do gênero Dipteryx, que pertence à família das leguminosas, a árvore foi catalogada como "Dipteryx hermetopascoaliana", uma homenagem ao célebre compositor e multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal. A descoberta foi publicada na revista científica "Botanical Journal of the Linnean Society", no último dia 9.

Os pesquisadores encontraram a espécie em uma Área de Proteção Permanente (APP) dentro de uma propriedade particular, num resquício da Mata Atlântica. Como o bioma é o mais devastado do país - atualmente restam cerca de 10% da sua cobertura original - a hermetopascoaliana já nasceu considerada como uma espécie ameaçada.

Na propriedade, em um fragmento de floresta cercado de lavouras de cana-de-açúcar, foram encontradas uma árvore já adulta e duas jovens. A descoberta foi resultado da tese de doutorado da pesquisadora Catarina Silva de Carvalho, da Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBJR). O artigo ainda tem como coautores Haroldo Cavalcante de Lima e Domingos Cardoso, do JBRJ, Débora Zuanny, da Universidade Federal da Bahia, e Bernarda S. Gregório, da Universidade Estadual de Feira de Santana.
- Assim como Hermeto é símbolo de resistência da diversidade da cultura brasileira dentro do universo infinito do jazz, através de seu tempero nordestino e de natureza universal, sendo referência mundial, a árvore gigante Dipteryx hermetopascoaliana que catalogamos é símbolo de resistência da megadiversidade da Mata Atlântica - escreveram os autores da descberta.
O gênero Dipteryx é comum na Amazônia e no Cerrado, onde existem espécies como o cumaru e o baru, respectivamente. Já sua presença na Mata Atlântica é algo inédito, o que aumenta a importância da descoberta.
Nesta sexta-feira (21), às 14h, os pesquisadores farão uma apresentação sobre a nova espécie, em um painel da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece no Jardim Botânico até o próximo domingo (23). O evento é aberto ao público.

11/04/2024

Memórias de chumbo

Por Cid Benjamin e MyNews)

O MAIOR LÍDER NA RESISTÊNCIA CONTRA A DITADURA MILITAR: CONHEÇA A HISTÓRIA DE VLADIMIR PALMEIRA 

Vladmir Palmeira 

CONHECE A HISTÓRIA DO SEQUESTRO DO EMBAIXADOR DURANTE A DITADURA |FRANKLIN MARTINS CONTA TUDO 

Franklin Martins 

SAIBA A HISTÓRIA DO MILITANTE TROCADO PELO EMBAIXADOR SUÍÇO: JEAN MARCVAN DE WEID CONTA OS DETALHES  

Jean Marc Van de Weid 

SAIBA COMO FOI A LUTA PELA ANISTIA AOS PRESOS E PERSEGUIDOS NA DITADURA:ANA MULLER E JORGE EDUARDO 

DESCUBRA O USO DO FUTEBOL PELA DITADURA: AFONSINHO E JOÃO CARLOS PAQUETÁ CONTAM 

Afonsinho 

João Carlos Paquetá 

DESCUBRA O CONSERVADORISMO DA DITADURA E SUAS HIPOCRISIAS: JUCA KFOURICONTA TUDO - SEM CENSURA! 

Juca Kfouri 

VEJA OS MOTIVOS DOS MILITARES PARA O GOLPE DE 1964: MILTON TEMER 

Milton Temer 

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A última pessoa no mundo que conversou comCarmen Miranda.

Uma menina pede um autógrafo

Ninguém noticiou, mas morreu a última pessoa no mundo que falou com Carmen Miranda

Ruy Castro, FSP, 07/04/2024

Na noite de 5 de agosto de 1955, Carmen Miranda começou a subir as escadas de sua casa, em Los Angeles, e disse a seus convidados, todos brasileiros: "Macacada, vou dormir, mas ninguém vai embora. Fiquem aí dançando, bebendo e se divertindo". Uma menina, Sheila, 12 anos, filha de um dos presentes, o industrial Jackson Flores, estendeu-lhe uma foto: "Carmen, antes de dormir, pode me autografar esta foto?". "Claro, meu bem", ela respondeu. E assinou-a: "Carmen Miranda".

Carmen deu um boa-noite geral, subiu e foi direto ao lavabo para tirar a maquiagem —naquela tarde, filmara sua participação no programa de TV de Jimmy Durante, e os amigos em sua casa eram os que ela convidara para assistir à apresentação. Vestiu um rôbe, lavou o rosto e, no corredor, antes de chegar ao quarto, teve o enfarte fatal. Sem um som, seu corpo caiu sobre o carpete e só foi encontrado na manhã seguinte. Tinha 46 anos.

Sheila Carol Flores, a menina, guardou para sempre a foto autografada e só lamentou não ter pedido a Carmen que a datasse. Fizesse isto, ficaria comprovado que era o último autógrafo concedido por Carmen. Não que Sheila pretendesse leiloá-lo ou vendê-lo. Apenas queria ter a certeza de que tudo não passara de um sonho —ou pesadelo— adolescente.

Voltou para o Rio com seu pai, que, separando-se de sua mãe, casou-se com a Miss Brasil Adalgisa Colombo. Sheila, por sua vez, tornou-se modelo de passarela, trabalhou no Sheraton, casou-se com um publicitário e teve uma filha, Stephanie. Criou família, conquistou amigos, conheceu o high society. Mas o ponto máximo de sua vida lhe acontecera bem cedo, naquela noite de 1955.

Sheila morreu há dias no Rio, aos 81 anos. Nenhum jornal ou revista registrou sua morte. Normal: não era famosa. E ninguém tinha a obrigação de saber que, com ela, morria também a última pessoa no mundo que falara com Carmen Miranda.

 
Carmem Miranda ultima foto Reportagem de O Cruzeiro, de 1955, com a última foto de Carmen (abraçada a Jimmy Durante), e postais modernos sobre ela - Heloisa Seixas

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Filme lembra amor de Antonio Candido por Gildade Mello e Souza

Documentário de Eduardo Escorel, que está no É Tudo Verdade, trata de memórias literárias, velhice, amizades e tensão política

Naief Haddad, FSP, 06/04/2024

Embora tenha dirigido filmes como "Lição de Amor", lançado em 1975, Eduardo Escorel teve uma carreira, sobretudo, de montador dos anos 1960 à década de 1980, com participação em produções hoje tidas como clássicas, como "Terra em Transe", de 1967, e "Cabra Marcado para Morrer", de 40 anos atrás.

A partir de 1990, ele se dedicou principalmente à direção de documentários, voltados à história política do país, casos de "32 - A Guerra Civil", de 1993, e "1937-1945: Imagens do Estado Novo", de 2018, e às figuras renomadas da cultura brasileira, como "Deixa que Eu Falo", de 2007, sobre o cineasta Leon Hirszman

Escorel encontra a literatura no novo "Antonio Candido - Anotações Finais", exibido no É Tudo Verdade em São Paulo e no Rio de Janeiro. Um encontro em família, afinal, um dos maiores críticos literários do Brasil no século 20 era seu sogro –Escorel é casado com Ana Luisa, a mais velha das três filhas de Cândido e Gilda de Mello e Souza.

 
Antonio Candido em Bofete Antonio Candido em Bofete, no interior paulista, em 1948 durante pesquisa para o livro 'Os Parceiros do Rio Bonito', escrito originalmente como tese de doutorado - Divulgação

A partir dos 15 anos, Cândido começou a deixar anotações em cadernos, com observações sobre o cotidiano e reflexões a respeito dos mais variados assuntos. Os dois últimos volumes foram escritos de 2015 a 2017, quando o crítico morreu, aos 98 anos. O documentário se baseia em trechos desses cadernos derradeiros e inéditos.

Nesses escritos, não surgem formulações teóricas, como as feitas por Cândido em "Formação da Literatura Brasileira", sua obra mais influente. Livros e autores aparecem sob a chave afetiva, em geral relacionados à juventude do crítico.

"Apesar do meu constante apego à poesia desde menino, nenhum poema me causou a emoção que passa do cérebro ao corpo, mesmo quando abala e faz vibrar. Isso, salvo esquecimento, aconteceu sempre com a ficção narrativa, e em número restrito. Talvez o primeiro desses choques tenha sido causado em 1933, quando tinha 15 anos, pela leitura de ‘Os Miseráveis’", anotou.

Também vêm à tona questões políticas, como o impeachment de Dilma Rousseff —Candido foi um dos fundadores do PT. E ainda as tragédias sociais do país. "O alvo da luta social é, antes de mais nada, o negro, o grande excluído ainda hoje. A solução obnubilada foi, depois da abolição, descartá-lo em vez de incorporá-lo", escreveu. "A verdade é que fracassamos, não soubemos ver o que olhávamos."

A leitura dos trechos por Matheus Nachtergaele se dá na medida certa. É precisa, mas não fria; eloquente sem jamais soar histriônica.

O ator não está em cena, apenas sua voz. O filme é composto por imagens do apartamento em São Paulo onde Candido e Mello e Souza viviam e das ruas do entorno, onde ele fazia suas caminhadas cada vez mais curtas àquela altura. Há ainda fotos de diferentes fases da vida, especialmente da infância e da juventude. No "apagar da vida", como diz, as reminiscências vão longe, em busca do rapaz que ele havia sido.

À primeira vista, as imagens, enganosamente discretas, estão a serviço do texto narrado por Nachtergaele. Não é bem assim. Na verdade, os sentidos se acumulam em camadas, criando novas leituras.

É o que acontece, por exemplo, nas referências a Mello e Souza, que morreu em 2005, 12 anos antes do marido. A professora da Universidade de São Paulo e ensaísta está presente nas passagens mais ternas. "Ter vivido mais de 60 anos com ela me parece a justificação de minha vida e, provavelmente, um imerecido prêmio que me coube."

Em momentos como esse, vemos retratos de Mello e Souza ou imagens do casal sem gestos expressivos de afeto. Por quê? Aos olhos deles, dois intelectuais de prestígio, a câmera pedia comedimento? Ou era timidez? Não sabemos, mas a justaposição de som e imagem nesse caso estabelece mais contraste do que reiteração.

 
Gilda de Mello A ensaísta Gilda de Mello e Souza em foto feita pelo cantor João Gilberto em 1968, nos EUA - Divulgação

"Antonio Candido - Anotações Finais" trata das memórias literárias, da velhice, das amizades da juventude, das tensões sociais e políticas. Mais do que tudo isso, talvez seja um filme sobre o amor de Antonio Candido por Mello e Souza, um sentimento que, neste caso, as palavras se atrevem a traduzir, mas as imagens não.

Escrevendo às filhas, ele disse "nos últimos dias, tenho pensado nela [Mello e Souza] com intensidade, como num surto de felicidade perdida que desvenda uma espécie de privação insuportável, de injusta mutilação". "Sinto então a mãe de vocês tão próxima que dá vontade de chamá-la e perguntar, crispado: por que se foi?"

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Fernando Bonassi - Encontros de Interrogação(2011) 

Fernando Bonassi 

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Lygia Fagundes Telles: um século de históriasda dama da literatura brasileira

Imortal da ABL, escritora colecionou 'causos' com Simone de Beauvoir, William Faulkner e Jorge Luís Borges

BBC News Brasil, 18/04/2023

Lygia Fagundes Telles adorava viajar. Mas, aparente contradição, detestava aviões.

"Por que estou sempre metida em algum deles?", queixou-se à escritora Clarice Lispector, durante voo para a Colômbia, em 1974.

 
Lygia Escritora Lygia Fagundes Telles em 1964 - Folhapress
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Foto do perfil de daniel.taddone (03/04/2022)

Lygia Fagundes Telles (1918-2022)

Hoje morreu Lygia Fagundes Telles. E sua genealogia nos mostra que a grande escritora guardava um segredo: ela era 5 anos mais velha do que dizia!

Partiu hoje aos 103 anos e não aos 98 anos como todos os meios de comunicação e até a Academia Brasileira de Letras imaginam...

Lygia foi registrada no cartório de registro civil de Santa Cecília (São Paulo SP) em 23 de abril de 1918 com 4 dias de idade. Poucos dias depois foi batizada na paróquia da Consolação em 3 de maio de 1918.

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As duas eram convidadas de um congresso de literatura hispano-americana, em Cali. Para disfarçar o nervosismo, abriu um jornal e fingiu ler algumas notícias.

Não adiantou. Sentada na poltrona ao lado, Clarice esboçou um sorriso e tranquilizou a amiga. "Lyginha, minha cartomante já avisou que não vou morrer em nenhum desastre!"

Em terra firme, as duas logo se entediaram com o evento literário. "Essa gente fala demais!", reclamou Clarice, ucraniana naturalizada brasileira.

Terminada a apresentação, foram às compras. Na volta, passaram pelo bar do hotel. Lygia pediu vinho e Clarice, champanhe. "Na saída, precisávamos mascar chiclete porque nossos bafos estavam péssimos!", recordou Lygia, aos risos, em entrevista ao jornal O Globo, de 15 de outubro de 2011.

O medo de voar não a impediu de conhecer dezenas de países. Com o segundo marido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, visitou o Irã, em 1968.

Convidada do Festival Internacional de Cinema, descobriu, durante visita ao túmulo do rei Ciro, da Pérsia, que a Pasárgada do poeta Manuel Bandeira não era uma invenção poética. "Sou um horror em geografia", admitiu, em 2013.

 
Lygia A escritora Lygia Fagundes Telles, durante a pré-estréia de seu longa 'Lygia, Uma Escritora Brasileira', do diretor Hélio Goldsztejn, no espaço Itaú de Cinema, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress

Com os escritores Ivan Ângelo e Ignácio de Loyola Brandão, viajou para Nova York em 1982. Foram divulgar "As Meninas, Zero" e "A Festa", recém-traduzidos para o inglês.

Entre um compromisso e outro, gravaram reportagem para a TV brasileira no Rockefeller Center.

Na hora em que Ivan Ângelo concedia entrevista, alguém da multidão quis saber quem era. "Paul Newman!", improvisou Lygia, moleca. A notícia logo se espalhou. "Faziam fila para autógrafos", relatou o suposto sósia do galã ao "Cadernos de Literatura Brasileira". "E ela ria, ria..."

"Em Berlim, ao ver que João Ubaldo Ribeiro tinha comprado caixas de uma 'vitamina milagrosa', exigiu que ele a levasse à farmácia para comprar um lote. 'Preciso estar pronta para envelhecer', dizia. Se alguém do grupo fizesse uma compra, ficava enciumada. Era preciso levá-la ao mesmo lugar. Grandes pessoas têm pequenas idiossincrasias", afirma o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão. "A grande dama da literatura era uma mulher simples, low-profile, sem pose. Talvez soubesse que era grande. E ponto."

Não gostava de comemorar aniversário

Lygia Fagundes Telles ainda se chamava Lygia de Azevedo Fagundes —só se casou com o advogado Goffredo da Silva Telles Júnior, em 1950— quando prometeu a si mesma escrever no mínimo dez obras, entrar para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e ter um busto na Praça da República, ao lado da escultura de Álvares de Azevedo.

Dos três sonhos de infância, realizou dois: publicou mais de 20 obras e, por 32 votos a sete, foi eleita para a cadeira 16 da ABL em 24 de outubro de 1985.

Foi mais ou menos nesta época que Lygia tomou ranço de aniversário. Quando tinha 10 anos, sua mãe, a pianista Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, a Zazita, preparou uma festa linda. Ninguém apareceu. Também, pudera. A aniversariante esqueceu de entregar os convites...

"Aniversário é uma data boa quando se é jovem. Depois da velhice brutal, não quero mais!", desabafou ao Globo, em 12 de abril de 2013. Depois de sua morte, descobriu-se que Lygia Fagundes Telles não nasceu em 19 de abril de 1923. Nasceu cinco anos antes: em 19 de abril de 1918.

"Quando Lygia nasceu, todas as fadas se debruçaram sobre seu berço. Era uma mulher linda, inteligente, excelente escritora e um senso de humor formidável. Tinha o coração do lado certo. Sempre defendeu as boas causas. Era um orgulho ter o mesmo passaporte dela", exalta a escritora e acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira que, no dia 31 de outubro, vai fazer uma palestra na ABL em homenagem ao centenário da amiga.

"Sua maior contribuição à literatura brasileira foi ela mesma. Nunca foi uma militante. Mas influenciou as mulheres que a leram. Lygia não criava personagens. Criava pessoas. Sou muito grata a Lygia por todas as reflexões que despertou em mim."

'O grande amor de sua vida foi seu trabalho'

O número de livros publicados só não é maior porque ela rejeitava os três primeiros, de contos: "Porão e Sobrado", de 1938; "Praia Viva", de 1944; e "O Cacto Vermelho", de 1949, que classifica como "imaturos" e "precipitados".

Lygia começou a escrever muito cedo, quando cursava o antigo ginásio no Instituto Caetano de Campos, em São Paulo. Seu primeiro livro foi publicado com recursos do pai, o advogado Durval de Azevedo Fagundes. "Fico aflita só de pensar nas novas gerações lendo esses meus livros. Não quero que percam tempo com eles!", afirmou, em 1998.

Do pai, Lygia dizia ter herdado "o vício do risco". Com uma diferença: ele jogava com fichas; ela, com palavras. "Hoje, perdemos, mas amanhã a gente ganha", costumava repetir. Certo dia, Durval perdeu tudo na roleta. Por essa razão, Lygia criou verdadeiro pavor da instabilidade econômica. Conclusão: concluiu duas faculdades: a de Educação Física, em 1941, e de Direito, em 1946, ambas na Universidade de São Paulo (USP).

Para o crítico Antonio Cândido, a fase "madura" de sua obra teve início em 1954, com "Ciranda de Pedra". É o primeiro de seus quatro romances. Os outros são "Verão no Aquário", de 1964; "As Meninas", de 1973; e "As Horas Nuas", de 1989. "Ciranda de Pedra" ganhou duas adaptações para a TV: em 1981, adaptado por Teixeira Filho, e em 2008, por Alcides Nogueira.

"No livro, não há um só casamento; na novela, arrumaram dez! Eu via aquilo e falava: 'Oh, meu Deus, outro casamento!?'", espanta-se, referindo-se à primeira versão.

Quem também gostou de seu romance de estreia foi Simone de Beauvoir. As duas se conheceram em São Paulo em almoço oferecido pelo editor Barros Martins em 1960. Às vésperas de regressar a Paris, a francesa marcou um encontro em uma livraria.

Queria presentear a brasileira com um exemplar de "Todos os Homens São Mortais", de 1946.

Em retribuição, Lygia ofereceu uma cópia — datilografada e em francês — de "Ciranda de Pedra".

Dias depois, Lygia recebeu uma carta que a deixou "em estado de graça". "Não só lera o livro como se apressara em alegrar o coração de uma escritora brasileira que passou esse dia levitando", derrete-se em crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 8 de janeiro de 1978. "Lygia trabalhou muito, durante toda sua vida, até os últimos anos. Posso dizer que o grande amor de sua vida foi seu trabalho", garante sua neta, Lúcia Telles, filha de Goffredo da Silva Telles Neto.

"Quando meu pai morreu, escreveu 'Conspiração de Nuvens' para afastar a depressão."

"Minhas primeiras memórias com ela são em seu apartamento: os gatos, a máquina de escrever, recortes de jornais com os crimes que a interessavam... Quando eu era pequena, contava histórias de terror e mistério. Lia Edgar Allan Poe para mim e eu adorava. Adoro até hoje. Sinto uma falta enorme dela."

Foi a Brasília protestar contra a censura

Quando colocou o ponto final em "As Meninas", Lygia caiu no choro. Chegava ao fim uma "convivência encantadora". Uma das protagonistas chegou a "suplicar para que não a matasse". "Ainda tenho muito o que dizer", protestava Ana Clara. "Não posso morrer agora". Lygia não conseguiu salvá-la: morreu por overdose.

Em 1976, Lygia foi a Brasília, acompanhada por outros intelectuais, como a escritora Nélida Piñon, entregar ao ministro da Justiça, Armando Falcão, um manifesto contra a censura.

Passado algum tempo, Paulo Emílio chegou em casa rindo. Soube que o censor encarregado de ler "As Meninas" não conseguiu passar da página 40. "Achou tudo muito chato", explicou a autora, em 2009.

Sorte a dela. Nas páginas 148 e 149, reproduz um doloroso relato de tortura. O romance ganhou quatro versões: três para o teatro e uma para o cinema.

No filme de Emiliano Ribeiro, Lorena, Lia e Ana Clara foram interpretadas por Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz.

 
Lygia Lygia Fagundes Telles - Arquivo Nacional

"Uma série de autoras contemporâneas que dedicaram obras ao período da ditadura militar poderiam ser netas da Lygia. Não posso afirmar que todas a leram, mas, de todo modo, se juntam a Lygia nessas páginas de nossa história literária como um alerta do que não pode ser esquecido por todos nós, como coletividade, mas sem apagar os caminhos mais interiores, mas ressaltá-los", afirma a pesquisadora Luciana Araújo Marques que, no próximo dia 19, vai mediar, às 20h, na livraria Gato sem Rabo (SP), um bate-papo com as escritoras Andréa del Fuego e Aline Bei sobre o legado da aniversariante do dia.

"Para mim, essas escritoras agem como guerrilheiras da negação da morte. Talvez menos em um sentido de eternidade e da monumentalização do que é tido como 'o que fica' e é 'canonizado', e mais como uma exaltação da vida contra tudo o que mata antes da hora de morrer."

'O que diabos eu vim fazer em Chicago?'

Além da francesa Simone de Beauvoir, Lygia conheceu outros gigantes da literatura universal: o americano William Faulkner e o argentino Jorge Luís Borges.

Faulkner, Nobel de Literatura, esteve em São Paulo entre os dias 8 e 14 de agosto de 1954 para participar do I Congresso Internacional de Escritores. Durante sua estadia, experimentou camarão à baiana, espantou-se com uma sucuri de oito metros e deitou-se no chão do Museu de Arte de São Paulo (Masp) para aliviar as dores nas costas.

"Chegou meio fora de órbita", contou Lygia ao jornal Folha de S.Paulo, de 14 de setembro de 1997. "Estava sempre com o cabelo molhado. Creio que para ficar desperto, devido ao excesso de álcool."

Hospedado no Esplanada, Faulkner conheceu Lygia no Butantan. Os dois foram apresentados pelo crítico Mário da Silva Brito. "Se os seus contos forem tão belos quanto seus olhos, a senhora, certamente, é uma grande escritora", elogiou. Nessa hora, Brito cochichou para Lígia: "Não se esqueça de colocar esse comentário na orelha do seu próximo livro. É o único que Faulkner conseguiu fazer a respeito da literatura brasileira".

Ao se despedir, já na fila de embarque do Congonhas, o visitante perguntou: "O que diabos eu vim fazer mesmo em Chicago?"

'A literatura é uma forma de amor'

Trinta anos depois, reencontrou um velho amigo, Jorge Luís Borges, que conheceu em 1960. Em um jantar, o escritor argentino falou da importância do sonho. "Tenho um amigo que morreu quando deixou de sonhar", advertiu. "No exato momento em que mencionou seu nome, alguém deixou cair uma taça e não consegui ouvir", recordou Lygia, em 2009.

Anos depois, a escritora leu o conto "Uma Estação de Amor" e decifrou o mistério: o tal amigo suicida era o uruguaio Horacio Quiroga. "Gravemente doente e sem esperança, suicidou-se com cianureto", conta no livro "Durante Aquele Estranho Chá", de 2002.

Na entrevista ao "Cadernos de Literatura Brasileira", Lygia lembra da ocasião em que, na década de 1970, recebeu o telefonema de um rapaz dizendo que, por causa de seus livros, não queria mais tirar a própria vida. Lá pelas tantas, emocionada, a escritora perguntou: "O que eu posso fazer por você?". O leitor respondeu: "A senhora já fez". E desligou.

"Fico relendo meus textos, procurando, procurando, qual a palavra, meu Deus, qual a palavra que foi capaz daquilo? Nunca vou saber", divagou, em 1998. "No fundo, a literatura é uma forma de amor", concluiu.

"Era uma mulher à frente de seu tempo. Tinha forte preocupação com o papel social da mulher. Debater sua contribuição à literatura é tarefa dos acadêmicos. Queremos enfatizar sua contribuição humanista. Às vezes, nos preocupamos tanto em estudar uma obra que esquecemos da pessoa incrível que criou aquela obra", afirma a jornalista Rachel Valença, coordenadora de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS) que, desde 2002, guarda o acervo da escritora, composto de cartas, originais, fotografias e até da Olivetti que ganhou de Paulo Emílio na Itália.

No dia 11 de maio, o IMS organiza uma mesa de debates, com participação da acadêmica Ana Maria Machado, a agente literária Lúcia Riff e a pesquisadora Elizama Almeida, na ABL

Foi indicada ao Nobel em 2016

Avessa a autobiografias, Lygia lançou três livros de memórias: "Invenção e Memória", de 2000; "Durante Aquele Estranho Chá", de 2002, e "Conspiração de Nuvens", de 2007.

No segundo volume, esmiúça, entre outras histórias, a visita que fez a Monteiro Lobato no presídio Tiradentes em 1941 —o criador do Sítio do Picapau Amarelo fora preso por criticar o Estado Novo— e o encontro com o poeta modernista Mário de Andrade na confeitaria Vienense, na rua Barão de Itapetininga, em 1944.

 
Lygia Lygia Fagundes Telles durante cerimônia de posse do ator Juca de Oliveira, na Academia Brasileira de Letras - Bruno Poletti/Folhapress

"Se eu tivesse pernas tão lindas, ia lá pensar em literatura?", foi obrigada a ouvir em uma das vezes em que esbarrou com Monteiro Lobato.

No estranho chá com o autor de "Macunaíma", a jovem estudante de Direito com aspiração literária saiu da confeitaria com uma carta. O que Mário de Andrade teria achado de seus escritos? Nunca saberemos... "No dia seguinte, na maior emoção, levei a carta para exibi-la a dois colegas da Faculdade. Mas, acabei por perdê-la numa das salas de aula e nunca mais", lamentou na crônica que dá título ao livro.

Dos 16 livros publicados pela Companhia das Letras, onze são de contos. Apenas um, "Passaporte para a China", é de crônicas — a pedido de Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora, escreveu impressões sobre uma viagem de 20 dias a Pequim e Shanghai em 1960. "Tentei fazer poesia quando estava na Faculdade de Direito. Mas logo percebi que era apenas um apelo de juventude", reconheceu ao "Cadernos de Literatura Brasileira".

Só Jabuti, o mais importante prêmio literário brasileiro, foram quatro: "O Jardim Selvagem", de 1966; "As Meninas", de 1973; "A Noite Escura e Mais Eu", de 1996, e "Invenção e Memória", de 2001. Em 2005, levou para casa o Camões, o "Nobel" da Língua Portuguesa. Em 2016, teve seu nome indicado ao Nobel de Literatura. Perdeu a honraria para o cantor e compositor americano Bob Dylan.

"Era minha vizinha no Jardins. Quando caminhávamos pelo bairro, abraçava as árvores, brincava com os animais... Também íamos ao cinema. Comentava o filme em voz alta. Às vezes, isso gerava um 'psiu' dos outros espectadores", relata o escritor e acadêmico José Renato Nalini.

"Também gostava de conversar ao telefone. Lia seus contos e pedia minha opinião. O que me desvanecia. Tínhamos em casa uma poodle que era avessa a humanos. Mas, quando Lygia chegava, pulava no seu colo. Ficava extasiada. Sinto imensa falta de Lygia, a amiga, mais do que a imortal."

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Dias Perfeitos, O Céu de Lisboa e Buena Vista Social Club

Hirayama (interpretado por Koji Yakusho, que venceu o prêmio de melhor ator no Festival de Cinema de Cannes de 2023) é a personagem central de "Dias perfeitos". O filme narra sua rotina incessante como funcionádio público da limpeza de sanitários em Tokio. No tempo livre, explora seus hobbies: ler, ouvir música e fotografar. Wim Wenders na flor de sua sensibilidade e até poesia. Os passeios em Tóquio e a fixação dos japoneses com a limpeza. O espaço, as relações e a linguagem: mascas de Wenders. A destacar o jogo da velha com uma pessoa incógnita no interior de um sanitário; o encontro com a sobrinha e a cena numa loja de discos e fitas cassete.

Dias Perfeitos, Perfect Days, 2023, Wim Wenders

As músicas do filme

Velvet Underground - Pale Blue Eyes 

Dias perfeitos,2023, soundtrack 

Assintindo Dias perfeitos me lembrei de dois outros filmes do mesmo diretor. Têm em comum o espaço, o road movie e a música

1. O Céu de Lisboa, Lisbon Story, 1994

Madredeus - Lisbon Story - Guitarra

MADREDEUS - Moro Em Lisboa  

2. Buena Vista Social Club

Buena Vista Social Club Full Album

16/04/24

Sermão do 4° domingo da Ascensão - Padre Antônio Vieira

" A mim, a imagem dos meus pecados me comove muito mais que essa imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado eu sou levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou. Diante da imagem dos meus pecados é que eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me vendi. Por ver que Deus me compra com todo o seu sangue, eu sou levado a pensar que eu sou muito, que eu valho muito. Mas quando noto que eu me vendo pelos nadas do mundo, aí eu vejo que eu sou nada. Eu valho nada."

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Viva o Brasil

Ninguém nos supera em faculdades de direito, farmácias, batata frita e peitos e bundas inflados

Ruy Castro, FSP, 25/04/2024

Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o jurista Miguel Reale Jr. disse que o Brasil tem 1.240 faculdades de direito —"mais do que a soma de todos os cursos de direito do mundo". De queixo caído, fiz meus cálculos. Se cada uma dessas faculdades formar 50 advogados por ano, teremos 62.200 novos advogados anualmente no mercado. Some-os aos já existentes e, por mais que os nossos cidadãos se agridam, estuprem e matem alegremente uns aos outros, e não falte a quem acusar ou defender, a maioria dos advogados deve ter muito tempo livre.

Segundo o IBGE, o Brasil tem 5.570 municípios, muitos dos quais só existem como municípios para sustentar um prefeito e os vereadores. Pois nada impede que alguns desses municípios tenham uma faculdade de direito. Quantos de seus advogados aprenderão latim para dizer "causa mortis", "mutatis mutandis" e, quem sabe, "quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?".

O Brasil deve ser também o país com mais farmácias do mundo —média de três ou quatro por quarteirão nas grandes cidades —, embora isso não nos torne um país saudável. Da mesma forma, nenhum país tem mais bancos, supermercados, shoppings, McDonalds e lojas de colchões. Nenhum consome mais alimentos ultraprocessados, porcarias pré-prontas, refrigerantes diet, biscoitos industrializados e batata frita.

Nenhum país faz mais cirurgias plásticas, bariátricas e íntimas. Nenhum nos supera em toneladas de peitos e bundas inflados. E em nenhum se faz tanta dieta —a quantidade de quilos perdidos anualmente pela população bate na casa dos bilhões. Mas, nesse caso, nada se perde porque, em pouco tempo, eles voltam, um por um. Nenhuma criança passa mais horas por dia olhando para o celular do que as nossas.

Em compensação, poucos países têm menos bibliotecas, livrarias, teatros, salas de concerto, museus, galerias e escolas de dança do que o Brasil. Viva o Brasil.

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Universidades veem proposta 'ofensiva' do governo Lula e ampliam greve

Ana Paula Bimbati, Do UOL, em São Paulo, 26/04/2024

Os sindicatos que representam professores e servidores técnico-administrativos das universidades e institutos federais anunciaram que a greve continua.

O que aconteceu

Ao menos nove universidades federais devem aderir à paralisação na próxima semana, afirmou Gustavo Seferian, presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). A Unifesp, em São Paulo, é uma das instituições, além da Ufal, em Alagoas, e a UFBA, na Bahia.

Já o número de campi dos institutos federais parados chegou a 550 no início da tarde desta sexta (26). Segundo David Lobão, coordenador nacional do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), no total existem 687 campi espalhados pelo país.

Aumento de instituições paradas ocorre após o movimento grevista rejeitar a proposta do governo Lula (PT). Representantes do MEC (Ministério da Educação) e da pasta de Gestão e Inovação apresentaram, na semana passada, uma proposta de 9% de reajuste aos professores e 9,5% aos servidores em 2025 — mantendo assim em 0% o aumento para esse ano. Para 2026, seriam 3,5% para ambas as categorias.

Categorias definiram a reunião com o governo como "decepcionante". "A proposta foi tão ofensiva às nossas expectativas que ocorreu um crescimento da greve, vários campi que não tinham aderido agora aderiram", disse Lobão, que também é professor de matemática do IFPB (Instituto Federal da Paraíba).

A Andifes (associação que reúne os reitores das universidades federais) afirmou à reportagem que 22 instituições estão em greve no momento. Outras 12 estão com indicativo para paralisação aprovado e 16 já decidiram que não vão aderir. Em 17 universidades ainda haverá assembleia para decidir sobre o movimento, afirma o grupo.

O UOL procurou o MEC, que disse ter encaminhado os questionamentos ao MGI (Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos). Não houve respostas até a publicação deste texto.

A greve teve início em 2 de abril por parte dos professores, mas ganhou força em 15 de abril. A categoria técnico-administrativa começou a paralisação no mês passado, em 18 de março.

O que disseram

A educação é dita nos discursos do governo como algo que é prioridade, mas colocam muitas dificuldades para atender nossas reivindicações. David Lobão, coordenador nacional do Sinasefe

O zero para 2024 segue sendo um acinte à categoria, ainda que tenhamos percebido que a mobilização grevista em uma crescente massiva tenha feito o governo se movimentar em sua inflexibilidade na lida com o orçamento, abocanhado pelo rentismo. Gustavo Seferian, presidente do Andes e professor da  UFMG

Quais são as reivindicações

Os professores reivindicam reajuste salarial de 22% dividido pelos próximos três anos — 7,06% em cada, começando em 2024. Já os servidores técnico-administrativos pedem por um aumento de 34%, também dividido no mesmo período de tempo.

As categorias também pedem reestruturação da carreira e um "revogaço" de leis dos últimos governos. Segundo o presidente do Andes, o governo não deu atenção a reorganização de carreira e deixou "escanteados os aposentados e aposentadas, que não vão ter qualquer espécie de acrescimento na sua renda nesse ano".

Os servidores também pedem a recomposição do orçamento de investimento na rede federal de ensino. No primeiro ano do governo Lula, as instituições tiveram um aumento no orçamento comparado a 2022, mas este ano a verba minguou — as instituições afirmam que precisam de R$ 2,5 bilhões a mais nas contas para fecharem o ano.

Segundo a reportagem apurou, o tema não avançou nas negociações do governo com os movimentos grevistas

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Palestina

ENTENDA a HISTÓRIA COMPLETA da PALESTINA

O QUE O HAMAS TEM A VER COM OS CONFLITOS EM ISRAEL? - MAYNARA E UALID |Cortes

O ESTADO PALESTINO FOI PROMETIDO PELOS INGLESES - MAYNARA E UALID | Cortes 

COMO FUNCIONA A FAIXA DE GAZA? - MAYNARA E UALID | Cortes do Inteligência Ltda. 

COMO AS MULHERES SÃO TRATADAS NA PALESTINA? - MAYNARA E UALID | Cortes do Inteligência Ltda. 

MAYNARA NAFE E UALID RABAH (DEFENSORES DA CAUSA PALESTINA) - Inteligência Ltda. Podcast  

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Alexander Pushkin e Nikolai Gogol roubados

Sai original, entra falsificado: quadrilha roubou 170 livros raros

UOL, 28/04/2024

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/04/28/roubo-livro-europa.htm

Uma quadrilha foi presa sob acusação de roubar pelo menos 170 livros raros de bibliotecas europeias. A Europol (agência policial da União Europeia) diz que os suspeitos usaram um sofisticado esquema de "clonagem", trocando os originais por cópias falsificadas. O prejuízo é estimado em 2,5 milhões de euros (cerca de R$ 14 milhões).

O que aconteceu

Sete suspeitos foram presos na última quarta-feira (24) em diferentes países europeus. Quatro estavam na Geórgia, um na Estônia, um na França e um na Lituânia. Outras duas pessoas supostamente ligadas ao esquema estão presas desde novembro do ano passado na França. Todos são cidadãos da Geórgia.

Pelo menos 170 livros foram roubados pela quadrilha entre 2022 e 2023, segunda a Europol. Além do prejuízo milionário, a polícia europeia cita que alguns livros roubados têm um "valor patrimonial imensurável".

Os roubos foram cometidos na República Checa, Finlândia, Estônia, Suíça, Polônia, França, Alemanha e Lituânia. A França foi a primeira a denunciar. Na sequência, outros países repararam que livros e manuscritos raros haviam desaparecido.

Os suspeitos chegaram a se passar por acadêmicos para retirar os livros raros das bibliotecas. Com os objetos em mãos, faziam cópias de "qualidade impressionante".

Depois, voltavam à biblioteca para devolver a cópia falsificada e ficavam com o verdadeiro.

A quadrilha também roubou livros sem deixar cópias no lugar.

Maioria dos títulos roubados era de autores russos. Entre os autores estão Alexander Pushkin e Nikolai Gogol.

Títulos eram revendidos em leilões realizados na Rússia. Isso, segundo a Europol, torna os livros praticamente impossíveis de se recuperar.